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Marechal Agricultura

Estiagem não afeta produtividade da mandioca no Oeste

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Mesmo com o clima seco e a falta de água no solo, mandiocultura se mantém firme e espera resultados positivos para a safra 2019/2020. Uma das situações que chamou a atenção recentemente foi a incidência de insetos sugadores nas plantações, atípica para a região. Situação foi controlada com aplicação de inseticidas (Foto: Divulgação)

A estiagem histórica que o Paraná enfrenta, com dez meses sem precipitações significativas, tem deixado os produtores rurais da região Oeste em estado de alerta.

Contudo, se para algumas culturas as chuvas são fundamentais em todas as fases, para outras a seca não é tão agressiva e pode até trazer aspectos positivos para a produção. É o caso da mandiocultura.

A mandioca, de acordo com o técnico agrícola da Agrícola Horizonte e Horizonte Amidos e membro do conselho técnico da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca (Atimop), Sigmar Herpich, é uma cultura tolerante à estiagem, porém a falta de água compromete a produtividade da planta, uma vez que ela precisa de água para absorver os nutrientes do solo.

Ele explica que o sistema radicular da planta a auxilia na busca por água no solo. “O sistema radicular das raízes absorventes da mandioca atingem facilmente de 2,5 a três metros de profundidade. As raízes fininhas descem nessa profundidade para buscar nutrientes, então ela tem um sistema radicular bastante agressivo quanto à busca de nutrientes e água”, comenta.

Membro do conselho técnico da Atimop e técnico agrícola da Agrícola Horizonte e Horizonte Amidos, Sigmar Herpich: “Por um lado nós tivemos um pouco de perda em decorrência da seca, mas, por outro, a não presença de doenças faz com que a cultura expresse um bom nível de produtividade” (Foto: O Presente)

 

CONTROLE DE DOENÇAS

Se por um lado o clima seco traz perdas na produção por falta de água, por outro há ganhos, como a falta de doenças. “Nós não tivemos um clima adequado para que ocorressem doenças na cultura da mandioca”, expõe Herpich.

Conforme ele, para que haja doença na plantação são necessárias três situações. “Uma delas é o patógeno, que muitas vezes já está presente no ambiente, seja ele um fungo, bactéria ou vírus. Além disso, esse patógeno precisa de um hospedeiro, que no caso é a mandioca, e por último, para que a doença atinja a planta, é necessário o clima favorável”, detalha, acrescentando: “A seca é um clima desfavorável para a grande maioria das doenças que atingem os vegetais e principalmente a cultura da mandioca, então estamos tendo um ano com plantas com uma sanidade muito boa, expressando melhor o potencial produtivo. Se por um lado nós tivemos um pouco de perda em decorrência da seca, por outro não há presença de doenças permitindo que a cultura expresse um bom nível de produtividade”.

Apesar de as doenças que atingem a planta terem diminuído com o clima seco, o técnico agrícola relata que no final do mês de abril e início de maio está ocorrendo uma incidência de insetos sugadores nas plantações de mandioca, que não são comuns para a região. “São mais comuns na região Nordeste, que possui um ambiente mais seco. Mas, este ano, tivemos alguns problemas, embora sejam pontuais, com insetos sugadores. Poucas vezes tivemos a necessidade de fazer aplicação de inseticidas para conter essa praga”, salienta.

Herpich menciona que em anos de chuvas regulares, as perdas por doenças chegam a cerca de 5%. “Sempre existe alguma perda, e eu acho que essa perda que tivemos em função da falta de chuvas foi compensada pela sanidade espetacular que as plantas estão apresentando”, evidencia.

 

UM E DOIS CICLOS

A mandioca pode ser cultivada em um ou dois ciclos. Normalmente ela é plantada no inverno, no período de agosto até outubro. “Quando ela é colhida no ano seguinte à plantação, ela é de um ciclo. A mandioca é considerada de dois ciclos quando fica dois anos na lavoura”, explica o conselheiro da Atimop.

Ele pontua que normalmente a produtividade da mandioca dobra quando cultivada para dois ciclos. “A colheita de dois ciclos diminui os custos de plantio, colheita e preparação de solo. O custo de controle de plantas daninhas é mais baixo, porque a raiz já está bem desenvolvida, com uma estrutura muito boa, e com a base feita ela brota muito mais rápido. É vantajoso deixar para dois ciclos quando o produtor não precisa do dinheiro, mas nem sempre isso é possível”, pontua.

 

ESTIMATIVA DE COLHEITA

No Paraná, a safra 2019/2020 de mandioca está estimada em 141,6 mil hectares.

“Acredito em uma produtividade por alqueire muito boa. Normalmente nós temos na nossa região em torno de 55 a 60 toneladas por alqueire, e creio que este ano se aproxime de 60. A mandioca de um ciclo que é colhida a partir de dez meses, até 14 meses, em torno de 60 toneladas por alqueire, e a mandioca de dois ciclos que está sendo colhida já, que consideramos de 18 a 20 meses vem apresentando boa produtividade, tendo uma média de 100 a 110 toneladas por alqueire”, enfatiza, exemplificado que no distrito rondonense de Porto Mendes um produtor de mandioca atingiu o marco de 125 toneladas por alqueire, com uma área plantada de sete alqueires.

 

NÚMERO DE PRODUTORES

O município de Marechal Cândido Rondon tem cerca de 200 produtores de mandioca, informa o conselheiro da Atimop. “Comparando com uns três anos atrás, esse número diminuiu uns 30%. O que nós vemos é que a mandioca hoje ainda emprega muita mão de obra na colheita, tendo vários grupos de pessoas que fazem essa operação e dependem da cultura da mandioca para se manter. Esse trabalho é feito de forma mista, sendo que o maquinário afofa a terra e os trabalhadores puxam os pés de mandioca, despinicam e jogam no caminhão. Esse processo pode ser feito de forma manual ou com big bags, onde você corta a mandioca, joga dentro de sacolões e o guincho carrega o caminhão”, comenta.

De acordo com Herpich, a forma de plantio e controle de ervas daninhas diminuíram a necessidade de mão de obra. “Hoje há máquinas modernas, que possibilitam maior rendimento. Isso fez com que produtores maiores se interessassem pela cultura, então embora tenha diminuído o número de produtores, a área de plantio não caiu tanto, pois muitas áreas aumentaram. Alguns produtores que plantavam dois a três alqueires hoje estão plantando cerca de dez a 12. O módulo rural de plantio aumentou, mas o número de produtores caiu bastante”, reitera.

Colheita da mandioca pode ser feita de forma manual ou com big bags, em que você corta a mandioca, joga dentro de sacolões e o guincho carrega o caminhão (Foto: Divulgação)

 

PREÇO DA TONELADA

Em dezembro de 2019 e janeiro de 2020, a tonelada da mandioca atingiu um valor histórico de R$ 440, em média. Atualmente, a média de preço é de R$ 320 a tonelada do produto. Essa queda, conforme o técnico agrícola, é natural. “Dezembro e janeiro são meses de entressafra, então é comum haver preços maiores. Se olharmos a curva de preço dos últimos 20 a 30 anos, nós vamos perceber que é normal nesses meses haver um pico de preço”, salienta.

Outro fator que justifica a queda de preço, segundo Herpich, refere-se à colheita nos meses de fevereiro e março da mandioca de dois ciclos, o que aumenta a oferta da raiz. “Quanto maior a oferta, e a demanda se mantendo, há a diminuição de preço. Então, é natural essa queda de preço do fim do ano para agora. Se pegarmos o preço deste ano e do ano passado, ele está muito parecido, está praticamente o mesmo. No mês de abril foi de R$ 350 a tonelada e hoje está em R$ 320”, aponta, emendando que o preço de abril foi idêntico ao ano passado.

O conselheiro da Atimop ressalta que uma das preocupações neste ano diz respeito à produção estimada para o Paraná: 9,1% a mais que nos anos anteriores, segundo o Deral. “Isso em função de 4% de aumento de área de plantio e de 5% do aumento de produtividade. Então, baseado nesses números, a seca não afetou a cultura de mandioca, porque a produtividade é para ser maior”, enfatiza, ampliando que a diminuição da demanda por produtos da mandioca é outro elemento que está influenciando na queda do valor do vegetal.

 

MOAGEM

Herpich informa que a Agrícola Horizonte continua fazendo a moagem da mandioca de forma geral, porém houve diminuição nos meses de abril e maio, tendo em vista a troca de um equipamento (secador), que estava programada desde o início do ano. “Compramos um secador novo para a fecularia, e esse equipamento estava previsto para ser instalado em abril e maio. Leva uns 60 dais até desmontar um aparelho antigo e colocar um novo. Com isso, nós estamos secando em um secador ao lado que é usado para a fábrica de amido modificado e nós tivemos que diminuir a moagem”, explica.

Ele salienta que a diminuição da moagem não ocorreu em consequência da pandemia de Covid-19, todavia, pontua, contribuiu para que muitas empresas diminuíssem a moagem. “Como a venda de produtos da mandioca diminuiu, eles preferiram moer menos a estocar, senão as empresas iriam moer na capacidade máxima e iriam ter que estocar, porque o mercado não estava consumindo”, relata.

O técnico agrícola diz que muitos produtores têm falado que a Agrícola está moendo menos porque não está conseguindo vender, mas trata-se, apenas, de uma coincidência. “Talvez iríamos diminuir a moagem, provavelmente sim, para ver até quando vai passar essa tempestade e qual será o resultado disso depois, porque mandioca não é um produto de exportação. Como o consumo é interno e nós estamos em um momento de recessão, isso repercutirá no consumo”, avalia.

 

PLANTIO

O conselheiro da Atimop chama a atenção para o momento atual. “Agora é um momento do produtor definir se ele irá plantar grãos ou mandioca. É uma cultura que dá uma rentabilidade razoável. O que segura um pouco os produtores é o custo da mão de obra, porque muitas vezes eles ainda têm resistência. O que nós orientamos é que o produtor continue com suas culturas de grãos, mas que concilie com a mandioca, que tem boa produtividade mesmo em anos secos”, finaliza.

 

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