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Marechal Gigante verde

“Estrela” da Willy Barth, falsa-seringueira não está ilesa de corte, caso praça seja revitalizada

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Falsa-seringueira chama atenção de quem passa pela Praça Willy Barth pelo seu tamanho, raízes e beleza (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Majestosa, exuberante, imponente, bela. É desta forma que se pode descrever a “estrela” da Praça Willy Barth, de Marechal Cândido Rondon: a falsa-seringueira, que chama a atenção de quem passa pelo local pelo seu tamanho, pelas suas raízes e pela sua beleza. Por sinal, ela é palco e cenário para muitas fotografias, seja de quem visita a praça e se encanta pela gigante verde, seja de noivos que buscam cenários bonitos para registrar o dia do “sim”.

Admiradores não faltam à árvore, também conhecida como goma-elástica, borracheira ou ficus italiano, que tem o seguinte nome científico: Ficus elastica Roxb. ex Hornem.

De acordo com o engenheiro agrônomo Luis Pedro Massignani, observador das riquezas rondonenses, as raízes da árvore, que chamam a atenção, têm uma função importantíssima. “Característica marcante da falsa-seringueira, as raízes aéreas, ao encontrarem o solo, se transformam em troncos auxiliares, ajudando a suportar o peso da enorme árvore”, expõe ao O Presente.

Massignani diz que a falsa-seringueira não é uma árvore típica do Brasil, mas amplamente cultivada no território nacional, bem como no mundo todo. “É originária da Ásia, mais especificamente da Índia, Malásia e Indonésia, mas é popularmente conhecida no Brasil como ficus italiano, devido ao fato das primeiras mudas a chegarem no país terem sido trazidas da Itália”, detalha.

O ficus italiano também é conhecido como figueira branca, mas não deve ser confundida com a gameleira (ficus doliaria), que eventualmente também recebe esse nome.

Engenheiro agrônomo Luis Pedro Massignani: “Característica marcante da falsa-seringueira, as raízes aéreas, ao encontrarem o solo, se transformam em troncos auxiliares, ajudando a suportar o peso da enorme árvore” (Foto: O Presente)

 

CARACTERÍSTICAS

A falsa-seringueira pode ser utilizada em vasos internos e, conforme estudos sobre plantas que limpam o ar, é a que mais elimina toxinas químicas dos ambientes internos, entre as plantas da família ficus até então estudadas.

É uma das árvores ornamentais mais populares do mundo, sendo cultivada em praticamente toda a Terra. Existe uma variedade com folhas manchadas de amarelo ou castanho, mas a mais comum é a robusta, que tem a cor lisa, verde brilhante.

A árvore cresce melhor nas regiões com boa insolação.

 

CUIDADO E CURIOSIDADE

Conforme o agrônomo, como o próprio nome da árvore sugere, a falsa-seringueira já foi utilizada como matéria-prima na fabricação de borracha, todavia, não se mostrou eficiente. “Ao cortar o tronco desta espécie de árvore, vemos um látex, que pode ser tóxico, motivo pelo qual exige-se cuidado com crianças e animais”, alerta.

Ele enfatiza o tamanho do ficus italiano, que proporciona sombras amplas. “A espécie é bem resistente à seca, conseguindo tolerar períodos sem chuva”, comenta.

Uma curiosidade, aponta o rondonense, diz respeito à polinização. “Seus frutos são minúsculos figos esféricos, mas como a polinização de suas flores depende de uma vespa específica, que evoluiu junto com a planta, fora de seu habitat nativo os frutos são muito raros e a reprodução da planta geralmente ocorre pelo enraizamento de estacas”, observa.

 

ALVO DE CORTE?

Significativa para o “refúgio verde” da Praça Willy Barth, que dispõe de ampla arborização e, consequentemente, espaços com bastante sombra, a falsa-seringueira não está ilesa ao corte, em caso de remodelação do espaço.

De acordo com o engenheiro ambiental da prefeitura, Marcos Chaves, mesmo tendo um aspecto histórico relevante, um caráter paisagista e de embelezamento, o ficus italiano pode, sim, ser retirada. Todavia, a princípio, não há nada previsto neste sentido. “A falsa-seringueira tem um caráter histórico para a comunidade. Muitas crianças que brincavam na praça e hoje são adultos lembram desta árvore”, ressalta, acrescentando: “Uma forma de deixá-la ilesa ao corte seria possível a partir de uma iniciativa da Câmara dos Vereadores, somente contradito diante de uma audiência pública ou situação de risco à comunidade”, menciona.

Segundo ele, não há registros sobre a data do plantio da falsa-seringueira junto à praça. “Na foto de inauguração da praça é possível identificar várias espécies, mas não a falsa-seringueira. É muito provável que ela tenha sido plantada pelos pioneiros de Marechal Rondon nos primórdios da praça, entre os anos de 1960 e 1970. Ou seja, a árvore tem entre 50 a 60 anos”, estima.

Chaves acredita que, devido ao perfil de bom senso dos administradores do município, dificilmente a planta será alvo de corte. “Dificilmente vão querer retirá-la. Imaginamos que a população também não deixaria isso acontecer em quaisquer circunstâncias”, opina.

Na foto, a Praça Willy Barth em seu princípio: muitas árvores são identificadas, mas não a falsa-seringueira (Foto: Divulgação)

 

PLANO DE ARBORIZAÇÃO

Marechal Rondon não conta com um plano de arborização, informa o engenheiro ambiental da prefeitura, Marcos Chaves. “Não há um plano municipal de arborização aprovado. Acredito que deveria contar com iniciativa da sociedade, não apenas do Poder Público”, entende. “A gente tenta que com a revisão do Plano Diretor o plano de arborização esteja nas diretrizes do planejamento”, salienta, acrescentando que um parecer sobre quais espécies são adequadas a serem plantadas no município e em quais circunstâncias deve ser amplamente discutido em conjunto.

Conforme o servidor público, atualmente a Secretaria de Agricultura e Política Ambiental resolve problemáticas que envolvem árvores antigas que possam gerar riscos. “Os pedidos chegam à secretaria e avaliamos vários aspectos, tais quais localização, trânsito de pedestres e veículos nas proximidades, raízes avançando nas calçadas, para permitir ou não a poda ou retirada”, explica Chaves. A poda, segundo ele, se bem feita, pode contribuir à longevidade sem que as árvores gerem riscos à comunidade.

Engenheiro ambiental da prefeitura, Marcos José Chaves: “Ela tem um caráter histórico para a comunidade. Muitas crianças que brincavam na praça e hoje são adultos lembram desta árvore. Dificilmente vão querer retirá-la” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

ESPÉCIES

No processo de retirada de árvores, o engenheiro ambiental menciona que algumas espécies se sobressaem. “Ficus e flamboiã são espécies com raízes vigorosas que danificam calçadas e estão sendo removidas aos poucos. As sibipirunas, também presentes em grandes quantidades, conseguimos conduzir sem autorizar a retirada, o que ocorre, eventualmente, somente por questão de idade”, exemplifica: “O manejo é cuidadoso, porque não podemos tirar 100% das árvores antigas. Isso causaria um impacto negativo muito grande”, evidencia.

Praça Willy Barth figura desde 1966 como um espaço de lazer e recreação em Marechal Rondon, tendo a falsa-seringueira como uma de suas grandes atrações (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

PLANTIO

Como orientação de plantio, Chaves salienta que as espécies devem ser diversificadas o máximo possível, visto que quando implantadas em grande quantidade pode haver casos de doenças. “No Bairro Augusto, por exemplo, há o problema com as canelinhas. Retiramos dezenas de árvores jovens porque foram atacadas por um inseto, a broca, ao longo de uma rua”, compartilha.

Oitis, quaresmeiras, olho de dragão, brinco de índia, pata de vaca e até mesmo ipês, em situações em que não há conflito com as fiações elétricas, relata o servidor público, são árvores que se adaptam à cidade. “A arborização é patrimônio público e direito da comunidade. O plano de arborização vem para dar um norte sobre espécies e planejamento municipal”, afirma.

De acordo com Chaves, diariamente, a Secretaria de Agricultura é informada sobre árvores em situação de risco e necessidade de plantio. “É preciso entender que cada árvore tem um ciclo de vida, é um tempo relativamente longo até que ela se torne adulta. Então, não podemos plantar uma espécie sem planejamento para logo ter de tirar”, destaca.

 

O COMEÇO DAS PRAÇAS

A Praça Willy Barth foi inaugurada há cerca de 54 anos, quando Marechal Rondon ainda era distrito de Toledo, durante a gestão do prefeito Werner Wanderer.

O pioneiro Orlando Sturm conta que chegou à vila General Rondon em 1954. “Quando me mudei para cá havia apenas 50 casas”, rememora o rondonense, que de 1957 a 1966 foi funcionário da Empório Toledo, pertencente à Colonizadora Maripá, vindo, posteriormente, a abrir um empreendimento.

Segundo ele, na época havia quatro igrejas no distrito: a evangélica, a Missouri, a Batista e a Católica. “Conforme o tamanho da igreja, Willy Barth deu uma praça. A Católica e a Martin Luther ganharam uma quadra cada. Já a Missouri  (IELB) e a Batista ganharam meia quadra cada. Em 1952 começou a derrubada do mato”, lembra Sturm, emendando: “Depois disso, cada igreja ganhou ou comprou mais terrenos por preços mais baratos. Descobri recentemente que havia planos de se construir um hospital no terreno da Evangélica”.

Pioneiro Orlando Sturm: “Conforme o tamanho da igreja, Willy Barth deu uma praça. A Católica e a Martin Luther ganharam uma quadra cada. Já a Missouri e a Batista ganharam meia quadra cada. Em 1952 começou a derrubada do mato” (Foto: O Presente)

 

DERRUBADA DO MATO

De acordo com o pioneiro, quem desenhou as praças na época foi Hartwig Schade (em memória). “As comunidades ganharam os espaços e logo começaram a derrubar o mato do local”, reitera.
Ele comenta que as árvores mais plantadas naquele tempo eram ipês, ametistas e louros. “Não há nenhuma árvore nas praças que ainda seja original”, lamenta.

Sturm diz que naquela época as praças eram pontos de lazer. “Na praça da Católica, por exemplo, sempre jogávamos futebol. Havia a igrejinha de madeira do lado. Depois Hartwig fez o desenho da praça e logo começaram a construir a outra igreja”, expõe.

 

O NOME

A Praça Willy Barth leva o nome do gaúcho nascido em Santa Cruz do Sul que foi diretor-geral da Industrial Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S/A (Maripá). “Ele saiu do Rio Grande do Sul e fazia propaganda de que a nossa região tinha terras boas, sem formigas e isso foi ótimo para atrair as pessoas. Como não havia pontes naquela época, ele ficava nas travessias dos rios e distribuía propagandas. Nessas idas e vindas, Willy Barth colonizou desde o Oeste de Santa Catarina até Guaíra e tem uma homenagem em cada esquina”, pontua, enaltecendo a figura do colonizador.

Sturm destaca o trator exposto na Praça Willy Barth. “Trata-se de um maquinário que foi usado para a colonização da região. O trator é pioneiro do município de Toledo e foi trazido para ser exposto em Rondon. Ele veio rodando de Cascavel até Toledo, abrindo estradas para os pioneiros passarem, deixando outros virem atrás. O trator também abriu o campo de aviação em Toledo e em 1954 eu já desci ali de avião, numa linha direta do Rio Grande do Sul”, lembra.

 

APROVEITAMENTO

O pioneiro lamenta que atualmente as praças rondonenses não são locais totalmente seguros. “Nas circunstâncias que temos hoje, não se pode nem mais sentar na praça e ter garantias como antigamente”, frisa.

Na opinião de Sturm, a Praça Willy Barth deveria ser remodelada. “Deveria ser mais clara. As outras também”, sugere.

 

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