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Marechal Medidas

Hospital Rondon elabora oito cenários para atendimento ao coronavírus

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Instituição possui modelos que garantem às equipes o direcionamento correto dos pacientes. Unidade hospitalar terá uma ala destinada para quem apresentar síndrome gripal (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

O Paraná já possui cerca de 160 casos confirmados de coronavírus. Conforme a doença foi se espalhando para as regiões do Estado, especialmente desde a semana passada, o medo, a incerteza e a insegurança ganharam espaço na vida de muitos rondonenses. Isto porque os relatos de quem mora na Itália e Espanha, em especial, são dramáticos, onde idosos ficaram sem atendimento e morreram por conta do colapso no sistema de saúde.

No Brasil, para conter o avanço da doença, governadores determinaram o isolamento social com fechamento do comércio e outros estabelecimentos. O objetivo tem sido evitar um pico epidêmico e que não haja recursos humanos e de estrutura para atender uma grande demanda de doentes ao mesmo tempo.

E como Marechal Cândido Rondon está preparado para a Covid-19, especialmente depois do município ter dois casos confirmados para a doença? De um lado existe o sistema público, que vem adotando medidas, e de outro está o sistema privado.

O município possui somente um hospital particular – o Hospital Rondon. E há um questionamento que muitos fazem: é possível separar os pacientes na unidade para que um caso suspeito não tenha contato com outro paciente?

Para responder a essa pergunta, o Jornal O Presente conversou com o grupo de profissionais do Sempre Vida que está à frente da implementação de medidas para atendimento de pacientes que podem eventualmente contrair Covid-19.

 

TRIAGEM

Em primeiro lugar, a gerente assistencial do Grupo Sempre Vida, enfermeira Angelita Teresinha Lippert Taffarel, reforça que hoje o Ministério da Saúde considera qualquer paciente que apresenta síndrome gripal como suspeito de ter coronavírus. “O Hospital Rondon está preparado para atender todos os pacientes que apresentam síndromes gripais, que podem ser casos suspeitos de Covid-19. Nós temos um atendimento diferenciado em que todo paciente, na triagem, é abordado com perguntas dirigidas. Quando o paciente apresenta síndrome gripal, é direcionado por um setor em que tem uma equipe que vai atendê-lo. Esse paciente, já nesta primeira abordagem, passa a usar máscara. O paciente não vai ficar com os demais que não têm síndrome gripal. Todos são atendidos dentro de uma avaliação clínica médica, seguindo os protocolos do Ministério da Saúde”, expõe.

A diretora executiva do Grupo Sempre Vida e administradora hospitalar, Ana Carolina Seyboth, detalha o motivo do uso da máscara cirúrgica na triagem para pacientes com síndromes gripais: “Como a transmissão é por gotícula, a máscara cirúrgica em pacientes com síndromes gripais previne que, ao falar, essas gotículas se depositem nas superfícies, ou que ao conversar essa gotícula não vai atingir outros pacientes que estão na sala de espera. Todas as pessoas que entram no hospital já recebem álcool gel. A máscara é para fazer a proteção, pois o vírus tem uma duração maior na superfície e queremos proteger as pessoas”, diz.

Outra política adotada pelo Hospital Rondon é o distanciamento social. Ao sentar na sala de espera, as pessoas não ficam mais lado a lado, por exemplo. “Esse protocolo de triagem já temos há 15 dias em todas as portas de acesso ao atendimento, incluindo o Hospital Rondon e o Centro de Atenção e Saúde 24 Horas (em Toledo). Indiferente dos casos positivos ao Covid-19 ou qualquer síndrome gripal que pode estar relacionada a caso suspeito, todos estão sendo manejados de forma diferenciada desde a semana passada”, reforça Angelita. “Os casos positivos podem continuar ocorrendo e nos antecipamos a implementar estratégia de atendimento com ou sem casos confirmados, ou manejando os casos suspeitos, porque todos os que chegam com síndrome gripal já são classificados como casos suspeitos”, acrescenta.

A enfermeira detalha que o Hospital Rondon desenhou vários cenários de atendimento conforme vai aumentando a demanda de pacientes com síndromes gripais suspeitos de Covid-19. “São desenhos de fluxo de atendimento, em que as equipes sabem para onde direcionar os pacientes, sejam eles suspeitos de coronavírus ou não, para garantir a continuidade de assistência para outras patologias”, revela.

Diretora executiva do Grupo Sempre Vida, Ana Carolina Seyboth: “É uma doença que merece respeito” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

Gerente assistencial do Grupo Sempre Vida, enfermeira Angelita Taffarel: “O Hospital Rondon está preparado para atender todos os pacientes que apresentam síndromes gripais, que podem ser casos suspeitos de Covid-19” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

 

ALA ESPECÍFICA

Conforme Ana Carolina, o Grupo Sempre Vida estudou muito a implantação de fluxos para atender os pacientes. Além da triagem, uma ala do hospital será direcionada aos pacientes com síndrome gripal. “Na outra ala os pacientes que adoecem de outras causas poderão ser atendidos, inclusive com estruturação de um escritório extra para ala pediátrica para que as crianças que não tenham síndrome gripal possam ser atendidas. As crianças com síndrome gripal vão para outra ala”, informa.

De acordo com ela, a formatação dos fluxos ocorreu a partir dos estudos realizados junto aos protocolos do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Sociedade Brasileira de Infectologia, sendo inclusive esses órgãos que estabelecem os critérios de equipamentos de proteção individual (EPIs). “Os equipamentos de proteção individual foram estudados com critério para estabelecer o que protegia de fato e o que era excessivo”, expõe Ana Carolina.

Por isso, a administradora hospitalar não orienta que as pessoas usem de forma indiscriminada a máscara cirúrgica. “Todas as pessoas saíram querendo comprar máscara, mas é a gotícula do paciente que tem o vírus que vai disseminar a doença. Para o paciente que está em estado são, usar a máscara é menos efetivo do que lavar muito as mãos, passar o álcool gel e manter dois metros de distância das pessoas”, salienta. “O paciente que tem algum tipo de suspeita, apresenta síndrome gripal, em que a gotícula pode transmitir a doença, então precisa máscara”, frisa.

 

ESTIMATIVA DE CASOS EM MARECHAL RONDON

O Grupo Sempre Vida já desenvolveu um estudo de estimativas de casos que podem surgir em Marechal Rondon e Toledo, onde também atua, tendo como modelo a situação da Itália. O estudo considerou cidades com o número habitacional semelhante às duas cidades paranaenses e a densidade demográfica, projetando as próximas semanas de evolução esperada da doença.

Questionada se o Hospital Rondon possui leitos suficientes, Ana Carolina é categórica: “A gente vem fazendo estudos quantitativos até para poder avaliar o que precisamos ter em termos de estrutura de pessoas para atendimento e dimensionamento de leitos. Há 15 dias suspendemos as cirurgias eletivas e hoje devemos ter nove pacientes internados, deixando aproximadamente 40 leitos livres para atendimento. A instalação de gás medicinal vai nos permitir, eventualmente para casos moderados ou graves, isolar uma ala específica para este atendimento. Até isso já olhamos. Quando e se acontecer esse volume de atendimento, já sabemos qual ala do hospital será específica para casos de coronavírus, e cada leito, respeitando todas as medidas de proteção e contágio”, afirma.

Com a estrutura de leitos e de credenciados que o Grupo Sempre Vida tem em Marechal Rondon, Toledo e Cascavel, a instituição considera que possui o volume de leitos necessários para atender a perspectiva de casos que podem se confirmar e casos graves. “Pode fugir do controle? Pode. Estamos em uma pandemia. Conseguimos olhar pelo retrovisor, onde as coisas já aconteceram e buscamos um cenário muito drástico, que foi da Itália, para fazermos as projeções com base nos dados do Ministério da Saúde de lá. Não podemos afirmar que isso se concretize exatamente desta forma. Estamos falando de condições climáticas diversas, densidade populacional que se aplica em cada um dos lugares de maneira diferente. Todas as situações precisamos considerar. As estimativas que a gente faz são para serem respeitadas para não haver insuficiência de recursos humanos, recursos de suprimentos e leitos para atender os pacientes”, enfatiza.

 

RESPEITE O ISOLAMENTO SOCIAL

Médico infectologista do Grupo Sempre Vida, Alexandre Daronco diz que no momento é importante respeitar o isolamento social decretado pelo Estado e municípios, em que cada qual estabeleceu um período específico. “Até porque vamos diminuir o pico epidêmico de transmissão, que pode sobrecarregar os serviços de forma significativa. Vamos conseguir diminuir isso com isolamento social. É a única medida que conseguiu comprovadamente reduzir a transmissão e evitar sobrecarregar o sistema”, aponta. “A partir deste período, o interessante é cada Estado, conforme sua realidade regional, aplicar certas determinações. O Brasil é continental e talvez extrapolar uma realidade localizada em São Paulo e Rio de Janeiro para todos os Estados ao mesmo tempo não seja o mais adequado no momento. Acredito que o fornecimento, por parte do Ministério de Saúde, de insumos e orçamento seja mais importante para os Estados, e fornecer autonomia para que decidam conforme a realidade de cada região o que fazer”, defende o profissional.

Médico infectologista do Grupo Sempre Vida, Alexandre Daronco: “(Isolamento social) é a única medida que conseguiu comprovadamente reduzir a transmissão e evitar sobrecarregar o sistema” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

 

SAÚDE X ECONOMIA

Daronco compreende que o momento envolve um dilema entre sobrecarga do sistema de saúde de um lado e a economia de outro. “Isso vai ter que ser pesado no país inteiro. O interessante é depois deste período inicial dar autonomia para que cada Estado possa gerir sua situação da maneira que a realidade local precisa”, reforça.

 

MEDIDAS ADOTADAS: EXCESSIVAS?

O infectologista enaltece a importância do isolamento social como forma de frear a pandemia ou, pelo menos, diminuir a progressão e velocidade da doença. “As medidas de higiene são fundamentais e não é nada de novo”, avalia.

Por outro lado, ele considera como excessivo o pânico gerado pelo número de casos que de fato são graves. “Em cerca de 85% dos casos a doença não é grave. Em tese, em 15% os casos serão moderados a severos. Do total de casos, 5% vão precisar de UTI ou vão a óbito. Majoritariamente, são pessoas com mais de 60 anos, cardiopatas, com problemas pulmonares ou imunológicos. É uma faixa de pacientes que precisa de cuidados a mais. Os cuidados devem ser sempre excessivos, mas o pânico não. Não auxilia em nada. O cuidado é mais importante agora e que qualquer pessoa pode tomar”, ressalta.

 

QUANDO PROCURAR ATENDIMENTO MÉDICO

A recomendação é não sair de casa. Quando procurar então atendimento médico? “Quem tiver sintoma de resfriado, sintomas leves, a orientação é para que fique em casa monitorando. Se porventura a tosse começar a piorar, sente falta de ar, dor torácica, desconforto para respirar, aí vai se enquadrar nos casos moderados e que precisam de atenção imediata no hospital. Entre 80% e 85% dos casos serão leves”, explica o médico infectologista.

 

PREVENÇÃO!

A diretora executiva do Grupo Sempre Vida, Ana Carolina Seyboth, comenta que dentro dos estudos já realizados, o manejo da doença modificou ao longo das semanas e até nos últimos dias. “A forma de entender quem era caso suspeito ou não era foi alterado três vezes em uma semana. Mas não mudou a forma de prevenir. Estamos ouvindo falar de coronavírus faz 90 dias e escutamos falar das medidas preventivas, as quais são iguais. Se as pessoas respeitarem as medidas de prevenção e entenderem que a disseminação de informações que não são sérias em relação ao coronavírus é mais prejudicial do que qualquer outra coisa, vamos ter uma pandemia que passa de uma forma menos avassaladora na vida da gente”, opina.

Conforme a administradora hospitalar, as medidas de prevenção são fundamentais e as pessoas devem buscar informações do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde e entender que a Sociedade Brasileira de Infectologia está estudando o assunto o tempo inteiro. “A gente minimiza a busca por informação desencontrada em relação a tudo isso. Apesar de todas as informações que são repassadas em boletins escritos ou televisionados oficiais do Ministério da Saúde, ainda vemos uma polarização grande de compreensão a respeito da doença que vai para extremos muito marcantes. Tem aquela pessoa que está em pânico, que acha que se contrair coronavírus vai morrer necessariamente, e tem aquele que acha que não acontecerá nada. Precisamos trazer esse pêndulo para o meio. É uma doença que merece respeito, as medidas de prevenção precisam ser tomadas, o autocuidado com a higiene pessoal e de superfícies precisa existir, distanciamento social é relevante, e a gente pode trazer isso para uma medida um pouco mais calma no sentido de avaliar as informações. Quando entramos em pânico, o pânico gera caos. E não podemos deixar esse caos se estabelecer, senão não conseguimos lidar com a ansiedade das pessoas”, evidencia.

 

90 DIAS

A China tornou oficial o primeiro caso em 31 de dezembro de 2019. Hoje, a vida começa a voltar ao normal no país asiático. “A perspectiva no Brasil são 90 dias e o objetivo é que o pico de transmissão da doença não aconteça ao mesmo tempo. Se for gradativo, temos um risco de colapso no sistema de saúde muito menor. Por isso é importante olharmos as medidas preventivas: lavar aos mãos, usar álcool gel e manter o distanciamento social. Depois do período estipulado pelos governos, vamos circular com mais normalidade, mas as medidas de prevenção precisam continuar”, frisa.

 

CUIDADOS SIMPLES

E vale lembrar aqueles cuidados simples: “Espirrar ou tossir no antebraço, próximo ao cotovelo, para evitar a disseminação de gotículas; ingerir muita água; não compartilhar objetos pessoais, como toalha de rosto e banho, utensílios de cozinha, evitar o toque no rosto (nariz, boca e olhos). Tendo esse cuidado evitamos uma grande disseminação”, reforça a enfermeira Vanessa Schuck, responsável da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Grupo Sempre Vida.

Responsável da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Grupo Sempre Vida, enfermeira Vanessa Schuck: “Tendo esse cuidado evitamos uma grande disseminação” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

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