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Marechal

Infestação de caramujos africanos perturba comunidade

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Logo que o dia começa, é a hora da caçada para dona Sofia. Moradora do Bairro Vila Gaúcha, em Marechal Cândido Rondon, a aposentada, assim como outros munícipes, vem enfrentando um gigante problema desde o início do mês de dezembro: a infestação de caramujos africanos. “Devo tirar, em média, de 30 a 50 caramujos por dia da horta e do quintal quando o tempo está para chuva. Eles comem tudo quanto é coisa que tem na horta. Por enquanto estou resolvendo com sal”, revela. Sem inimigos naturais, os moluscos são encontrados em quase todos os estados brasileiros.

Como pontuado por Sofia, o Achatina fulica pode causar sérios danos a hortas, jardins e praças por se alimentar de flores, folhas e ramos de diversas plantas. Ele é comumente encontrado repousando em troncos de árvores, ramos e folhagens, além de cercas, muros e paredes. Em ambientes urbanos, porém, o animal causa incômodo ao escalar paredes de casas e prédios e até mesmo por se movimentar em grande número nas calçadas e ruas, dificultando o trânsito de pedestres.

 “No lado dos quartos, não estamos nem abrindo as janelas porque quando menos esperamos eles estão grudados nos vidros entrando em casa. Pela porta da frente e pela janela da casa é a mesma coisa”, conta a rondonense.

Apesar de não existir controle do número de notificações sobre problemas com esta praga urbana, a Vigilância Sanitária de Marechal Rondon tem recebido nas últimas semanas diversas ligações de munícipes reclamando sobre o aparecimento dos caramujos africanos em grandes quantidades, principalmente em regiões onde há muitos terrenos baldios.

“Nessa época do ano o caramujo se prolifera e aparece com mais voracidade, por isso é mais fácil dele ser visto e em grande quantidade. Durante o período de inverno, no clima frio, ele se esconde na terra, mas isso não erradica a espécie”, pontua o diretor da Vigilância em Saúde, Jesael Reis. Ele diz que a infestação do molusco tem maior relação com o clima quente, mas nem tanto com o período chuvoso.

“Todavia, é mais comum de vermos ele na superfície em dias nublados ou de chuva, como tivemos nas últimas semanas. Por ser um animal mais sensível, ele não é visto nos horários de pico de calor e de sol. É comum que ele saia para se alimentar ao amanhecer e ao entardecer ou nesses períodos sem aparecimento de sol”, informa.

 

A cada manhã com o tempo fechado para chuva, dona Sofi a Rocha Scmitz sai à procura de caramujos que estão “fazendo a festa” em sua horta e no quintal: no último mês, a cada dia, ela estima que tirou em média de 30 a 50 animais. (Foto: Mirely Weirich/OP)

Como Eliminar?

Mesmo dona Sofia eliminando os invasores indesejados com sal e afirmando que até agora essa foi a “arma” mais efetiva para combater o molusco, o diretor da Vigilância em Saúde destaca que este não é o produto mais indicado para eliminar o caramujo africano. Da mesma forma que orienta os munícipes que entram em contato com o órgão municipal, Reis instrui a moradora da Vila Gaúcha e os demais cidadãos rondonenses a utilizarem produtos que, comprovadamente, eliminem o molusco de forma mais efetiva e não contaminem o solo.

“Uma pesquisa experimental para o controle do caracol africano realizada pela Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa) apontou que o uso de sulfato de cobre a 5% consegue eliminar 95% dos animais que têm contato com o produto”, menciona.

 Reis explica que o produto, comercializado em casas agropecuárias na forma de pó ou líquida, deve ser diluído em água e pulverizado na área em que há a infestação do caracol. A aplicação deve ser realizada desta forma para que o animal entre em contato com o sulfato de cobre tanto imediatamente à aplicação quanto durante sua locomoção, quando está com grande parte do corpo exposta, sendo, desta forma, contaminado e eliminado.

“Existem alguns produtos que são indicados para a eliminação desses moluscos e o sal não é um deles. Na verdade o sal é um mito que vem da época da lesma e ele elimina um animal em específico, mas não a colônia. Já o sulfato de cobre foi colocado como um dos melhores produtos para eliminação da maior parte dos caracóis”, explica.

“É preciso fazer a eliminação total dos animais porque há pesquisas com relatos de que apenas dois indivíduos restantes de uma colônia são capazes de gerar uma nova proliferação, por isso na tentativa de eliminação é necessário utilizar produtos mais efetivos”, complementa Reis.

A pesquisa também aponta que a cal hidratada a 10% obteve resultados satisfatórios na eliminação dos moluscos, contudo, reforça o diretor da Vigilância em Saúde, é necessário que tanto a cal quanto o sulfato de cobre sejam diluídos em água, pois os testes mostraram que a aplicação dos produtos sem diluição não foi suficiente para eliminar os caracóis africanos em sua totalidade. “Também foi visto na pesquisa que a água sanitária tem efetivação na eliminação, mas não tão grande quanto os outros dois materiais. No entanto, por ser um produto mais acessível, que normalmente as pessoas já têm em casa, é mais fácil a utilização. Da mesma forma, deve ser feita a diluição em água e pulverizada a área e não utilizar o produto puro”, orienta, complementando que, neste caso, a efetividade para o combate é de 85% a 90%.

Reis relata que, apesar de a água sanitária ser o produto mais comum entre todos, em uma pesquisa no comércio local rondonense, os demais produtos também mostraram-se de fácil acesso.

O sulfato de cobre na sua forma líquida pode ser encontrado a partir de R$ 8,85 (100 ml); R$ 62 (um litro) e R$ 15 (um quilo). Já a cal hidratada, um pacote de 20 quilos, encontrado em lojas de material de construção, sai na faixa de R$ 10. “Lembrando que todos esses produtos devem ser diluídos em água para a aplicação, então 100 ml de sulfato de cobre já são suficientes para a pulverização na área externa de uma residência, por exemplo”, exemplifica.

Ele também cita que há efetividade no uso de um lesmicida metaldeído, que é uma espécie de isca granulada que deve ser distribuída na área em que há o aparecimento dos caramujos africanos. “Este produto é resistente à água e também é encontrado em envelopes de 200 gramas, na faixa de R$ 10”, destaca Reis.

 

 

Essa matéria na integra você encontra em nossa edição impressa dessa sexta-feira (05).

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