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Marechal

Leitão à Marechal consagra suinocultura rondonense

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Arquivo/OP
Criada como forma de valorizar a carne suína rondonense e quebrar preconceitos divulgando a qualidade do produto, Festa do Leitão à Marechal chega à 12ª edição e consagra-se como evento tradicional do município

 

Rica em fósforo, vitamina B 12, ferro e potássio e, nos cortes magros, concentra menor quantidade de gordura quando comparada a outras carnes. Essas são apenas algumas das características que fazem a carne suína ser a proteína mais consumida no mundo – apesar de ainda enfrentar preconceito na mesa dos brasileiros.

Mesmo o país sendo o quarto maior produtor e exportador mundial do produto, o consumo interno do alimento ainda é relativamente baixo se comparado a outras carnes e a países de primeiro mundo como Europa, Estados Unidos e Canadá. Boa parte desta baixa se deve principalmente ao preconceito oriundo da desinformação existente entre a população, que associa o alimento ao porco criado no passado com a finalidade de produzir banha, quando o produtor agregava pouca tecnologia no processo produtivo.

Foi justamente para quebrar este paradigma e mostrar o potencial dos suinocultores de Marechal Cândido Rondon que, em meados de 2004, a Associação Municipal de Suinocultores (AMS-MCR) decidiu criar uma festa com um prato à base de carne suína, nos mesmos moldes da Festa Nacional do Boi no Rolete, que acontece no aniversário do município. “Como Marechal Rondon sempre foi um expoente na produção de suínos e ainda existia certa intolerância no consumo da carne suína, decidimos iniciar este projeto para valorizar o produto. Depois de várias pesquisas, optamos por fazer um leitão desossado na grelha que foi denominado Leitão à Marechal”, conta um dos idealizadores da festa e diretor da AMS na época, Alaor Bressan, lembrando que entre os criadores do prato estão diversos suinocultores que participam da Associação, além de outras pessoas envolvidas na cadeia produtiva.

 

Apreciadores

Conforme Bressan, desde a primeira edição do evento a adesão dos apreciadores da carne suína foi significativa, até mesmo do setor empresarial por meio da Associação Comercial e Empresarial (Acimacar) – que até hoje é parceira do evento -, tendo em vista o que a suinocultura representava na época e representa ainda hoje em termos de arrecadação e geração de emprego e renda para o município. “Além de mostrar tudo o que a suinocultura envolve no município, outro objetivo que segue até hoje é divulgar a carne suína, como ela é produzida com rigorosos padrões de qualidade, com genética, nutrição, sanidade e instalações dentro dos padrões de bem-estar estabelecidos pelo Ministério da Agricultura”, enfatiza. “Nosso objetivo nunca foi arrecadar para a Associação, mas, sim, ter verba para fazer a festa no ano seguinte e reverter parte do lucro para alguma entidade beneficente”, complementa.

Mesmo considerando que a região já consome carne suína em maior quantidade do que o restante do Brasil, Bressan avalia que passados 13 anos do início do Leitão à Marechal o consumo aumentou também entre os rondonenses assim como no país, tendo em vista campanhas em nível nacional que objetivam divulgar o sabor e a qualidade do alimento. “O consumidor vê a carne suína com outros olhos, tanto é que em formaturas, confraternizações e outros eventos de Marechal Rondon e região o Leitão à Marechal está sempre presente, pois, além de ser um prato saboroso, é bem apresentável e cabe bem em qualquer ocasião, ou seja, não é só na festa do Dia do Trabalho que ele está presente, ele acabou se popularizando”, menciona.

 

Menos produtores, mais produtividade

No primeiro ano em que a festa foi realizada, Marechal Cândido Rondon contava com um rebanho estático de 142.384 suínos, de acordo com o

Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab). De lá pra cá, o número sofreu variações, baixando para 89.902 cabeças em 2007, mas voltou a subir nos anos seguintes, alcançando a marca de 497.910 em 2015. Atualmente, conforme registro da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), o município conta com um plantel de aproximadamente 460 mil animais – sendo a população estimada de matrizes de 40 mil -, todos distribuídos em 798 propriedades pelo interior do município.

Mesmo com a suinocultura tendo significativo aumento em termos de produtividade, o atual presidente da AMS, Sérgio Barbian, diz que o número de produtores vem diminuindo a cada ano, tanto é que atualmente a Associação estima cerca de 100 associados, número referente àqueles que utilizam a Central de Inseminação Artificial de Suínos (Cias). “Muitos vão deixando a propriedade principalmente porque os herdeiros não permanecem na atividade, mas aqueles que continuaram dobraram ou triplicaram a produção nesse tempo. A certeza disso temos por conta das indústrias que vêm se expandindo e as novas que estão sendo construídas para consumir essa matéria prima”, avalia.

Para ser possível dar continuidade à atividade, ele enfatiza que é extremamente importante que o produtor aumente sua produtividade, a qual segura a empresa tendo em vista a queda constante da margem de lucro. “Mesmo que os produtores diminuam, sabemos que nosso plantel sempre vai aumentar”, aposta.

Bressan comenta ainda que a Central de Inseminação é um dos pontos principais que teve grande contribuição no desenvolvimento da genética dos animais produzidos no município e que fez com que as granjas que permaneceram com o passar dos anos tenham aumentado significativamente. “Antigamente as pessoas tinham a visão que o suíno era gordo e hoje temos uma carne de melhor qualidade, com menos gordura, tudo por conta da genética e da sanidade que avançaram significativamente com o passar dos anos”, enfatiza.

De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), que idealizou o conceito “Escolha + Carne Suína” (maiscarnesuina.com.br) – desenvolvido para levar ao conhecimento do consumidor todo o potencial e versatilidade da carne suína para ela ser presença constante na mesa do brasileiro, visando mudar o cenário de consumo por meio de um trabalho conjunto, que vai desde a produção a comercialização da proteína -, o suíno atual tem em torno de 35% menos gordura do que o suíno tipo banha, conhecido tradicionalmente como o porco produzido em meados da década de 1960 e 1970.

Pelas características do animal, 70% de toda a gordura da carcaça é subcutânea e somente 2% é intramuscular, ou seja, é muito fácil separar a gordura nos cortes antes do preparo e todo este benefício na redução significativa dos teores de gordura na carne resultou também na redução nos níveis calóricos e de colesterol. “Há hoje cortes nobres de carne suína e com isso gradativamente o consumo nacional aumentou e na nossa região também, mesmo que aqui esse produto já tivesse uma boa aceitação”, ressalta.

Bressan entende que o alimento se destaca pelo preço mais competitivo no supermercado: no comparativo com outras carnes, o valor da suína é mais atrativo para o consumidor quando comparado à bovina, por exemplo.

 

Recuperação

Nas primeiras edições da Festa do Leitão à Marechal, nas quais foram colocadas na brasa 110 leitões com cerca de 18 quilos cada, os kits vendidos serviam de 35 a 40 pessoas. Nos moldes atuais, o prato serve 25 pessoas, já que os leitões passaram para 15 e 16 quilos aproximadamente. “No começo a festa era maior e com o tempo, por falta de um trabalho mais forte de divulgação, acabamos perdendo público, chegando a assar apenas 70 suínos”, conta o atual presidente da AMS. “Neste ano, no entanto, mesmo com a crise originada pela Operação Carne Fraca, fizemos um grande trabalho de divulgação com apoio das entidades e queremos bater o recorde de 120 a 130 leitões”, comemora Barbian, que participa do evento desde a primeira edição.

Além da Associação dos Técnicos Agrícolas e do CTG Tertúlia do Paraná – parceiros da AMS que promovem a festa desde a primeira edição -, a entidade conta também com o apoio da Acimacar, da Prefeitura de Marechal Cândido Rondon, Clube Amigos da Pesca, Feirão do Automóvel, Casa de Carnes Bressan, Frizonte e Simareni Bebidas, bem como com patrocínio do Sicredi, Agroceres PIC e Copagril – que desde a primeira festa prepara os leitões em um único lote observando os padrões de peso e qualidade. “Provavelmente teremos uma das maiores festas do Leitão à Marechal neste ano, afinal, conhecemos a qualidade da carne que é produzida na nossa cidade”, diz Barbian.

 

Como preparar?

A principal característica do Leitão à Marechal que dá água na boca aos apreciadores é a pururuca – a parte externa do suíno que é preparada de forma a ficar crocante e extremamente suculenta.

Bressan explica que o suíno que compõe o Leitão à Marechal deve ser abatido com aproximadamente 32 a 35 quilos de peso vivo. Por ser abatido mais cedo (normalmente um suíno é abatido com mais de 100 quilos) ele também recebe uma ração de acabamento, que melhora o sabor da carne. “Ele é abatido em frigoríficos especializados e com inspeção e antes do abate fica no mínimo 16 horas em jejum, só com água”, expõe.

Após abatido, o animal é resfriado, desossado e temperado de 20 a 24 horas antes de ser assado. “Ele é colocado na brasa de quatro a cinco horas para ficar pronto. Depois de fazer a pururuca, que dá o toque especial do Leitão à Marechal, está pronto para ser servido”, pontua. “Não é difícil fazer, não tem segredo, por isso que se popularizou na região e isso é muito positivo, já que quanto mais pessoas conhecerem o prato mais leitões serão consumidos”, comemora Bressan.

Apesar das dificuldades enfrentadas no início do evento, fazendo com que em um ano a festa não fosse realizada, o suinocultor comemora a expansão do Leitão à Marechal e a importância do evento para a divulgação da carne suína. “Acreditamos no projeto e hoje estamos muito felizes por sabermos que o nosso trabalho no passado valeu à pena. Apesar de ter sido difícil no início, a cada ano a festa cresce mais e mostra a qualidade da nossa carne”, enfatiza Bressan.

 

De olho no sabor

Tendo em vista a expansão do prato e que a festa do Leitão à Marechal se tornou tradição no município, é nesta 12ª edição que será realizado o primeiro concurso para escolher o leitão mais saboroso apresentado no dia do evento, que acontece no domingo (30).

As equipes que desejam participar da competição devem se inscrever junto à AMS, nas Lojas Agropecuárias ou no Posto Copagril e no Supermercado Cercar. O número de membros integrantes é livre. “Após se inscrever a equipe recebe a lista com os critérios que serão avaliados pela comissão julgadora, sendo o principal deles o sabor”, explica o coordenador do Leitão à Marechal, Enoir Primon.

As inscrições têm o custo de R$ 20 e o leitão deverá ser retirado junto à comissão organizadora a fim de que todos os pratos servidos sejam padronizados. “A premiação contemplará as oito equipes que apresentarem o melhor prato, respeitando os critérios solicitados pela equipe julgadora”, enfatiza.

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