A falta de chuva observada desde junho do ano passado tem gerado problemas à maioria dos municípios do Estado do Paraná e na região Oeste não é diferente. Dados do setor de estatística do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Marechal Cândido Rondon revelam que 2020 tem o terceiro início de ano mais seco no município desde 1978.
Naquele ano houve apenas 148 milímetros de chuva no período de janeiro a abril, em seguida veio o ano de 2005 com 372 milímetros, enquanto neste ano a média é de 387 milímetros registrados até o dia 06 de abril. Por outro lado, o quadrimestre mais chuvoso foi do ano de 2018, com 1.063 milímetros. De janeiro a dezembro de 1978 houve 998 milímetros de chuva, sendo considerado o ano mais seco da história a partir da contagem iniciada em 1964. Já o ano com recorde de chuva foi 2015, com 2.868 milímetros.
A estiagem prolongada tem gerado inúmeros problemas, entre eles a escassez hídrica nos poços artesianos responsáveis pelo abastecimento de água na sede municipal. Isso tem provocado racionamento com interrupção no fornecimento de água, que vem desde os meses de novembro e dezembro do ano passado, sendo retomado no mês de março, o que é definido como histórico pelo diretor técnico e operacional do Saae, Vitor Giacobbo.
“A equipe do Saae está trabalhando em escalas, mas os trabalhos emergenciais, como o monitoramento de poços e a recolha de amostras, ocorrem normalmente”, expõe Giacobbo, que neste período de medidas restritivas de enfrentamento ao novo coronavírus, junto do o diretor executivo Dieter Seyboth, está realizando trabalho remoto. Ambos se enquadram na faixa de risco de contágio de Covid-19.

Diretor técnico e operacional, Vitor Giacobbo: “Se as chuvas aumentarem o racionamento pode ser paralisado, mas se tirar corremos o risco de daqui dois ou três meses ficar pior do que está hoje. Se chover uma semana inteira vai ter bastante água e daí volta ao normal” (Foto: Joni Lang/OP)
PREOCUPAÇÃO
O diretor técnico ressalta que está preocupado com as consequências da estiagem verificada desde junho do ano passado. “Não chove adequadamente desde lá, tanto que no final do ano fizemos racionamento. Melhorou devido a algumas chuvas, porém a estiagem voltou faz um bom tempo. Estamos no limite de atender a situação, apesar do Saae fazer dois racionamentos por semana, um na quarta e outro na quinta-feira à noite, para dar descanso para os poços, porque se retirar água 24 horas por dia eles secam”, frisa.
Segundo ele, na quarta à noite o racionamento afeta a região 1 da cidade e na quinta-feira atinge a região 2. Os poços que abastecem cada região da cidade ficam parados quando do racionamento naquelas localidades. “Nós acompanhamos os números todos os dias e isso tem dado resultado. É deixado de consumir um milhão de litros de água em cada dia de racionamento. Nós consumimos 13 milhões de litros de água e no dia de racionamento baixa para 12 milhões. Nosso limite máximo de produção é de 15 milhões de litros ao dia, então nós temos água, mas devemos cuidar para distribuir bem e todo mundo poder consumir. O racionamento é estratégico para não perder os poços, que têm mais tempo de descanso e retornam com a produção no outro dia. Não adianta retirar 15 milhões de litros em um dia e daqui um mês não ter dez milhões de litros para consumir, então a estratégia feita vem sendo positiva”, destaca.

Captação nas proximidades do Loteamento Ceval produzia 50 mil litros de água e hoje, praticamente seca, tem dificuldade em gerar de cinco a dez mil litros por hora (Foto: Joni Lang/OP)
CONSCIENTIZAÇÃO
Conforme Giacobbo, o racionamento de novembro até 20 de dezembro do ano passado foi necessário e interessante para conscientizar as pessoas. “Naquele período eram consumidos 15 milhões de litros, então chegava nos dias que não dava mais para retirar água, aí foi preciso dar o choque. Agora em abril o pessoal gasta um pouco menos de água porque está mais fresco. Além disso, as indústrias diminuíram o consumo de água. Nesse sobe e desce, a variação de consumo tem sido elevada pela população”, pontua.
Ele enfatiza que realizar racionamento de água em pleno mês de abril é uma novidade no município, algo histórico. “Com o crescimento do município e também do consumo é fundamental racionar para não perdermos as fontes de água. Devemos seguir com o racionamento por mais 60 a 90 dias para ter um abastecimento normal até o final do ano”, revela.

Rio Arroio Fundo deve se tornar em alguns meses a nova estação de tratamento de água, fornecendo em torno de 12,9 milhões de litros de água ao dia aos habitantes de Marechal Rondon (Foto: Joni Lang/OP)
NOVA ESTAÇÃO
Com demanda mínima de 13 milhões de litros ao dia, o Saae trabalha para que haja captação de água do Arroio Fundo, rio que recebe a água proveniente das galerias de águas pluviais. “Ano passado encaminhamos ao antigo Instituto das Águas do Paraná a solicitação para anuência prévia para retirada de água. Há duas semanas recebi o e-mail por meio do qual o Saae tem outorga prévia de retirada de água, o que é um primeiro passo positivo”, evidencia.
Giacobbo diz que isso garante à autarquia retirar 540 metros cúbicos por hora, o que significa 12.960.000 litros de água ao dia. Ele comenta que a nova estação somada aos poços existentes dobram a capacidade do município retirar água. “O próximo passo é fazer projetos de execução da estação de tratamento e tubulação para trazer água até a cidade, o que deve levar em torno de dois ou três meses, para depois avançar na construção da obra. A expectativa é de retirar água do Arroio Fundo até o final deste ano”, expõe.
A permissão do Instituto das Águas é para o Saae retirar 590 metros cúbicos por hora, no entanto o Arroio Fundo possui vazão mínima de mil metros cúbicos de água por hora. “Na época de frio o consumo diminui para cerca de 11 milhões de litros ao dia no município”, ressalta.
O diretor técnico do Saae menciona que o mais fácil seria perfurar um poço, o que custa de R$ 40 mil a R$ 50 mil, todavia nos últimos anos foram encontrados vários poços secos. “Dos poços utilizados alguns estão baixando a vazão. Um exemplo é para frente do Loteamento Ceval, que praticamente secou. Em outras épocas podia retirar 50 mil litros por hora, quando hoje se retira de cinco a dez mil litros de água por hora. Este poço apresenta o principal problema na cidade”, salienta, emendando: “nossa posição é de que se as chuvas aumentarem o racionamento pode ser paralisado, mas se tirar corremos o risco de daqui dois ou três meses ficar pior do que está hoje. Se chover uma semana inteira vai ter bastante água e daí volta ao normal”.

Técnico ambiental Fabio Regelmeier: “Quando for necessário e os poços estiverem com boa quantidade, passamos a utilizar água dos poços e o Arroio Fundo descansa, ou seja, a projeção é distribuir a forma de consumo de água no município” (Foto: Joni Lang/OP)
PROJETO
O técnico ambiental do Saae, Fábio Regelmeier, que trabalha na área de medição e avaliação da água, comenta que a ideia é utilizar a água do Arroio Fundo enquanto os poços existentes sejam reabastecidos com água da chuva. “Assim os poços descansam e reabastecem. Quando for necessário e os poços estiverem com boa quantidade, passamos a utilizar água dos poços e o Arroio Fundo descansa, ou seja, a projeção é distribuir a forma de consumo de água no município”, expõe.
Ele lembra que além do estudo do Saae para construir a nova estação de tratamento de água uma empresa contratada também desenvolveu projeto com este objetivo e entendeu pela viabilidade da nova estação e de abastecer a cidade com água do Arroio Fundo. A possibilidade é de que a nova estação seja edificada em uma propriedade nas imediações da Linha Concórdia, o que ainda depende de trâmites legais.

(Foto: Montagem/O Presente)
RACIONAMENTO
Quartas-feiras: parte do Centro da cidade e parte do São Lucas; bairros Ana Paula, Vila Gaúcha e Boa Vista.
Quintas-feiras: bairros Alvorada, Espigão, Líder e Marechal; parte dos bairros Botafogo, Centro, Higienópolis e São Lucas; bairros Primavera, São Francisco e Universitário.

(Foto: Montagem/O Presente)
O Presente

