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Marechal Despedida da presidência

“Me chamaram de ditador. Não sou ditador”, rebate Pedro Rauber

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Presidente da Câmara de Vereadores, Pedro Rauber: “Tomaram essa decisão sem falar com o grupo, e veio o resultado. Aceitamos. Só que tem um porém: quem não é da base não está na base. Se não quer ajudar, não atrapalha” (Foto: Arquivo/OP)

 

Após dois anos de gestão, o presidente da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon, Pedro Rauber (DEM), se prepara para entregar o cargo no dia 1º de janeiro (terça-feira da próxima semana). Quem assume o comando do Legislativo no biênio 2019/2020 será o vereador Claudio Köhler (Claudinho) (PP), eleito com oito votos a partir de uma nova aliança que se formou na Casa de Leis, a qual é composta por três parlamentares do DEM, dois do PP, dois do MDB e um do PSD.

Em entrevista ao Jornal O Presente, Rauber fez uma avaliação da gestão, falou sobre a independência dos poderes Legislativo e Executivo e rebateu as críticas que recebeu ao ser chamado por alguns vereadores da oposição de ditador. Confira.

 

Avaliação da gestão

Ao avaliar o biênio 2017/2018 à frente da Câmara, Rauber fala que seguiu com seu propósito em realizar os atos dentro da legalidade. “Isso fez com que pudéssemos ter uma economia muito boa nos dois anos. Tanto é verdade que chegamos na casa dos R$ 6,1 milhões devolvidos à prefeitura, considerando um índice que pedimos para reduzir do orçamento, tendo em vista que já tínhamos previsão que não eram necessários tantos recursos. Renovamos os equipamentos da Câmara com a aquisição de novos computadores, revisamos os aparelhos de ar-condicionado, enfim, tudo que esteve ao nosso alcance fizemos para melhorar as condições de trabalho. Nosso espaço é pequeno, mas deu para fazer um trabalho bom. Preciso agradecer toda minha equipe e a mesa diretiva”, destacou.

 

Insatisfação e turbulência

O presidente do Legislativo admite que algumas situações que por razão de lei não foram realizadas podem ter provocado insatisfação em alguns vereadores, mas ele frisa que está com a consciência tranquila. “Fiz o que a sociedade quer que faça. Nos últimos seis meses houve uma turbulência nas posições de vereadores, mas isso não atrapalhou em nada o nosso trabalho. Muito pelo contrário. Tivemos a renúncia do vice-presidente (Ronaldo Pohl, PSD), que eu nem me manifestei. Foi uma atitude mal pensada dele. Ninguém deixou de respeitar a posição que ele tinha na composição da Câmara. Ele era o vice, mas a verdade é que a palavra final é do presidente. E todas as questões que eu me posicionei foram para o bem de Marechal Cândido Rondon”, menciona.

 

Devolução de recursos

Rauber enaltece a nova sistemática adotada pela Câmara com a devolução de recursos antecipados ao Executivo. De acordo com ele, a partir disso foi possível realizar importantes obras, como a primeira etapa do asfalto que liga a PR-467 ao Clube Lira. “Há cerca de 30 dias devolvemos mais um recurso e está em fase de elaboração a licitação da segunda etapa do asfalto, de Novo Horizonte sentido cidade. São obras importantes. É só falar com a sociedade e com quem trafega naquela estrada de péssima qualidade. A sociedade está muito feliz. Alguns vereadores não entenderam e acharam que eu estava fazendo política. Se isso é política, toda vez que tiver a condição de ajudar a antecipar as sobras eu faria e faço. Veja Porto Mendes, durante 50 anos a escola ficou sem quadra coberta e inauguramos a obra esses dias. A população e as crianças estão felizes. Isso é fruto dos recursos que antecipamos. O dinheiro que fica no banco rende uma migalha de juros, mas a Câmara e o município não estão aí para ganhar juros de recursos. O município tem que procurar com agilidade realizar as obras”, afirma.

 

Independência entre os poderes

A nova aliança formada na Câmara tem pregado a necessidade de haver mais independência entre os poderes Legislativo e Executivo. Sobre esse assunto, o presidente é enfático: “Para a sociedade saber e colocarmos um ponto final definitivamente nestas distorções que pregam: sou presidente da Câmara e em dois anos não votei um projeto. Isso já caracteriza independência. O presidente não vota, só em caso de empate. Quem vota são os demais vereadores. Qualquer projeto é aprovado ou rejeitado pela maioria dos seus membros. Eles votaram livremente, sem ter pressão. Eu não voto. Eu só administro o Poder Legislativo. Fizeram confusão e me chamaram de ditador. Não sou ditador. Mas às vezes recebemos pedidos que são impossíveis para o presidente atender”, responde.

 

13º salário

Dentre um desses pedidos ele cita o pagamento do 13º salário aos vereadores. “Eu fui cobrado a todo instante. Me questionaram como Curitiba e outros municípios pagam e na Câmara de Marechal Rondon não. Uns quantos vereadores vieram me cobrar. Não paguei e não pagaria. Não estou dizendo que eles não têm direito. É legal, mas para mim é imoral. Os vereadores têm suas funções particulares e sempre defendi que vereador não merece 13º. Há alguns que querem e devem entrar na Justiça para conseguir, e talvez até vão receber, mas eu não paguei e não pagaria. Para quem administra a Câmara não pode olhar apenas o lado político, mas também o lado legal e moral. Sei que a sociedade repudiaria esse tipo de coisa se o vereador recebesse 13º. Me criticaram por conta do 13º ao prefeito e ao vice-prefeito, mas eles dão expediente em tempo integral, enquanto todos os vereadores têm suas atividades. Isso deve ser um dos grandes motivos para o descontentamento, mas somos todos amigos”, argumenta.

 

Conta aprovada

Rauber lembra que as contas de 2017 da Câmara foram aprovadas sem ressalvas pelo Tribunal de Contas e diz aguardar que o mesmo ocorra com a prestação de 2018. “Só cinco Câmaras do Paraná, e uma delas é de Marechal Rondon, tiveram as contas aprovadas sem restrições. Não fiz nada mais do que a minha obrigação, mas fiz. Aproveito para agradecer todos os funcionários que trabalham na área administrativa. Diante de tudo isso saio de cabeça erguida”, diz.

 

Acordo do grupo

Em entrevista ao Jornal O Presente, o vereador Valdir Port (Portinho) (PTB) declarou que havia um acordo que foi rompido. O entendimento era que com os nove votos do grupo de situação aquele que tivesse a maioria dos apoios internos seria o nome escolhido oficialmente para ser o candidato a presidente da Câmara. No entanto, esse acordo teria sido quebrado a partir do momento em que a oposição foi procurada e a nova aliança se formou no Legislativo.

O vereador-presidente concorda que o acordo não foi respeitado. “Não sei qual a razão que anteciparam essas conversas e desrespeitaram esse acordo. Concordo com o Portinho, pois neste aspecto ele tem razão. Até então eu não tinha nem tomado uma posição em quem votaria. Devo dizer que tínhamos um bom relacionamento com o Claudinho, com o Nilson (Hachmann, PSC) e com o Portinho, que eram os postulantes no início. Eu não dei preferência para ninguém até aquele momento, porque tínhamos um trabalho para realizar dentro da Câmara e projetos importantes para votar, como o orçamento. Pedi paciência alguns dias até que limpássemos a pauta e se fosse necessário me posicionaria”, expõe.

 

Biênio 2019/2020

Perguntado sobre como acredita que será a gestão do próximo presidente e o relacionamento da Casa de Leis com a prefeitura, Rauber comenta esperar que ele faça um bom trabalho, mas adverte: “Tivemos uma sistemática e a sociedade vai cobrar, pois já ouvi rumores de que chega de devolver dinheiro adiantado. Isso é questão do presidente entender desta forma, mas a sociedade vai se encarregar de saber do porquê isso ocorrer, mas eu não acredito. Deve prevalecer o bom-senso e deve se pensar em Marechal Cândido Rondon. A Câmara tem uma parcela grande de contribuição nas obras realizadas. Se querer começar a segurar o governo, mas imagino que não seja essa a intenção, a sociedade estará atenta e vai cobrar”, opina.

 

Decepção?

Já quando questionado se existe uma decepção pelo fato de três vereadores do próprio partido – Adriano Backes, Adelar Neumann e Cleiton Freitag (Gordinho do Suco) – serem hoje considerados pelo grupo de situação como oposição ao governo, o presidente da Câmara entende que com o tempo a sociedade ficará sabendo o que realmente aconteceu. “O tempo se encarrega de tudo. Nada melhor que o tempo. Eu procurei trabalhar dentro da lei. Sempre defendi que o diálogo encurta o caminho de todos os problemas. A solução está no diálogo. Tomaram essa decisão quietinhos, sem falar com o grupo, e veio o resultado. Aceitamos o resultado, mas a vida continua. Só que tem um porém: quem não é da base não está na base. Se não quer ajudar, não atrapalha. Acho que terão o bom-senso em deixar o governo trabalhar”, declara.

 

Renúncia do mandato

Por fim, ele volta a rechaçar qualquer rumor de que poderia assumir alguma secretaria na prefeitura, inclusive com eventual renúncia de mandato – essa foi a condição imposta pelo prefeito Marcio Rauber (DEM) para que algum vereador fosse nomeado para o Executivo. “Não faria um ato de desrespeito com quem me elegeu. Jamais faria isso. Mandato é coisa sagrada. Marechal Cândido Rondon me deu oito mandatos e renunciar seria um desrespeito à comunidade. Não faria de jeito algum e condeno quem faz. Está fora de cogitação. Me criaram um problema de constrangimento com secretário quando disseram que eu iria ocupar uma secretaria, mas não tem nada de verdadeiro neste assunto”, conclui.

 

“Marechal Rondon me deu oito mandatos e renunciar seria um desrespeito à comunidade. Não faria de jeito algum e condeno quem faz. Está fora de cogitação”

 

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