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Marechal GREVE INTENSA

Mesmo com acordo, paralisação dos caminhoneiros continua por tempo indeterminado em Marechal Rondon

Representantes da classe em Marechal Rondon dizem que os rumos da greve dependem das decisões do governo

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O Presente

De um lado, caminhões compõem enormes filas às margens das rodovias, e de outro, veículos se aglomeram em postos de combustíveis. O cenário contrastante foi a realidade vivenciada por muitos brasileiros durante essa semana, e é resultado de uma paralisação geral dos caminhoneiros contra o preço elevado dos combustíveis.

Iniciada na segunda-feira (21), a greve nacional entra hoje (25) no quinto dia de manifestações e, de braços cruzados, a classe pede que uma série de reivindicações apresentadas ao governo federal seja atendida. A principal delas é a redução da carga tributária sobre o diesel. Os motoristas pedem a zeragem da alíquota de PIS/Pasep e Cofins e a isenção da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

No Paraná, rodovias estaduais e federais são palcos das mobilizações que a cada dia ganham mais impacto. Até a tarde de ontem, de acordo com as polícias Rodoviária Federal e Estadual, passava de 200 o número de pontos de manifestação nas estradas do Estado.

Em Marechal Cândido Rondon, a mobilização teve início na terça-feira (22) e desde então o número de caminhões parados às margens das rodovias cresceu rapidamente. No total, são mais de 200 caminhões paralisados na BR-163, na saída para Toledo, no trevo de acesso aos municípios de Mercedes e Nova Santa Rosa e no distrito de Iguiporã.

 

Mobilização autônoma

Organizada de forma autônima pelos caminhoneiros, a mobilização não conta com respaldo de nenhuma entidade representativa da classe. “Nós começamos em uma turma de amigos, motoristas e donos de caminhões, que estão indignados com a atual situação. Não estamos conseguindo mais condições para trabalhar”, declara o rondonense Roberto Correia dos Santos, que trabalha há 12 anos como caminhoneiro.

No início, Santos não pensava que a mobilização tomaria essas proporções. “A princípio, nós achamos que seria uma ação normal, sem muita ajuda ou apoio. Mas dessa vez muitas pessoas estão do nosso lado”, afirma, acrescentando: “Trabalho para uma transportadora e todos os nossos caminhões estão na estrada. Muitos caminhoneiros estão parados em locais sem alimentos e até mesmo banho, porque realmente é necessário”.

O rondonense ainda justifica que a organização autônoma da manifestação se deve ao fato de eles (caminhoneiros) não quererem envolver política ou sindicatos. “Acredito que eles tiveram muito tempo para fazer as coisas para nós e não fizeram. Por isso, dessa vez vamos tentar fazer uma coisa por nós mesmos”, destaca.

Os impostos representam quase a metade do valor do combustível na refinaria. Segundo os caminhoneiros, a carga tributária menor daria fôlego ao setor, já que o diesel representa 42% do custo do frete.

Por conta dos reajustes diários no diesel, os caminhoneiros dizem estar no limite dos custos. Nos últimos 12 meses, o preço do diesel na bomba subiu 15,9%. “Em cinco dias, o diesel registrou seis aumentos. Isso torna o nosso trabalho inviável”, afirma o rondonense.

Além do diesel, a isenção do pedágio para eixo suspenso em todas as rodovias federais é outra reinvindicação da classe. “Caminhões que saem de Rondon, por exemplo, com destino a Curitiba ou Santa Catarina, passam por oito a nove pedágios, e isso é muita coisa para um caminhão que está trafegando sem receber pelo frete de volta e que ainda precisa pagar pelo eixo erguido”, critica o caminhoneiro.

No total, são mais de 200 caminhões paralisados na BR-163, na saída para Toledo, no trevo de acesso aos municípios de Mercedes e Nova Santa Rosa e no distrito de Iguiporã

Greve intensa

Enfático, Santos afirma que eles mesmos esperavam que a paralisação fosse por poucos dias. “Mas o encerramento ou a continuação da greve vai depender do governo. Nós não temos previsão de encerrar a manifestação. Serão eles que irão decidir”, ressalta.

O rondonense comenta que a mobilização desse ano é muito mais intensa do que as já realizadas pela classe. “Acho que não está ruim apenas para os caminhoneiros. Não é só o diesel que está alto. A sociedade como um todo está percebendo a situação”, pontua.

A maioria dos caminhões que estão paralisados nas rodovias em Marechal Rondon são de outras cidades e estados. “Para quem é da cidade pedimos para que deixasse o caminhão em casa. Até mesmo para não colocar muitos caminhões na rodovia e atrapalhar o trânsito, diz Santos.

 

Faltam respostas

O rondonense também lamenta a falta de respostas ao movimento. “Até agora, nem o Poder Público ou algum sindicato vieram conversar conosco. Nas outras greves eram prometidas as mudanças que depois não foram cumpridas. Dessa vez, ou o governo realmente muda, ou vamos continuar com as manifestações”, assegura.

Segundo o caminhoneiro, em janeiro deste ano o litro do diesel era vendido a R$ 2,80 e hoje é comercializado a mais de R$ 3,55. Em Mato Grosso, ele revela que o valor é ainda mais alto: de R$ 4,20 até R$ 4,50. “Nós queremos que o valor chegue a menos de R$ 3 ou não vai resolver”, enfatiza Santos.

Municípios vizinhos como Quatro Pontes, Mercedes, Pato Bragado (foto), Santa Helena e Missal também registraram atos em apoio aos caminhoneiros

Agricultores se unem à causa

Também reféns do alto preço dos combustíveis, os agricultores estão apoiando a greve dos caminhoneiros. Para eles, o crescente aumento no diesel causa uma reação em cadeia. “O consumo também é feito na pecuária e agropecuária, principalmente na produção de grãos. Estamos numa cadeia que sustenta o agronegócio”, destaca o agricultor Valmir Schkalei.

Ele ressalta a dificuldade em produzir alimentos com o diesel custando quase R$ 4 por litro. “Estamos trabalhando no vermelho e isso afeta diretamente no processo de produção, que, por consequência, vai impactar no abastecimento de produtos para consumo nos mercados”, expõe.

Valmir diz que apoia a greve mesmo que a paralisação traga deficiências também para as produções agrícolas. “Aos poucos tudo está parando. Os produtos e insumos para as produções também não estão chegando. Nosso intuito é parar para mostrar. Todo brasileiro queria isso, mas ninguém vai e ‘põe a cara a tapa’, por isso pedimos o apoio de todos esperamos que mais agricultores venham apoiar a causa junto aos caminhoneiros”, pede o agricultor.

Exclusivamente no trevo de Iguiporã, os agricultores manifestam com maquinários agrícolas dispostos na rodovia, dando corpo ao protesto dos caminhoneiros.

Municípios vizinhos como Quatro Pontes, Mercedes, Pato Bragado, Santa Helena e Missal também registraram atos em apoio aos caminhoneiros.

Manifestação no trevo de Iguiporã teve início na quarta-feira (23) e agricultores se uniram em apoio aos caminhoneiros

Confira a reportagem completa na edição impressa do Jornal O Presente desta sexta-feira (25). 

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