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Modelo inovador objetiva reduzir índices de mortalidade infantil em Marechal Rondon

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Há um mês, Marechal Cândido Rondon passou a contar com um novo modelo no atendimento das gestantes e futuras mamães do município. Considerada uma iniciativa inovadora até mesmo em nível regional, no âmbito do Comitê Macro Oeste do Rede Mãe Paranaense – programa da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) que propõe a organização da atenção materno-infantil nas ações do pré-natal -, desde o dia 02 de outubro as gestantes estão sendo atendidas de forma descentralizada para a realização do pré-natal nas Unidades Saúde da Família.

Na prática, isso significa que ao invés de as gestantes de todos os bairros e distritos do município realizarem o acompanhamento médico durante os nove meses na Clínica da Mulher, a partir de agora elas poderão ser atendidas nas Unidades Saúde da Família mais próximas de sua residência. “Na visão do Ministério da Saúde, do Sistema Único de Saúde e nós, enquanto gestão municipal, que também fizemos esse diagnóstico no início do ano com base nos dados do Ministério da Saúde acerca da mortalidade materno-infantil, refletirmos sobre a necessidade de adotarmos um sistema que impactasse nesses índices de forma positiva e, em conjunto às equipes de atenção primária e também da Clínica da Mulher, definimos este processo de descentralização do pré-natal”, expõe a secretária de Saúde, Marciane Specht.

Em médio e longo prazo, conforme a gestora da pasta, o processo de descentralização do pré-natal objetiva reduzir os indicadores de mortalidade infantil do município, que atualmente já estão abaixo do que é pactuado pelo Estado do Paraná. “Hoje temos um coeficiente de mortalidade infantil de 0,8% relacionado aos nascimentos ocorridos no Hospital Municipal Dr. Cruzatti, enquanto o preconizado é até 1%. No Paraná, este número está em 10,7% e no âmbito da 20ª Regional de Saúde em 13,2%”, compara.

Implantação

A descentralização do pré-natal para as gestantes rondonenses acontece nas nove Unidades Saúde da Família do município, localizadas nos bairros Vila Gaúcha, Marechal, São Lucas, Líder, Augusto, Primavera e Alvorada, além dos distritos de Porto Mendes e Margarida. A Unidade Básica de Saúde do bairro Botafogo também faz parte do novo modelo.

Nessas unidades, os clínicos gerais, que são médicos da família, passam a integrar a gestante no seu cuidado. “As futuras mães que começaram o pré-natal no dia 02 de outubro ou que descobriram uma possível gravidez nesta data já começaram a ter o atendimento nessas unidades”, informa a secretária.

O atendimento para este público ocorre da seguinte forma: inicialmente, a consulta acontece com o profissional de enfermagem, que realiza a triagem, exames e orientações à gestante de acordo com a linha guia do Rede Mãe Paranaense. “Com todos esses exames em mãos, faz-se a consulta com o médico. Em um mês, a consulta será com o médico e no outro com o enfermeiro”, complementa Marciane.

Os médicos da família e enfermeiros que atuam nas unidades de saúde que agora realizam o atendimento do pré-natal passaram, entre os meses de junho e setembro, por um treinamento com os cinco ginecologistas que atuam em Marechal Rondon. “Muito mais do que um treinamento e discussão de casos clínicos entre a equipe, houve uma troca de conhecimentos e experiências entre os especialistas e os clínicos gerais”, aponta.

A implantação do processo de descentralização do pré-natal, de acordo a gestora da pasta, não demandou de investimentos financeiros pela secretaria, já que estruturas como maca ginecológica, sonar, fita para medição da altura uterina, balança, entre outros, já estavam disponíveis nas unidades, bem como a equipe. “Este modelo também deve servir de exemplo para outros municípios a partir de agora”, pontua Marciane.

Visão holística

Dentro da visão de atendimento realizado pela Equipe Saúde da Família, além do acompanhamento realizado mensalmente pelo médico e enfermeiro, as futuras mamães também têm a carteira de vacinação avaliada, orientações nutricionais quando necessário e acompanhamento odontológico, já que há questões de doenças bucais que podem induzir ao parto prematuro, por exemplo.

Essas unidades, segundo a coordenadora da Atenção Básica da Secretaria de Saúde, Andreia Guissardi, trabalham com o modelo Agenda de Cuidados. Isso significa que em apenas uma visita à Unidade de Saúde as gestantes já podem realizar todos os procedimentos necessários além da consulta do pré-natal: atendimento com dentista, vacina e testes rápidos. “Como boa parte das gestantes são trabalhadoras, isso evita que elas precisem ir várias vezes à unidade, então ela consegue resolver todas as suas necessidades em uma única visita”, expõe.

Na primeira consulta que a mulher realiza, já é confeccionada a carteirinha de vacinação e, no mesmo dia, também são solicitados exames necessários, feita a avaliação da primeira consulta e coleta de preventivo quando necessário. “Quando há disponibilidade da paciente, ela também já passa pelo dentista nesta primeira consulta e, se por acaso ela tenha algum tratamento odontológico para fazer, já é programado todo o atendimento da gestante também em uma única ida à Unidade de Saúde”, menciona.

Outra novidade nas Unidades Saúde da Família foi a implantação do teste rápido de gravidez. A partir de agora, a mulher que está com alguma suspeita pode ir até unidade fazer o teste rápido e, se constatado, ela já inicia o pré-natal na hora. “Desta forma conseguimos alcançar mais gestantes com a primeira consulta realizada até o primeiro trimestre, pois o recomendado é que seja realizado o quanto antes, para fazer o monitoramento desta gestante, do bebê, caso seja uma gestação de alto risco que tenha o acompanhamento adequado”, observa Andreia.

As gestantes que realizam o pré-natal nas unidades são aquelas que apresentam gestação de risco habitual e intermediário. O pré-natal de alto risco, de acordo com a coordenadora da Atenção Básica, continua sendo realizado na Clínica da Mulher, no entanto, a paciente não deixa de pertencer à sua Unidade de Saúde para realizar o acompanhamento mensal, odontológico, exames, vacinas e testes rápidos. “Ela tem o acompanhamento extra da Clínica da Mulher e o hospital de referência continua sendo o Hospital Bom Jesus, de Toledo”, frisa a secretária de Saúde. “Esse ciclo integrado de atendimento visa a médio e longo prazo fazer a mudança dos indicadores, mas, em especial, fazer com que a população sinta-se mais segura no processo de pré-natal até o nascimento do bebê”, enfatiza Marciane.

Até outubro, conforme os dados repassados pela Secretaria de Saúde de Marechal Cândido Rondon, o número de óbitos infantis (crianças de zero a 365 dias de vida) era de 13 mortes. O índice, de acordo com a Secretária de Saúde, diz respeito não somente aos bebês nascidos no Hospital Municipal Dr. Cruzatti, mas, também, aos partos realizados em instituições particulares e em outros municípios. “Enquanto gestão, somos responsáveis por estes óbitos e prestamos conta nas investigações no Comitê Municipal de Óbito Materno e Infantil”, explica.

O número é inferior apenas ao ano de 2014, quando foram registrados sete óbitos infantis de nascidos vivos em Marechal Rondon. Em 2015 foram 21 e em 2016 15 óbitos. “Além de dar o acesso à saúde à população mais perto de sua residência, que vai de acordo com o que a lei nº 8.080 fala acerca da acessibilidade, igualdade e todos os direitos dos cidadãos acerca da saúde pública, nós temos como premissa e responsabilidade trabalhar com esses indicadores em nível de município. Queremos mostrar que uma simples ação de modelo assistencial, de centralizado para descentralizado, pode resultar na melhora desses indicadores”, pontua Marciane.

Desde o mês de junho, data em que os partos voltaram a ser realizados em Marechal Rondon pelo SUS após seis anos sem a prestação do serviço, foram feitos 123 procedimentos, dos quais 62 foram partos normais. Na unidade hospitalar rondonense, a média de partos realizados semanalmente é de dez procedimentos, todavia, o número é viável já que cada parturiente tem um tempo de trabalho de parto diferente da outra. “Tivemos apenas um óbito de nascido vivo cuja mãe teve o parto no Hospital Dr. Cruzatti, o que é muito triste. Nos sensibilizamos com a família que teve esta perda, mas, como já falei em outros momentos, a missão primeira de uma unidade hospitalar como um todo é restabelecer a vida ou tentar fazer a cura da patologia e outras muitas vezes infelizmente ocorre o óbito do paciente”, diz a secretária de Saúde. “Nós, profissionais de saúde que estamos na linha de frente, vamos fazer sempre o possível e o impossível para restabelecer a vida do paciente ou para que ele não venha a óbito, mas intercorrências clínicas e cirúrgicas acontecem. Precisamos ser responsáveis na forma de abordagem em relação a isso”, ressalta.

Em nível estadual, os óbitos são relacionados a cada mil nascimentos em uma relação de coeficiente, ou seja, a cada mil crianças nascidas vivas, pode-se ter no máximo dez óbitos. “Essa relação em Marechal Rondon, especificamente no Hospital Dr. Cruzatti, está dentro deste parâmetro e é importante que isso seja dito, pois as últimas informações veiculadas causaram um desconforto à população e nós, enquanto equipe técnica da Secretaria de Saúde, do Hospital Municipal, do 24 Horas, das Unidades de Saúde da Família, médicos, enfermeiros, entre outros profissionais, somos uma equipe altamente qualificada e nosso dever primeiro é de salvar vidas”, declara Marciane.

Confira a matéria completa na edição impressa desta sexta-feira (03).

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