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Marechal POLÊMICA

Narguilé em espaços públicos com os dias contados?

Projeto de lei que objetiva limitar o uso de narguilé pode impedir adeptos a fumarem em praças, áreas de lazer, espaços esportivos, entre outros locais públicos

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Mirely Weirich/O Presente

Em tramitação no Poder Legislativo de Marechal Cândido Rondon desde a última segunda-feira (23), um projeto de lei que objetiva proibir o uso de narguilé em locais públicos tem suscitado debates em rodas de conversas, nas redes sociais e, especialmente, entre os usuários dos cachimbos d’água.

Apresentado pelo vereador Vanderlei Sauer, o projeto de lei nº 17/2018 também pretende proibir a venda do cachimbo, essências e complementos para menores de 18 anos.

O narguilé é um tipo de cachimbo de origem oriental à base de água e tabaco, ao qual são acrescentados aromatizantes que são aquecidos pela queima de calor, e a fumaça passa por um filtro de água antes de ser aspirada por uma mangueira.

Apesar do sabor adocicado e da leveza do fumo, de acordo com o Ministério da Saúde, a nicotina do narguilé é menos concentrada em função da filtragem com água. Este processo, ao invés de tornar o fumo menos tóxico, faz com que o usuário dê tragadas mais profundas para atingir níveis satisfatórios da toxina. “Como qualquer produto do tabaco que é fumado, o narguilé vai produzir na sua combustão todas as 4,7 mil substâncias tóxicas já conhecidas do cigarro e que causam doenças crônicas e cânceres”, cita a doutora Liz Maria de Almeida, gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e que, atualmente, trabalha com temas acerca da efetividade das ações de controle do tabaco.

 

Saúde pública

Autor do projeto, o vereador Vanderlei Sauer argumenta que a proposta vem ao encontro de um problema de saúde pública, não apenas em Marechal Rondon, mas em todo o Brasil. “Vemos filas e mais filas nos hospitais públicos e temos que buscar medidas a fim de prevenir que as filas aconteçam, criando mecanismos que auxiliem na prevenção e promoção a saúde”, destaca.

Ele afirma que esta também é uma medida necessária para impedir o acesso e uso do narguilé especialmente pelos adolescentes. “Comumente vemos grupos utilizando o narguilé em nossa cidade em espaços públicos e até mesmo em frente a empresas. Essas situações já geraram reclamações por conta do lixo que muitas vezes é deixado em frente aos comércios que causa transtorno aos comerciantes, além do fato de prejudicar a saúde”, expõe.

 

Riscos

Embora seja difundida a ideia de que o tabaco fumado com o narguilé seria menos prejudicial do que o cigarro, pela nicotina ser o ingrediente principal dos refis para narguilé, bem como do cigarro, conforme a nota técnica “Uso de narguilé: efeitos sobre a saúde, necessidades de pesquisa e ações recomendadas para legisladores”, publicada pelo Ministério da Saúde e pelo Inca no ano passado, o uso do cachimbo pode ter efeitos prejudiciais sobre os sistemas respiratório e cardiovascular, na cavidade bucal e dentes.

Em longo prazo, os fumantes de narguilé têm mais incidência de doença pulmonar obstrutiva crônica, doença periodontal (condições inflamatórias que afetam o tecido gengival), além dos cânceres bucal, de esôfago, pulmão, bexiga, carcinoma gástrico e doenças respiratórias, principalmente bronquite crônica.

 

Pior que cigarro?

Uma das principais características do consumo de narguilé é o padrão de uso diferenciado do cigarro. Conforme a nota técnica do Ministério da Saúde e do Inca, particularmente entre os jovens, o consumo de narguilé geralmente é considerado um passatempo em grupo e na companhia de amigos.

Neste sentido, o órgão argumenta que por uma sessão de narguilé levar em média uma hora, somado a sua limitada acessibilidade ou mobilidade, o padrão de uso é intermitente, ou seja, o uso do cachimbo cessa e recomeça por intervalos.

Por ser compartilhado, outras consequências que decorrem do uso do narguilé estão na transmissão de hepatite C, herpes e tuberculose.

Do mesmo modo como acontece com a fumaça do cigarro, os relatórios sobre o conteúdo tóxico da fumaça de narguilé, conforme o instituto, podem variar muito. Todavia, todos os estudos até o momento indicam que durante uma sessão típica de uso de narguilé, o usuário tragará grandes doses de substâncias tóxicas, variando desde o equivalente a menos de um cigarro até dezenas.

Essas substâncias tóxicas foram relacionadas à dependência química, às doenças cardíacas e pulmonares e ao câncer em consumidores de cigarro, podendo gerar resultados semelhantes em usuários de narguilé se quantidades significativas dessas substâncias tóxicas forem absorvidas pelo corpo.

Por uma sessão de narguilé expor o adepto a um período longo de contato com a nicotina, o Ministério da Saúde estima que, enquanto a quantidade de fumaça inalada quando se fuma um cigarro varia entre 0,5 e 0,6 litros, o volume é de 0,15 a um litro em uma tragada do narguilé.

Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma hora de uso do narguilé equivale a tragar cerca de 100 cigarros.

 

Porta de entrada

Conforme o Inca, apesar de o cigarro ser a forma predominante de uso de tabaco em quase todo o mundo, o uso de narguilé é responsável por uma parcela significativa e crescente do tabagismo em nível global.

Em alguns países, o uso do cachimbo tem excedido o uso do cigarro, com utilização crescente tanto por homens como por mulheres, sendo considerado pelo órgão como mais preocupante entre jovens e crianças. “Não é comum termos situações envolvendo crianças e adolescentes utilizando narguilé, inclusive uma das nossas estratégias para coibir este ato são as blitz que fazermos em tabacarias e outros estabelecimentos onde é permitido fumar, porém nunca tivemos nenhum flagrante”, informa a conselheira tutelar de Marechal Rondon, Ilse Grosklass.

Por outro lado, explica, é sabido que há muitos adolescentes que adulteram documentos para acessar esses espaços, portanto, não é possível tomar nenhuma medida. “Se não conhecemos a fundo o adolescente e ele apresenta o documento, não temos como agir”, reforça a presidente do Conselho Tutelar, Glecy Rauber Antunes.

Na visão das conselheiras, muitas vezes os próprios adultos acabam influenciando os adolescentes a usarem o narguilé. Neste sentido, afirmam, a proposta do projeto de lei nº 17/2018 vem ao encontro dos trabalhos que já são realizados no município a fim de coibir o uso de narguilé por menores e em prol da manutenção da saúde pública. “É importante lembrar que também cabe aos pais orientarem os filhos sobre saber escolher entre o sim e o não quando algo como o narguilé é apresentado. Os pais não podem se cansar de falar e orientar diariamente sobre a nocividade dessas drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, que são proibidas para menores de idade”, reforça Ilse.

Por ser tão nocivo quanto o cigarro, Glecy observa que quando um adolescente começa já tão jovem a consumir essas toxinas o prejuízo à sua saúde é ainda maior. “O cérebro dele ainda não está formado completamente e vemos adolescentes de 12, 13 anos fumando narguilé. Para eles, talvez pareça uma forma de se reafirmar perante seu grupo, de se sentirem incluídos, mas eles não têm noção de quão prejudicial esse ato está sendo e as consequências que isso pode trazer no futuro”, complementa a presidente do Conselho Tutelar.

 

Confira a reportagem completa na edição impressa do Jornal O Presente desta sexta-feira (27). 

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