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Piloto do barco que faz a travessia Porto Mendes/Porto Adela conta os desafios do dia a dia no Lago de Itaipu

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(Foto: O Presente)

Antônio Malgarejo Dias de Vivar, conhecido como Heirich, 50 anos de idade, reside no Brasil, mas tem nacionalidade paraguaia. Ele é o piloto responsável pelo transporte de barco que liga o distrito rondonense de Porto Mendes a Porto Adela, distrito do Paraguai, localizado no Departamento de Canindeyú. Tem vasta experiência por acompanhar seu pai nos trabalhos pelo rio desde os dez anos.

Anteriormente a embarcação pertencia a Clementino Benitez, sendo registrada desde 1985. Quando Benitez se aposentou, Laudi Prochnow assumiu como proprietária da embarcação em 2008, e no mesmo ano Heirich começou a trabalhar para Laudi.

A travessia Porto Mendes/Porto Adela funciona de segunda-feira a domingo, saindo às 08 horas de Porto Adela com os passageiros vindos do Paraguai, e às 09h15 leva os passageiros brasileiros até o Paraguai. À tarde a saída do Paraguai é às 16h30 e o retorno às 17h15.

De acordo com Heirich, em dias de feriado o barco vai cheio, com cerca de 30 pessoas por embarcação. “No entanto, teve dias que já atravessei com apenas três passageiros”, expõe à reportagem de O Presente.

Ele conta que a maioria dos passageiros que viaja do Brasil ao Paraguai vai visitar parentes que muitas vezes ficaram no país vizinho cuidando das terras da família. Já os que vêm do Paraguai para cá, comenta, na maioria das vezes, têm como destino o supermercado, devido à maior oferta de variedades de produtos no Brasil. “A chance de Porto Adela melhorar é grande, porque virou município há pouco menos de um ano”, pontua o piloto do barco.

Antônio Malgarejo Dias de Vivar, piloto responsável pela embarcação que faz a travessia Porto Mendes/Porto Adela: “Já nasceu e faleceu muita gente na minha embarcação” (Foto: O Presente)

Laudi Prochnow, proprietária da embarcação que liga Porto Mendes a Porto Adela: “O fluxo de passageiros é pequeno, diminuiu bastante, e o pouco que tem os piratas vêm e levam” (Foto: O Presente)

 

EMERGÊNCIAS

Trabalhar sobre a água envolve diversos fatores que contribuem ou não para uma boa viagem. Heirich diz que não foram poucas as vezes em que durante o trajeto formou-se uma tempestade. “Nessas situações sempre tem alguém rezando, e rezam até por mim, porque não tenho tempo”, menciona, acrescentando: “Em momentos assim é preciso navegar firmemente. Teve vezes em que meu corpo tremia incontrolavelmente, mas com toda a minha prática chegamos bem em terra firme”.

Conforme o piloto, situações ligadas à saúde também geram apuros. “Hoje em dia já não tanto, mas antigamente não tinha nem telefone (em Porto Adela). O barco era uma espécie de ambulância. Às vezes, durante a noite, pessoas vinham em minha casa pedindo ajuda, e eu as trazia até o Brasil”, relata. “Já nasceu e faleceu muita gente na minha embarcação”, amplia.

Numa dessas emergências, ele lembra que nasceu uma menina que hoje mora em Porto Mendes e está esperando um filho. “Outros por 15 minutos eram salvos porque eu conseguia chegar tão rápido e a ambulância já estava esperando para levar a Marechal”, enaltece.

 

Travessia Porto Mendes/Porto Adela funciona de segunda-feira a domingo: há dias em que o barco vai e volta cheio; em outros, nem tanto (Foto: O Presente)

 

CONTRABANDO

Pelo fato de o Lago de Itaipu ser rota de contrabando, Heirich comenta que em algumas de suas travessias a Polícia Militar, a Marinha e a Polícia Federal já revistaram o barco e os passageiros à procura de armas e drogas. “O porto onde trabalho é muito tranquilo. Sempre penso que é graças à praia que temos. As famílias precisam de segurança, por isso não temos tanto contrabando aqui. Se tem, sabemos que é para cima ou para baixo”, ressalta.

Ele salienta que se quisesse podia ter se tornado contrabandista, anos atrás. “Eu não quis e vim trabalhar do lado brasileiro. Eu tenho aqui a minha documentação toda em dia, carteira de trabalho registrada. Se eu quisesse ter sido contrabandista, estaria rico no Paraguai, mas não poderia ter vindo para cá”, destaca.

Em relação ao pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, aprovado em dezembro de 2019, que visa melhorias referentes ao crime organizado, corrupção e crime violento, o piloto é da opinião que ele vai ter reflexo no que diz respeito ao contrabando no lago. “Isso é muito bom e vai ajudar com certeza. Já dá até para notar que tem uma melhoria”, afirma.

Registro do embarque de passageiros com destino ao Paraguai (Foto: O Presente)

 

ROUBOS

A proprietária do barco pilotado por Heirich, Laudi Prochnow, conta que diversas vezes foram roubados enquanto a embarcação estava ancorada na praia. “Todas as vezes que deixamos o barco aqui, eles esvaziam os extintores, roubam as ferramentas, arrancam os fios, mexem no motor, pegam o colete, usam e jogam no chão, eles fazem uma bagunça”, lamenta.

Por conta disso, ela menciona que o barco fica ancorado em Porto Adela, e todos os dias Heirich atravessa o rio com um barco menor para buscar a embarcação do outro lado do lago. “Eu gostaria de poder deixar a embarcação aqui, mas eu não tenho nenhuma segurança”, aponta.

 

PIRATAS

Além dos roubos, outra cosia que traz preocupação, diz Laudi, são os piratas que se encontram no Lago de Itaipu. “Pessoas que trabalham, pegam o que é da gente, não pagam imposto, não têm número de inscrição, não têm documento, não têm nada! Eles carregam, encostam do lado do meu barco e levam os passageiros aonde querem”, critica.

Quando a Marinha aparece para vistoriar as embarcações e as documentações “os clandestinos não aparecem, todos somem”, enfatiza Heirich.

Ele diz que já sofreu ameaça de morte de clandestinos enquanto trabalhava. “Em um horário de desembarque, veio um pirata e queria brigar comigo, porque eu reclamei para a Marinha e para a prefeitura sobre a clandestinidade. É o direito da gente reclamar, contudo, às vezes, não dá, porque pode ocorrer de alguma pessoa fazer alguma ameaça”, salienta.

O piloto destaca que a questão da clandestinidade é uma “briga” de anos. “O fluxo de passageiros é pequeno, diminuiu bastante, e o pouco que tem os piratas vêm e levam. Muitas vezes eu vou com minha embarcação vazia e encontro um ou dois barcos piratas cheios de passageiros”, conta Laudi.

Com a diminuição da demanda de passageiros e a clandestinidade presente, um dia acaba compensando o outro. “Se você contar o dia a dia de trabalho você desiste. Há dias que você não leva ninguém, um dia tem vento, outro chove, mas têm dias que são bons, e você faz uma média que dá para sobreviver”, detalha. “Trabalhar com isso não é algo que vai fazer você ter fortuna, mas você sobrevive. Tem que brigar muito para as pessoas não invadirem o seu espaço”, ressalta.

 

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