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Marechal Pesquisas de rochagem

Pó de pedra é usado como alternativa de remineralização do solo

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Professora doutora Edleusa Seidel, do campus da Unioeste em Marechal Rondon: “Temos concentrado as principais pesquisas no basalto. Até podemos buscar de fora, mas a ideia é identificar resultados para os nossos produtores em nossa região” (Foto: Divulgação)

A inquietação leva o indivíduo a fazer perguntas e é neste sentimento de busca por conhecimento que nasce a pesquisa. É essa rotina de tentativa e erro, reavaliação e descoberta que surgem as verdadeiras mudanças da sociedade. Cada pessoa é um pesquisador a seu modo, quando tenta fazer algo novo ou diferente, quando tenta melhorar aquilo que já faz; é uma pesquisa empírica, literalmente na prática. Por exemplo, um tempero diferente ou um outro modo de assar a comida, um tipo diferente de roupa, a escolha de uma nova rota, em todo o tempo estamos fazendo pesquisas, e nossas escolhas são modelos de pesquisa que buscam novos resultados para nossa vida.

O produtor rural é um pesquisador nato, sempre em busca de melhores resultados e com as melhores ferramentas, maximizando a produção com redução de custos e mais benefícios para o modelo de gestão, produção e de preservação ambiental.

E há também o outro nível de pesquisa: a pesquisa acadêmica, a partir da qual estudantes levam para as salas de aula e para os laboratórios os problemas encontrados em seu dia a dia e por meio da experimentação são capazes de produzir conhecimento, identificar soluções e propor mudanças.

No Paraná há vários polos de pesquisa focados nas mais diversas interações, sejam sociais, econômicas ou produtivas. São empresas privadas, pesquisadores independentes e também, em especial, as instituições de ensino. Caso da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), que em seus vários campi e espaços de educação fomenta a pesquisa e as melhorias nas mais diversas áreas, em especial para a produção agrícola e pecuária, que estão diretamente ligadas ao progresso regional.

Uma das professoras e pesquisadoras da área agrícola é a doutora Edleusa Pereira Seidel, do Centro de Ciências Agrárias do campus da Unioeste em Marechal Cândido Rondon. Ela trabalha com as áreas de Gênese e Física do Solo e está envolvida junto com mais cinco pesquisadores (entre estudantes de graduação e pós-graduação) em pesquisas de rochagem, ou seja, o uso do pó de rocha como remineralizador do solo. “Não se trata de uma tecnologia nova, mas não é muito aplicada em nossa região. Essa proposta de uso do pó de rocha é muito antiga e existem muitos trabalhos e experimentos internacionais e até mesmo no Brasil, mas ela é pouco explorada ou conhecida pelo produtor rural. Essa proposta de trabalho começou a partir de um curso que realizamos na universidade e surpreendentemente houve a participação de pessoas de todo o país, um público variado e muito interessado no assunto. Então, percebemos a relevância do tema e também descobrimos que há uma demanda que vem dos produtores rurais que buscam por mais informações, por mais dados e, em especial, por resultados regionalizados que tratem especialmente do nosso solo”, comenta a professora.

 

PÓ DE PEDRA

O solo é a rocha temporizada pelo tempo. Trata-se de uma rocha que foi moída por ação dos ventos, chuva e mudanças climáticas ao longo dos milhares de anos, descreve Edleusa. “O nosso solo já foi rocha em algum momento. Temos um solo velho, como todos os solos tropicais, que é característica de alta atividade microbiológica, diferente de outras regiões do Hemisfério Norte e de climas mais frios. No cultivo vamos extraindo os minerais pelas plantas e grãos. Por isso hoje fazemos a reposição dos minerais no solo, o produtor trabalha com os principais, o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), mas sabemos que as plantas precisam de muitos outros minerais”, expõe a docente, ao lembrar que existe um grande movimento envolvendo pesquisadores, produtores, empresas e instituições preocupadas em garantir a sustentabilidade da produção por meio da preservação do solo.

Conforme a pesquisadora, o pó de rocha colabora para o desenvolvimento da microbiota presente na terra e estes microrganismos vão potencializar a qualidade do solo e também disponibilidade de nutrientes para as plantas. “O pó de rocha é um adubo natural. Claro que ele tem diferenças em relação ao adubo solúvel e por isso terá resultados e tempos diferentes. Por exemplo, os adubos solúveis, que usamos regularmente, são de rápida absorção pelas plantas, mas isso também é ruim porque estão susceptíveis a perdas por arraste e solubilidade. O pó de rocha tem uma ação diferente, um resultado a longo prazo e dependerá da lixiviação. Os minerais entram em contato com o solo e então a planta libera exsudados para absorção, por meio de ácidos orgânicos, que farão a degradação do pó e absorção dos minerais”, explica.

 

REMINERALIZAÇÃO

Segundo Edleusa, o objetivo não é substituir 100% da adubação, mas sim apresentar alternativas. “Maneiras diferentes de produzir e diminuir custos, principalmente quando observamos que 80% da matéria-prima dos adubos minerais é importada. A proposta é fazer os dois juntos, de modo a potencializar os resultados de adubação. Com o adubo solúvel para o resultado a curto e médio prazo e o pó de rocha para um resultado mais expressivo ao longo prazo”, pontua.

Muitas pesquisas em relação ao uso do pó de rocha já estão em andamento no Brasil, especialmente nas regiões mais ao Sul e também no Sudoeste, mas a pesquisadora comenta que a grande relevância deste modelo é a regionalização, o uso das rochas do Paraná e da região. “Nossa rocha é o basalto. Temos concentrado as principais pesquisas nesse material. Até podemos buscar de fora, mas a ideia é identificar resultados para os nossos produtores em nossa região”, revela.

Mas ela faz um alerta: “Já temos muitas empresas comercializando e o produtor deve ter muita atenção, não é simplesmente comprar e colocar na terra. Deve ter um produto adequado e principalmente um acompanhamento técnico”, orienta, ao lembrar sobre a micragem adequada do pó, que deve ser menor que 0,3 mm por grão. “Não é pó de mineração. Claro que temos mineradoras cadastradas como remineralizadoras, mas não é só pó, deve ter as especificações adequadas para um resultado eficiente”, ressalta.

A professora e seu grupo de pesquisa mantêm trabalhos de avaliação e esperam, além dos resultados atuais, apresentar nos próximos anos mais informações regionalizadas em relação ao pó de pedra. “Estamos à disposição de todos que buscam por mais informações e queiram participar de nossa pesquisa”, convida.

Pó de rocha para um resultado mais expressivo ao longo prazo (Foto: Divulgação)

 

Com assessoria

 

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