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Marechal Economia x pandemia

“Quanto menor a empresa, maior será o impacto”, expõe analista rondonense

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(Foto: Divulgação)

A economia brasileira começava a dar sinais claros de recuperação gradual quando o país foi atingido em cheio pela pandemia do coronavírus, no início de março.

Até poucas semanas atrás, o Boletim Focus, que é divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central e traz as expectativas do mercado para os principais indicadores econômicos do país, avaliava que Produto Interno Bruto (soma de todos os bens e serviços produzidos no país) poderia fechar 2020 com alta de 2,3%.

Os números têm sido revisados constantemente e, no Boletim Focus de segunda (30), a previsão já aponta queda de 0,48% no PIB. Há, no entanto, os economistas que avaliam que a situação pode ser pior. “Nossa equipe econômica na Quantitas tinha, antes do coronavírus, estimativa de PIB de 1,5% em 2020. Agora está sendo revisada para -2,3%, mas há quem indica -4%”, revela o sócio diretor da empresa, rondonense Marcel Kussaba. A Quantitas é uma empresa gestora de recursos que cuida de R$ 2 bilhões em fundos de renda fixa, multimercado e ações.

Para este ano, o Banco Central tem como meta entregar a inflação em 4% ao ano, com tolerância de 1,5% para cima ou para baixo. Já a taxa Selic, antes da pandemia, estava estável em 4,25% e agora está em 3,75%, mas com expectativa de mais corte. A equipe econômica da Quantitas avalia que o percentual da Selic pode chegar a 2,75% e a inflação ficar em 1,6%.

“Mas, desta vez, a queda de juros e a queda de inflação ocorrem por falta de atividade econômica. Acho que isso pouco demonstra o impacto que está tendo agora no segundo trimestre, que é muito forte”, afirma Kussaba.

Segundo ele, a diferença significativa vai depender do período em que as empresas permanecerão fechadas.

 

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

De acordo com o analista de investimentos, uma das maiores preocupações envolvem as micro e pequenas empresas. “Uma vez que ocorre o fechamento do comércio, as micro e pequenas empresas não têm acesso ao crédito, não têm caixa, não têm poupança o suficiente para geralmente enfrentar uma crise. Estamos falando da grande massa, pois claro que existem exceções a essa regra”, expõe.

Kussaba frisa que estas empresas não têm liquidez em momentos de crise. “Pode ser que quando houver a reabertura do comércio, essas empresas não voltem. Esse é um impacto que torna a crise do coronavírus algo que todo mundo entende como conjuntural, mas que pode se tornar estrutural. Vai se tornar estrutural se ficar muito tempo assim para a micro, pequena e média empresa”, declara.

 

IMPACTOS

Ao analisar pesquisas de mercado realizadas por corretoras e bancos, Kussaba explica que no dia 03 de março mais da metade das empresas consultadas não esperavam um impacto grande em seus negócios diante da pandemia. Menos de um mês depois, o cenário mudou e todos sentiram o “baque”.

“Noventa e nove por cento das empresas estão dizendo que terão algum impacto, seja pequeno a muito grande, sendo que grande atinge 45% e 32% dizem que será muito grande. E quanto menor a empresa, maior será o impacto. O motivo é muito claro: o acesso ao crédito”, analisa o rondonense. “A micro, pequena e média empresa tem pouco caixa para aguentar uma falta de receita total. Todos os custos fixos da empresa continuam, isso é fácil perceber”, acrescenta.

Kussaba exemplifica com outro dado: “A pesquisa que temos acesso mostra que, com as atividades paradas, 60% das empresas só têm caixa para 60 dias, sendo que 20% das empresas responderam que só têm caixa para aguentar de zero a 15 dias sem ter receitas. Essa é a conta mais perversa. Se o isolamento levar 60 dias, matará a metade das micro e pequenas empresas sem aporte dos proprietários ou crédito a custos caros”, reforça.

Diante disso, o analista avalia que são empresas que podem ficar de fora do mercado quando a crise passar. “É algo que olhamos com muita seriedade”, alerta.

 

SETORES FECHADOS

Ao acompanhar a Bolsa de Valores, o sócio diretor da Quantitas diz que os setores mais afetados neste momento são aqueles que envolvem mobilidade e transporte, como agências de turismo e turismo, empresas aéreas, empresas de transporte, empresas de aluguéis de veículos e distribuidoras de combustíveis, sem contar determinadas lojas que estão fechadas.

“Outro ponto importante quando olhamos para o que aconteceu no restante do mundo, como na China, é observar o que recuperou primeiro. O que recupera primeiro é a indústria, depois a construção civil e a última coisa que retorna é o comércio. Ainda não está normalizado o fluxo de pessoas em grandes centros de aglomeração, como shoppings centers. Esse setor, naturalmente pela cautela, vai demorar mais para se recuperar”, menciona.

 

AGRONEGÓCIO

Por outro lado, existem três segmentos que neste momento estão na categoria de menos afetados pela pandemia: farmácia, supermercado e agronegócio. “A demanda por comida continua. O dólar alto favorece e as commodities, com exceção do algodão, estão com preço subindo. Isso nos ajuda. O preço do petróleo caiu e isso diminui o dos nitrogenados e frete. É uma bênção a região ser dependente do agronegócio, pois neste momento é menos afetada em termos macroeconômicos”, enaltece o rondonense.

 

PACOTES DO GOVERNO

Segundo Kussaba, para haver a recuperação da economia desta vez são necessárias medidas além da queda de juros, a qual é praticada para estimular o consumo. “Não é porque os juros caíram que o consumidor vai gastar. O consumidor vai investir quando ver a demanda acontecendo. Esse é o lado empresarial. Esses auxílios de dinheiro precisam ser centrados em micro e pequenas empresas, sem falar nos autônomos, para que não quebrem e consigam permanecer vivas quando a economia voltar”, destaca.

O rondonense chama atenção que não dá para ignorar o custo econômico da crise, pois afeta a todos. “Achar o equilíbrio entre saúde e economia é muito difícil. O desafio do governo é fazer como esse dinheiro (do pacote econômico) chegue nas empresas que realmente precisam, que é o autônomo, micro e pequeno empreendedor. São aqueles que não têm condições de ficar um mês parado”, conclui.

 

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