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Marechal 20ª Regional de Saúde

Rondon é o 7º município com maior índice de suicídio

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Psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e coordenador do Comitê de Saúde Mental e Enfrentamento à Violência, João Paulo Brunelo Miguel: "Número de suicídios no município é considerado preocupante" (Foto: Mirely Weirich/Leme Comunicação)

O suicídio é a 4ª maior causa de morte entre jovens no Brasil, acometendo mais de 800 mil pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em Marechal Cândido Rondon, na avaliação do psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e coordenador do Comitê de Saúde Mental e Enfrentamento à Violência, João Paulo Brunelo Miguel, o número de suicídios no município é considerado preocupante para a rede de atenção à saúde. “Entre 2007 e 2017 foram 17 casos de suicídio no município, índice que, quando colocado proporcionalmente ao número de habitantes, chama a atenção para a necessidade de prevenir o suicídio promovendo cada vez mais a discussão do tema não apenas como algo negativo, mas com a positividade de dar acolhimento, atenção e ouvir as pessoas que precisam de tratamento”, avalia.

Com base nos dados apontados na pesquisa “Suicídio e Ocupação Funcional na 20ª Região de Saúde do Paraná”, que apresentou o coeficiente de mortalidade por lesões autoprovocadas intencionalmente entre 2008 e 2015, Marechal Rondon aparece na 7ª posição, com coeficiente de 10,7. A cidade com o maior coeficiente é Nova Santa Rosa, com 17,2, e o município com o menor índice é Ouro Verde do Oeste, com coeficiente zero.

O estudo mostra que apesar do atendimento voltado à população acometida por doenças psicopatológicas por meio da Rede de Saúde Mental em todo o Paraná ainda há dificuldade no acesso, em especial, ao público da zona rural. “O estudo demonstra que o maior coeficiente de mortalidade por suicídio na região Oeste está ligado às pessoas da zona rural e o que se coloca em questão neste sentido é a dificuldade deste público em ter acesso à rede de atendimento, tanto nos programas de prevenção quanto à promoção à saúde, além de algumas comunidades ainda serem bastante fechadas e conservadoras para falar abertamente sobre o tema”, pontua Miguel.

Os dados também revelam que o maior número de suicídios ocorre entre homens do que entre mulheres. “Na pesquisa observamos que o público feminino realiza as tentativas de suicídio como, por exemplo, a alta dosagem de medicamentos, que seria uma forma reversível. Já os homens, em sua maioria, utilizam de formas que realmente levam à morte imediata”, expõe. “Todos esses aspectos são muito preocupantes”, assinala o psicólogo.

 

Ninguém está fora do risco

Apesar de os índices mundiais e nacionais apontarem para o suicídio ser a maior causa de morte entre os jovens, crianças e adolescentes estão aparecendo cada vez mais nos índices – especialmente pelo contato com as redes sociais.

Correntes e desafios como da Baleia Azul e da Boneca Momo, que propõe a esta faixa etária, por meio das redes sociais, desafios de auto mutilação, resistência ao sufocamento e o próprio suicídio reforçam a necessidade de a família fortalecer seus vínculos. “As crianças são um público muito vulnerável. Elas estão em um ponto da sua formação onde aquilo que o outro passa grande impacto em suas vidas, por isso reforçamos tanto a responsabilidade da família para com a criança, a necessidade do cuidado, do monitoramento e do desenvolvimento de referências sobre como viver nessa realidade”, enfatiza o psicólogo.

Já os adolescentes, diz Miguel, possuem maior complexidade, pois estão em uma zona de transição, não identificando-se como crianças, mas também não como adultos. “Neste momento eles também estão vulneráveis porque este é um período de experimentações identitárias, por isso esses jogos e desafios atraem os adolescentes parar querer desvendar e experimentar o que é, o que está acontecendo”, explica.

Além disso, o comportamento de grupo deste público, de querer fazer e estar onde os demais estão e fazem também os deixa vulneráveis aos riscos. “E na maioria das vezes, os adolescentes não conseguem definir, nessas experimentações de identidade, onde está o risco. Falta o senso de consequência nisso que eles estão buscando”, observa.

Miguel relembra que os idealizadores de jogos como Baleia Azul e Boneca Momo têm uma intenção perversa no sentido de manipular e conduzir crianças e adolescentes para ações autodestrutivas, e o grande problema que deve ser uma preocupação da sociedade é de que esses desafios colocam suas vidas em risco. “Eles são manipulados por um outro que não se importa, não tem nenhuma responsabilidade sobre essas crianças e adolescentes e eles, na outra ponta, não têm a percepção de que estão expostos a situações de violência e perigo”, alerta.

Para lidar com estas situações, menciona o psicólogo, é necessário que a sociedade estimule as crianças e adolescentes a compartilharem suas experiências, que quebrem o tabu e que tais temas possam ser discutidos e não julgados. “Não pode haver uma postura de desmoralização acerca destes temas e, acima de tudo, eles precisam ter referência de vínculo social e a família tem o dever de fazer isso”, salienta o psicólogo.

 

Como ajudar

Ele orienta que em casos de urgência, como quando a pessoa está tentando cometer suicídio, é importante que seja acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para encaminhar a pessoa à Unidade de Saúde 24 Horas ou encaminhá-la ao local. “Chegando lá, a pessoa será atendida e passará por uma sedação para, posteriormente, ser encaminhada à rede de atendimento em saúde mental, que em Marechal Rondon é o Caps”, explica.

Quando a pessoa chega ao Caps, comenta, é um caso de espera zero – de emergência. “Isso significa que eu, como psicólogo, preciso parar o que estou fazendo e dar atenção total a esta pessoa, pois ela não pode ficar esperando, ela precisa de assistência imediata. Este é um princípio que seguimos enquanto Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo um planejamento para o tratamento junto da família”, esclarece.

Em casos onde não houve tentativa de suicídio, porém a família ou amigos percebem que a pessoa corre riscos por apresentar comportamentos de depressão, síndrome do pânico, dependência química, problemas de dependência química ou crises emocionais em que ela esgota sua capacidade de lidar com o que está passando, com sua vitalidade, o indicativo deve ser a rede básica de saúde. “Tanto em uma Unidade Básica de Saúde quanto na Unidade 24 Horas. A família ou amigos devem informar que esta pessoa está em risco, está em sofrimento ou com ideações suicidas, e a partir disso ela é colocada na rede de atendimento. Essa pessoa será encaminhada ao Caps, onde passará por uma avaliação por meio da equipe de profissionais que aqui atendem”, descreve.

Miguel reforça que nessas situações de fragilidade extrema, em que a pessoa fica exposta ao risco de suicídio, há necessidade de fortalecer ainda mais os vínculos principalmente familiares. “É preciso buscar suporte e fazer o monitoramento contínuo dessa pessoa. Ela não pode ficar sozinha, mas isso como uma forma de cuidado. Ela precisa, também, estar em tratamento constante com psicólogo, psiquiatra e neurologistas, entre outros profissionais”, destaca.

 

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