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Marechal Momentos de pânico

Rondonense de dez anos atacada por pitbull conta detalhes sobre o susto que viveu: “Pensei que iria morrer”

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Foto: Leme Comunicação

 

“Pensei que iria morrer na hora”. É assim que a rondonense de dez anos atacada por um pitbull resume o susto que ela e a família passaram há cerca de duas semanas.

No último dia 25, a pequena fez a retirada dos pontos e voltou à rotina escolar.

No fim da tarde do dia 14 de março, ela conta que foi até a casa de sua vizinha, colega da escola, para brincar. Chegando lá, a amiga disse que sua mãe não estava em casa, mas que elas poderiam brincar juntas. “Quando eu vi o cachorro, fiquei com muito medo. Ela abria o portão para eu entrar, mas quando o cachorro chegava perto eu fechava porque estava com medo, mesmo ela falando que ele não era bravo”, relembra.

Em certo momento, ela diz que sua amiga abriu o portão e a puxou para dentro e, após fechá-lo, o animal pulou em cima dela. “Primeiro achei que ele estava querendo brincar, mas logo me derrubou no chão, me arrastou e me mordeu no pescoço”, diz. “Uma outra cachorra que também estava no pátio da casa avançou para que ele saísse de cima de mim e me salvou”, conta.

Segundo a tutora do cão, que não estava em casa no momento em que o ataque ocorreu, o animal que tirou o pitbull de cima da criança é da mesma raça, mas uma fêmea. “Ela tem um dono, porém sempre está na rua e é bastante dócil, tanto que frequentemente colocamos ela para dentro de casa e até damos banho”, pontua, ao ressaltar que é tutora do cão desde os 20 dias de vida do animal e que ele não é agressivo. “Eu moro sozinha com as minhas filhas e tenho ele para a segurança da nossa casa. Ele é bem cuidado, alimentado e tem a saúde em dia, com todas as vacinas necessárias. Conosco ele é muito dócil e brinca bastante, mas como qualquer cão de guarda, ele pode ter esse comportamento com pessoas estranhas por entender que é um invasor à nossa casa”, pontua.

Após ser mordida pelo animal, a pequena rondonense explica que sua amiga e as irmãs, que são mais velhas, a colocaram para dentro de casa, isolando o cachorro em outro cômodo. “Eu estava com bastante sangue no rosto e tonta, mas fiquei muito desesperada, comecei a gritar quando coloquei a mão atrás da minha cabeça e senti o buraco que tinha. Quando elas viram, também ficaram muito preocupadas e começamos a chorar mais ainda, foi quando chamaram o Corpo de Bombeiros, que me resgatou e levou para a UPA”, lembra.

 

Gravidade do ataque

Ela recebeu o primeiro atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Marechal Cândido Rondon, contudo, foi encaminhada para um hospital de Toledo devido à gravidade do ferimento. “Em Toledo nenhuma intervenção foi feita por considerarem que era um caso grave e que precisava de atendimento mais especializado, então a encaminharam para um hospital de Cascavel”, relembra a avó da criança.

Em Cascavel, a família conta que ela passou por dois procedimentos, ficando internada por oito dias. Primeiro uma cirurgia para fechar os ferimentos na cabeça e no braço e, depois, uma cirurgia plástica na nuca, onde havia o machucado mais profundo. “Eu sou uma pessoa de muita fé e orei em todos os momentos para que Deus estivesse com ela e com a equipe de médicos e enfermeiros que estavam cuidando dela”, compartilha a avó da criança.

Segundo a avó, as primeiras informações que recebeu no hospital em Cascavel foi de que a profundidade do ferimento era grande, sendo possível ver o osso da coluna. “Ele me disse que a forma como ela foi resgatada e atendida na UPA foi essencial para que ela estivesse estável naquele momento, por isso agradeço imensamente a todos que atenderam minha neta e ajudaram a salvar a vida dela, desde os bombeiros que a resgataram, na UPA e nos outros hospitais que ela esteve”, reforça.

Ela opina que pela situação em que sua neta foi atacada, com dois cães de uma raça potencialmente perigosa, a pequena poderia ter sido morta pelos animais. “Deus colocou as mãos na frente e usou daquela cachorra para salvar a minha neta. Ele também me deu forças para orar por ela e por todas as pessoas que cuidaram dela, protegeu minha neta e por isso ela está conosco hoje”, diz a avó emocionada.

 

Ameaça

A proprietária do animal conta que devido a informações inverídicas publicadas nas redes sociais e em alguns veículos de comunicação, ela tem recebido diversas ameaças. “Muitas pessoas têm falado sem saber do que realmente aconteceu e me ofendido muito, sem pensar que nada poderia ter sido feito por mim na situação, já que eu não estava presente. Minhas filhas, crianças, agiram da forma correta, para salvar a vida dela”, frisa. “Meu maior temor é de que alguém tente envenenar meu cachorro”, compartilha.

Apesar da situação que colocou a vida da criança em risco, a família diz que não guarda rancor por compreender que o cão, por ser irracional, agiu com seu instinto. “Desejo que Deus abençoe a dona desse animal, para que ela continue cuidando bem dele, pois não desejamos mal a ninguém. No momento em que ela foi atacada, era uma criança e adolescentes que estavam presentes, por isso elas também não poderiam ter feito diferente do que fizeram, que foi chamar o socorro”, menciona a avó, ao ressaltar que deseja que as pessoas que possuem cães de guarda tenham o cuidado devido para evitar momentos de apreensão como o que a família viveu.

 

Criança de dez anos teve ferimento profundo na região da nuca e outros machucados no pescoço e no braço após ser atacada por um pitbull (Foto: Leme Comunicação)

 

Ataque é incomum

Segundo o comandante do 3º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros, capitão Tiago Zajac, o atendimento a ocorrências de ataque de animais não é frequente em Marechal Rondon. “Esse foi um dos únicos casos que atendemos nos últimos anos”, informa.

Ele salienta que as ocorrências relacionadas a animais são normalmente voltadas para cães potencialmente agressivos soltos nas ruas da cidade, que mais frequentemente mobilizam equipes da Polícia Militar. “Nessas situações, quando o Corpo de Bombeiros é acionado, uma equipe vai até o local, prende o animal e fica com ele até o proprietário ser localizado, porém é importante ressaltar que quando um animal foge, é de responsabilidade do proprietário localizá-lo e evitar situações de perigo a outras pessoas e ao próprio animal”, alerta.

A orientação de Zajac para quem é tutor de animais de grande porte e que sejam potencialmente agressivos é de que tenham muro ou cerca em alturas adequadas em suas casas ou que mantenham o animal preso à guia ou em um canil. “Em casos de ataque de animal, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado, por meio do número 193, que fará o deslocamento da ambulância para atendimento”, finaliza.

 

Fama de perigoso

A maioria das pessoas classifica o pitbull como uma das raças potencialmente perigosas, que podem atacar pessoas seguindo seu instinto de defesa e proteção do território. “Mas é preciso levar em consideração fatores ambientais. O pitbull é uma raça bastante tranquila, então o que pode influenciar no comportamento dele é, principalmente, o cio das cadelas”, explica a médica veterinária Dejenani Sachser.

Entre as raças que podem apresentar comportamentos agressivos estão o rottweiler, pastor alemão, doberman, husky siberiano e chow chow. “Quando o cão já está agitado por conta de ter alguma cadela no cio, mesmo que a quilômetros de distância, ele pode atacar alguém por considerar que a pessoa ou mesmo outro animal é uma ameaça, então ele faz a defesa do seu território”, salienta a profissional.

A castração do animal, explica a médica veterinária, é interessante porque os cães têm uma excitação menor ao sentir o cheiro de cadelas no cio, tendo poucas mudanças de comportamento. “O ideal é castrar o cachorro ainda novo, por volta dos quatro ou cinco meses, porque ele ainda não teve o envolvimento hormonal”, indica.

Dejenani enfatiza, no entanto, que mesmo cães castrados podem apresentar distúrbios de comportamento, o que normalmente ocorre em animais que foram castrados já adultos. “A castração também é importante para a saúde dos animais. Nas fêmeas, previne tumores de mama e infecção de útero e nos machos tumores de testículo e próstata”, diz. “O único aspecto negativo da castração está no sobrepeso, mas quando cuidado não ocorre de forma acentuada”, complementa.

Pela castração retirar totalmente a produção hormonal e fazer com que o animal fique mais tranquilo, algumas pessoas acreditam que ele não fará mais a guarda do local. “Esse é outro mito. O cão castrado continua fazendo a guarda”, enfatiza a médica veterinária, ressaltando que quando o macho é castrado, se há fêmeas no ambiente que não são castradas, ele ainda sente o cheiro dos hormônios da fêmea, porém com menor intensidade.

Na visão de Dejenani, para evitar situações de risco, aqueles que são tutores de cães considerados mais agressivos devem prender o animal. “Por mais que ele seja castrado e dócil com a família, ele pode sentir que o desconhecido que está visitando está invadindo o território, então ele vai defender da forma que puder”, pontua.

Além da castração, outra orientação da médica veterinária é o adestramento do animal, que é indicado a ser feito também nos primeiros quatro a cinco meses de vida. “Mas quando adulto ele também pode ser adestrado. Os cães são extremamente inteligentes e aprendem muito”, enfatiza.

 

Médica veterinária Dejenani Sachser: “Por mais que ele seja castrado e dócil com a família, ele pode sentir que o desconhecido que está visitando o seu lar está invadindo o território, então ele vai defender da forma que puder” (Foto: Leme Comunicação)

 

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