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Marechal Em solo internacional

Rondonense expõe obras em Paris e vende sua primeira pintura em tela por dois mil euros

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Ataídes Kist ultrapassou as paredes do seu atelier e chegou à França para expor suas obras e talento (Foto: O Presente)

 

“A arte é a instigação da própria vida. A arte é cultura. A arte é sabedoria porque é preciso conhecer o processo técnico e evolutivo dos movimentos artísticos. E a arte é promissora no sentido de que ela contempla a natureza, a terra, o sol, a chuva. A arte me reproduz essa contemplação quase que em um estágio magnífico, voltado para esse contexto de inspiração”.

Essa é a definição pessoal e individual dada pelo artista rondonense Ataídes Kist, que, recentemente, ultrapassou as paredes do seu atelier e chegou em solo francês para expor suas obras e talento. Ao todo, dez obras produzidas por ele foram colocadas à mostra na 24ª edição do ART Shopping Paris, realizado no Carrousel du Louvre, junto ao Museu do Louvre, em Paris.

A exposição aconteceu entre os dias 24 e 26 de maio e, sob a denominação de Salon international d’art contemporain, reuniu artistas e galerias de todo o mundo nos segmentos de pintura, fotografia, escultura, arte digital e street-art.

De todas as obras expostas pelo artista, uma delas chamou a atenção de diversos expositores e também do público que visitou o evento. Denominada de “Number one”, a pintura em tela feita pelo rondonense conquistou o olhar e aguçou o gosto refinado de um investidor francês. A obra foi adquirida pelo valor de dois mil euros, o equivalente a R$ 10 mil. Sendo a primeira obra vendida em nível internacional, o feito é considerado histórico para o artista.

Ele revela que a obra faz parte de uma coletânea de trabalhos abstratos e arte contemporânea, propondo um trabalho um tanto inédito a partir da utilização de uma técnica própria e específica, utilizando cores primárias e se destacando por ser uma técnica de reação na execução da obra. “Ela (obra) corresponde ao primeiro trabalho de outros que utilizam a mesma técnica de execução. Para fazê-la eu parti de um estudo do que vem acontecendo dentro da arte contemporânea, dos principais pintores, como é o caso do pintor francês Pierre Soulages, que utiliza uma técnica específica na execução dos trabalhos, utilizando muito a pintura preta, tanto que é conhecido como pintor do negro, e também do pintor alemão Gerhard Richter, que é um dos principais pintores alemães vivos no contexto atual”, expõe Kist.

Estando em uma vitrine da arte, as obras do artista rondonense foram disputadas por olhares curiosos. “Recordo-me de um expositor que tem uma galeria importante em Berlim. Quando ele viu a obra ficou bastante encantado com o trabalho. Ele achou o meu um dos melhores trabalhos da exposição e previa que eu a venderia”, comenta, emendando: “Além disso, houve um investidor africano, um colecionador, que, por intermédio de um representante, me procurou no local também com grande interesse de compra da obra”.

 

RECONHECIMENTO

Apesar de a obra vendida ter sido a principal atração do trabalho do artista rondonense, foram outras três pinturas que o levaram a receber o convite para participar da exposição internacional. “Fiz uma proposta comemorativa aos 500 anos da morte de Leonardo da Vinci e executei três Monalisas usando cores primárias. A partir do envio dessas obras eu fui selecionado. Houve uma receptividade muito boa, até mesmo porque a obra original da Monalisa se encontra junto ao Museu do Louvre. O reconhecimento por parte das pessoas que frequentavam o espaço era imediato e houve elogios pela execução”, revela Kist.

As demais obras foram todas relacionadas a uma proposta de arte contemporânea. “Busquei alguns trabalhos que estivessem de acordo com a proposta e selecionei aquelas que melhor contemplassem o evento”, menciona.

Com cerca de 400 expositores, o rondonense foi o único representante brasileiro no evento de arte e suas obras foram expostas em seu próprio estande. “Em torno de 80% eram artistas franceses, mas também tinham artistas da Alemanha, Japão e do Azerbaijão. Houve essa diversificação e as obras expostas foram de grande qualidade. Obras impressionantes”, enaltece o artista.

Kist comemora o êxito em ter conseguido colocar uma de suas obras no mercado europeu. “Acredito que quando o artista acaba executando suas obras, a perspectiva da venda sempre é uma consequência”, salienta.

Da coletânea a qual pertence a obra vendida, outros 12 trabalhos já foram executados. O objetivo do artista, porém, é chegar a 30 trabalhos produzidos. “É um técnica inovadora e que pode despertar uma proposta diferente em razão dessa inspiração de alguns pintores atuais da arte contemporânea que utilizam materiais diferentes, não somente o pincel, mas também espátulas e rodos na execução. Eu utilizo um material que, a princípio, mantenho em segredo para a execução dessas obras”, pontua.

 

NOVAS PROPOSTAS

A participação na exposição internacional é uma abertura de possibilidades e oportunidades ao artista rondonense. “Pelas reações que eu pude sentir, e pelo fato de ter vendido uma obra, acho que posso visualizar novas perspectivas do meu trabalho. Estou confiante de que portas irão se abrir e consequentemente conseguirei atingir os objetivos dentro da ecopintura e arte de explosão, que são algumas das minhas propostas em particular com a arte”, ressalta Kist.

O rondonense saiu da exposição mais fortalecido e com propostas para participar de eventos futuros. “Uma galeria francesa está solicitando a representação dos meus trabalhos na França e há previsão de uma exposição em Miami, nos Estados Unidos. No mês de outubro já fui convocado para voltar à Florença, na bienal de arte que vai ter como tema específico os 500 anos de Leonardo da Vinci”, conta, emendando: “Para o ano de 2020 tenho convite para voltar ao Carrousel du Louvre com novos trabalhos e também tenho uma exposição prevista em Dubai com parceria de uma galeria de São Paulo”, detalha.

 

Rondonense foi o único representante brasileiro no evento de arte em Paris e suas obras foram expostas em seu próprio estande (Foto: Divulgação)

 

DESPERTAR ARTÍSTICO

A história de Kist enquanto artista começou em 2013 e de lá para cá já são 700 obras, entre esculturas e pinturas, produzidas pelas mãos do rondonense. No entanto, seu fascínio e admiração por trabalhos artísticos são cultivados há muito mais tempo.

“Esse é um processo de longa data porque eu tive a oportunidade de conhecer muitos museus e galerias. E aquilo ficou sempre meio adormecido, até que em um momento eu me deparei com a possibilidade de partir e assumir a condição de artista”, relata. “E confesso que no nosso país isso é muito difícil. Na nossa região é muito difícil, pois não há incentivo algum no desenvolvimento da arte. Há uma série de dificuldades para aquele que queira desenvolver projetos artísticos. Não há apoio nos setores públicos competentes que deveriam talvez despertar essa possibilidade em termos uma qualificação profissional dentro da arte”, completa.

Quando assumiu sua condição de artista, despertando o interesse e encampando a ideia da proposta artística, Kist diz não ter tido receio ou medo de enfrentar os obstáculos, mesmo em um contexto negativo no sentido da produção dos trabalhos. “Eu me coloco como um artista que gosta de trabalhar com elementos da natureza. E, por outro lado, costumo colocar a arte como uma proposta divina, alicerçada em uma proposta do belo, da beleza, da perfeição”, enfatiza.

O objetivo do artista é ter sua arte voltada para o exterior. “A minha trajetória, a minha ambição, é buscar um reconhecimento enquanto artista internacional. Em razão disso que vamos atrás dos nossos objetivos”, enaltece.

Em solo internacional, Kist já expôs obras na Bienal de Florença, na Itália, em 2017, e participou de uma exposição em Santiago, no Chile. Além disso, em nível regional, suas obras são mensalmente expostas no Museu Willy Barth, de Toledo.

Agora, contudo, ele revela possibilidade de expor seus trabalhos também em Londrina e Curitiba.

 

INSPIRAÇÕES

Todo produtor de arte, seja ele escritor, pintor, arquiteto, músico ou qualquer outra vertente que use de dotes artísticos, escuta, pelo menos uma vez na vida, a pergunta: “De onde vem sua inspiração?”. No caso do artista rondonense, a resposta está na própria arte.

“Eu particularmente gosto muito da corrente dos impressionistas. Enquanto artistas, eu admiro e procuro sempre verificar as obras de pintores como Pablo Picasso, Joan Miró e Jackson Pollock, que são alguns artistas das artes do século passado e que estão nos museus do mundo todo. Inclusive, eu pude agora, nessa minha ida a Paris, visitar o Museu Picasso, onde vi uma série de obras, detalhes de execução e de inspiração pelos trabalhos por ele produzidos”, ressalta.

No momento contemporâneo, os trabalhos dos artistas Pierre Soulages e Gerhard Richter, bastante valorizados no mercado da arte, são fontes de inspiração e admiração de Kist. “A inspiração, a minha proposta, é dentro de um movimento denominado de ecopintura. Acreditamos que podemos trazer uma proposta diferenciada do contexto da arte contemporânea, ecológica também, no resgate de materiais de sustentabilidade para a arte. Inclusive tenho denominado este trabalho artístico de ‘democracia da arte’, onde todos poderiam executar ou valorar alguns aspectos relacionados à arte. Em contrapartida, também tenho um trabalho dentro da arte contemporânea na parte da utilização da tela. Utilizando materiais junto com trabalho de tela. Fazendo essa junção, eu creio que isso seja a grande motivação no desenvolvimento. E é importante você gostar do seu trabalho e pensar que podem contribuir para o desenvolvimento dessa geração, que podem deixar um legado para as gerações futuras”, salienta.

 

PROCESSO EVOLUTIVO

Desde o início da sua história com a arte, Kist transita entre a produção de culturas e esculturas. “Eu vejo hoje a pintura como um processo evolutivo. Tenho observado que é normal, quase como um processo natural, de que o artista vai evoluindo dentro do processo artístico. E me parece que isso acabou acontecendo comigo, iniciando de um processo, em primeiro lugar de um regaste de materiais ligados principalmente com a ecologia, inclusive na elaboração destes trabalhos”, menciona.

Foi por ocasião de um evento internacional em Florença, no qual o artista expunha esculturas dentro do movimento da ecopintura, que ele percebeu que havia a possibilidade, até por um resgate de uma valoração, de utilizar essa concepção de escultura no trabalho de elaboração das telas. “Iniciei com um processo muito natural. Fui entender o procedimento da arte contemporânea e buscar o desenvolvimento dessa técnica. Fiz alguns trabalhos e cursos na França e em Santiago objetivando o desenvolvimento do trabalho das telas”, relata.

Apesar do olhar mais aprofundado para a pintura em tela, Kist ainda mantém vivo o trabalho com esculturas. “Continuo buscando os meus materiais e percebo nitidamente um processo evolutivo nas execuções desse trabalho das esculturas. E, por outro lado, voltado à pintura de telas. Isso porque eu vejo que o artista acaba se diversificando ao longo da sua proposta artística. Eu vejo nitidamente que alguns artistas vão trabalhar com a escultura, com outros tipos de materiais, com propostas diferentes. Eu também procuro me acercar dessa possibilidade de trabalhar com outros materiais, mas todos convergindo para uma mesma proposta artística. Tenho isso como um intento dessa convergência, tanto da escultura quanto da pintura em telas, como uma possibilidade de fazer a junção desses trabalhos”, defende.

 

Denominada de “Number one”, a pintura em tela feita pelo rondonense foi adquirida pelo valor de dois mil euros, o equivalente a R$ 10 mil (Foto: Divulgação)

 

CAMINHO ENTRE ÁREAS

Kist é advogado por formação e atualmente também atua como docente no Ensino Superior. Hoje, no entanto, algumas funções são atreladas e outras já foram deixadas de lado na vida do rondonense. “Eu tenho uma formação jurídica, uma formação acadêmica, de muitas atividades dentro desse contexto, e tenho também a arte como uma proposta de desafio aos anos que me restam. Meu lado profissional enquanto advogado já deixei de lado. Durante 25 anos eu atuei na área e me realizei na minha atividade profissional. Agora eu desempenho a minha atividade enquanto docente que vou levar até o momento da aposentadoria. Mas, ao mesmo tempo, assumi esse novo desafio, uma nova proposta de artista, no sentido de produzir e buscar um campo da arte, de fazer parte da arte internacional, que é meu grande objetivo”, explica.

Para o rondonense, a arte o possibilitou ver um mundo diferente. “Vi que é possível também pela arte atingir seus objetivos. E a arte acaba proporcionando novas perspectivas de vida, de participação, de engajamento, tanto individuais, como social, de contribuir com todo um processo histórico, de século, gerado pelo trabalho artístico”, conclui o artista.

 

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