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Marechal Ela voltou, cuidado!

Rondonense relata experiência da filha de três anos com a Momo; boneca apareceu em vídeo musical no Youtube Kids

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Foto: O Presente

 

Você busca seus filhos na escola no fim do dia e, como de costume, os deixa navegar na internet rapidamente antes do jantar. Eles pretendem conferir um dos milhares de vídeos que existem no YouTube Kids, mas então supostamente se deparam com o “Desafio Momo”.

Em agosto do ano passado, muita gente conheceu a aparência da temida boneca: rosto pálido, cadavérico e com traços femininos, olhos esbugalhados, sorriso assustador, cabelos pretos e corpo de pássaro. A figura surgiu em inúmeros perfis de WhatsApp com supostas previsões assustadoras. Agora, de acordo com relatos na internet, a boneca teria ressurgido em vídeos infantis populares na plataforma do YouTube, interrompendo as imagens e instruindo os pequenos a cometerem atos de automutilação e suicídio.

Somado às ameaças de ataque a escolas, a exemplo do massacre em Suzano (SP), o episódio tem repercutido dentro e fora do ambiente virtual e deixado pais e familiares preocupados com a segurança dos filhos. Supostamente veiculado na programação infantil graças à ação de um hacker, o conteúdo traz o alerta para que o monitoramento do que meninos e meninas veem na web seja constante.

Para uma mãe rondonense, que prefere preservar sua identidade, a primeira sensação é de impotência diante daquilo que circula na internet, uma vez que, segundo os relatos, a aparição da Momo seria feita de forma aleatória, inclusive em plataformas protegidas. A justificativa para a apreensão da rondonense é o fato da filha, de apenas três anos e meio, ter tido contato com a figura macabra em um vídeo musical e famoso no Youtube Kids: Baby Shark.

“Nos últimos dias o interesse dela foi aumentando. Ela chegava da escolinha e queria o celular, de manhã também. Percebi que estava ficando demais e comecei a prestar mais atenção. Comecei a deitar do lado dela e ver o que estava assistindo. Foi então que vi a aparição da Momo no vídeo do Baby Shark, uma música que minha filha gosta muito”, conta a mãe.

Conforme ela, a figura da Momo apareceu duas vezes no decorrer do vídeo, mas sem interrupção da música infantil. “Era apenas em flashes. Vi que apareceu a boneca, mas ela não estava falando. Apareceu o primeiro flash e eu deixei para ver se iria aparecer mais algo. Então apareceu a boneca e na sequência ela com alguns objetos, como uma ‘machadinha’. Não a mostra falando, mas, sim, mostrando como abrir uma gaveta, tirar os objetos de lá. São instruções em imagens”, relata.

A mãe alerta que isso contribui para não chamar a atenção dos pais. “Por isso acho que os pais não prestam muita atenção, assim como eu não prestava. Talvez já estivesse aparecendo de outras formas para ela e eu não tinha prestado atenção porque estou ouvindo o conteúdo do vídeo, mas não vendo a imagem. Até então parecia que era normal”, relata.

Ainda sem comprovação real que a boneca esteja realmente aparecendo, há quem defenda que tudo não passe de fake news. No entanto, mesmo que não haja nenhuma evidência concreta da aparição da personagem, como diziam os rumores, não significa que não haja motivos para pais se preocuparem, tendo em vista que há, de fato, riscos reais em crianças serem expostas a conteúdos amedrontadores, indutores do suicídio e impróprios para sua idade.

 

Medidas e escolhas

Passaram-se cinco dias desde o momento em que a rondonense, ao lado da filha, viu a personagem Momo no vídeo infantil até quando conversou com a reportagem do O Presente. Nesse período de tempo algumas medidas foram tomadas pelos pais da criança. “Desinstalei todos os programas e aplicativos porque ela entra e acessa sozinha no meu celular. Além disso, estou tirando o celular dela. Faz três dias que ela não mexe e eu estou tentando me policiar para brincar com ela de outra maneira”, comenta a mãe. “Às vezes, estamos tão cansados que quando chegamos em casa damos o celular para que possamos descansar ou fazer alguma outra coisa, mas é errado. A partir do momento que você decide ter um filho você tem que saber que toda sua vida vai mudar”, frisa.

Além disso, a rondonense ressalta que ela e o marido também passaram a controlar melhor o uso dos celulares. “Eu e ele estamos nos policiando com isso. Chegando em casa vamos mexer no celular somente após ela dormir. Se ela nos ver com celular, vai querer”, diz.

 

Sinceridade

Alguns dias após assistir ao vídeo, a mãe conta que começou a perceber a disseminação de notícias sobre a reaparição da Momo em conteúdos infantis. Com isso ela escolheu ter uma conversa aberta e franca com a filha. “Mostrei a foto da boneca para ela e disse que não poderia mais assistir os vídeos porque o que ela (Momo) pede é feio e machuca as crianças. Mas não é fácil você explicar para uma criança que algo que aparece na tela de um celular pode fazer mal a ela e outras pessoas”, expõe.

A rondonense diz que quando questionou a filha se ela já teria visto a Momo em outros vídeos ou situações, a criança afirmou que não. “Quando eu mostrei a boneca e comecei a conversar, ela ficou medo. Disse que era algo feio, que não era do bem, que pode prejudicar, fazer mal e que era para ela se afastar”, comenta, acrescentando: “Quando vimos o vídeo em que a boneca aparecia ela (filha) não ficou assustada, mas não tenho como afirmar se ela já teve contanto anteriormente com a imagem da boneca. Os flashes são muito rápidos, coisa de segundos, mas vão aparecendo em várias partes do vídeo. Talvez para ela isso era normal”.

Em relatos de outros casos de crianças que teriam tido contato com os vídeos há menções de mudança de comportamentos, a exemplo das manifestações de agressividade. Com a pequena rondonense a mãe afirma que isso não teria acontecido. “Ela não esboçou nenhuma reação, nem mesmo de medo. Como são vídeos animados e que trocam de cenas constantemente ela pode ter imaginado que aquilo fazia parte do vídeo original, mas não aconteceu de ela ter mudanças de atitudes ou de comportamentos”, salienta.

 

Preocupação

“A preocupação fica com a gente”. O desabafo mostra a importância do monitoramento constante do conteúdo acessado por crianças e adolescentes em ambientes virtuais. “Se a gente não prestar atenção, sempre vai achar que está tudo bem porque só está tocando uma ‘musiquinha’ e vendo um ‘videozinho’. Pare e dê uma olhadinha, peça para que mostre o celular, principalmente quando eles começam a se esconder. Alguma coisa de errado tem”, alerta a rondonense.

Ela acredita que não é preciso restringir o acesso à internet, mas, sim, impor um limite e controle de uso. “Não adianta limitar o tempo, mas não cuidar o que está sendo visto. Em meia hora, por exemplo, eles conseguem ver e fazer muitas coisas”, opina.

A mamãe compartilha a própria experiência e afirma que com o passar dos dias as crianças “esquecem” do aparelho eletrônico. “Basta buscar outros meios de ocupar o tempo da criança. Andar de bicicleta, brincar de boneca e casinha. Com isso eu percebi que tenho tempo de brincar com a minha filha e que há outras atividades fora do celular”, expõe.

 

Inocência

A mãe observa que os responsáveis por trás desses tipos de conteúdos se utilizam da inocência das crianças. “Para elas tudo está certo, não veem maldade em nada. Se pedirem para cortar os pulsos com uma faca, é provável que façam porque não sabem o que estão fazendo. Acredito que nenhuma criança faça algo por maldade. Ela faz porque viu alguém fazendo. É o espelho de alguém”, pontua.

A rondonense ainda cita outro exemplo. Um vídeo assistido pela filha e que até então deveria ser sobre o desenho infantil Peppa Pig, mas o verdadeiro conteúdo oferecido era outro. “Há alguns dias ela veio nos mostrar uma musiquinha da Peppa, mas que na verdade era um funk, com linguajar impróprio, mas que mostrava imagens do desenho. Para ela a música era da Peppa porque as imagens mostravam isso e o que atrai as crianças é justamente a parte visual”, destaca.

 

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