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Marechal

Rondonenses estão abastecendo menos

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O presidente da República, Michel Temer, tem até hoje (08) para prestar esclarecimentos sobre o decreto que aumentou os combustíveis em todo o Brasil.

Assinado no fim de julho, o documento elevou as alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) que incidem sobre gasolina, diesel e etanol. A ideia da equipe econômica é tentar elevar as receitas do governo para fechar o ano de 2017 dentro da meta fiscal, que prevê um déficit de R$ 139 bilhões.

No dia 26 de julho, cinco dias após o anúncio da medida, o Partido dos Trabalhadores (PT) pediu ao Supremo Tribunal Federal a anulação do decreto, argumentando que a elevação das alíquotas só poderiam ter sido feitas após aprovação, pelo Congresso, de um projeto de lei, não por decreto, com validade imediata. Frente a isso, na última quinta-feira (03), a ministra Rosa Weber deu prazo de cinco dias para o presidente da República se explicar.

Porém, até lá, quem vai abastecer, está pensando duas vezes antes completar o tanque. Para a gasolina, a tributação mais que dobrou, passando de R$ 0,38 para R$ 0,79 por litro, que repassada para o consumidor nas bombas aumentou R$ 0,41 o litro de gasolina.

O imposto sobre o diesel subiu R$ 0,21 por litro e ficou em R$ 0,46 por litro do combustível. Já do produtor de etanol subiu R$ 0,20 por litro e o distribuidor que não pagava, vai passar a pagar.

 

Repasse integral

O aumento anunciado há três semanas foi aplicado a refinarias, importadores e produtores e distribuidores (no caso do etanol), que repassaram aos postos de combustíveis. A decisão de transferir toda a alta para as bombas, no entanto, coube aos proprietários dos postos – o que se tornou uma realidade já no dia seguinte ao anúncio de Temer. “O repasse para as bombas foi imediato e integral, porque a maioria das empresas trabalha com estoque baixo e não tem capital de giro para trabalhar com tanque cheio. Com o valor neste patamar, deixar acabar o produto que se tem no tanque para depois repor, é preciso emendar muito dinheiro para repor estoque. O governo colocou a mão no bolso do consumidor e nós vamos ter que pagar a conta”, diz o administrador Marcos Tonin, que gerencia uma rede com cerca de oito postos na região.

Em todas as unidades da rede, ele descreve um “impacto violento” na queda de consumo nos 15 primeiros dias após o aumento no preço dos combustíveis. “Quem abastecia R$ 100 está colocando R$ 50, quem colocava R$ 50 coloca R$ 30. Estão evitando sair de casa de carro porque com a gasolina nesse patamar, não tem como sair para qualquer lugar, ainda mais com a economia estagnada da forma como está e com a escassez de dinheiro”, aponta.

A fisioterapeuta rondonense Katiuscia Ziemer passou de alegria para susto com a notícia. Justamente no dia 20 de julho, quando o anúncio do decreto foi feito, ela fechou a compra do seu primeiro carro. “Me assustei porque não tinha nem feito o cálculo de média”, conta.

Com a alta nas bombas e o novo carro como meio de transporte, Katiuscia primeiro verificou qual combustível seria mais vantajoso, o etanol ou a gasolina. “Com a moto só usava gasolina, agora com o carro flex e a opção do etanol estou usando álcool porque é o que está rendendo mais. Com base nos cálculos, por quilômetro rodado eu gasto R$ 0,39 e com gasolina seria R$ 0,49”, expõe.

E cada centavo faz diferença. É por isso que nos dias em que não chove ela vai para o trabalho de bicicleta como forma de economizar, uma média de três vezes por semana. “Levando em conta apenas os dias úteis, o gasto com combustível vai ser praticamente o dobro do que gastava com a moto, mas se não tivesse ocorrido o aumento sem dúvida seria menos e eu usaria o carro mais”, menciona a fisioterapeuta.

 

Queda de 25% no consumo

Tonin estima que a diminuição no fluxo nos postos de combustíveis de sua rede gire na faixa de 20% a 25%. Mesmo com o etanol em um patamar um pouco abaixo da gasolina, o empresário observa que os proprietários de carros flex não têm optado pelo álcool derivado de cereais e vegetais.

De acordo com ele, não há possibilidade de o repasse não ser integral para o consumidor, pois a margem de lucro neste ramo é muito apertada e a concorrência violenta, por isso o preço é praticamente o mesmo em todos os postos. “Não adianta eu colocar R$ 0,02 a mais que não vou vender. Eu preciso acompanhar o mercado ou eu fecho as portas da minha empresa”, expõe.

Pelo preço da gasolina e do diesel serem vinculados diretamente ao dólar, que varia diariamente, o preço desses combustíveis também oscila de um dia para o outro. Isso, para o empresário, também é difícil de explicar para o consumidor. “Vejo que todos estão tentando segurar abaixo dos R$ 4 porque se passar disso, para chegar a R$ 4,50 é muito rápido. Mais uma vez está saindo do bolso do povo para pagar folhas de pagamento, mordomias, supérfluos e infelizmente é o eleitor quem aguenta”, critica Tonin.

 

Efeito cascata

A alta nos preços dos combustíveis devido à elevação dos impostos causa impacto também na mesa do consumidor. Devido à alta de R$ 0,21 por litro de diesel utilizado nos caminhões que transportam os alimentos por via terrestre, pelo processo ter várias etapas e pelo Brasil não ter desenvolvido a linha férrea e depender do transporte rodoviário para a logística de mercadorias, o aumento dos preços sofre um efeito cascata. Ou seja, quanto mais viaja pra chegar até o consumidor, mais caro fica o alimento.

De acordo com Elemar Lamberti, administrador de uma transportadora em Marechal Cândido Rondon, o combustível gira em torno de 40% do custo do transporte e, com os últimos reajustes, o impacto é direto no setor. “Já estamos sentindo este impacto. O mercado já vinha de um momento turbulento por conta da lei da oferta e demanda, que rege o setor de transporte. Hoje há mais oferta de caminhões do que de embarcadores e com isso não é possível repassar os custos”, comenta.

Lamberti entende que, com a situação econômica delicada do governo, há necessidade de recursos e uma das formas mais rápidas dele conseguir isso é por meio dos combustíveis. “O governo ainda este ano deve ter mais alguns reajustes que também impactarão diretamente no setor, sendo que já não estamos conseguindo repassar o percentual do nosso custo, todavia, o arquivamento da denúncia contra o Temer foi bom para o país. Os investidores terão mais confiança no Brasil, a economia poderá girar melhor”, opina. “Os empresários terão mais ânimo para fazer investimento nas suas atividades, o que antes nós não tínhamos. A aprovação da terceirização, da CLT, a continuidade do mandato dele foram fatores importantes para o investidor e para a economia brasileira, mas sabemos que em curto prazo não teremos esse resultado”, complementa. 

 

Tabela de frete

Lamberti aponta que uma das principais necessidades do setor está em uma tabela de frete que estabeleça o preço cobrado para executar o serviço de transporte de mercadorias. A definição de uma tabela é importante, segundo ele, para remunerar de forma justa o serviço de transporte rodoviário de carga no país. “Já existe uma tabela com cálculos definidos que foi feita há cerca de dois anos, mas hoje já está defasada. Ela leva em conta o tipo de veículo, tipo de transporte, eixo, entre outros aspectos”, explica.

Hoje, na região Oeste do Estado, o empresário diz que o valor para carregar um frete é razoável, porém, em uma viagem daqui para São Paulo, por exemplo, no retorno o valor recebido cobre apenas os custos do diesel. “Com a tabela, será estipulado que vai receber valor x por quilômetro rodado”, pontua, enfatizando que com a definição dos valores, o custo em combustível para o transporte rodoviário poderia cair para 35%.

 

Revendedoras não devem sentir

A venda de veículos, que já passa por momentos difíceis nas regiões agrícolas como Marechal Cândido Rondon por conta do baixo preço dos produtos, não deve sentir impacto nas vendas por conta da alta no preço dos combustíveis. Pelo menos é o que avalia o empresário Rui Schimmel, proprietário de uma revendedora do município. “O maior impacto será no transporte e no consumo de mercadorias, mas na venda de veículos mesmo em longo prazo não deve ter impacto. Porém, não vejo como uma medida interessante”, avalia.

Para o empresário, a absorção do impacto do aumento faz com que a maioria das pessoas deixe o carro em casa, não queira andar mais ou abasteça menos nos primeiros 15 dias após o anúncio, mas depois a situação deve voltar ao normal. “Vejo que é muito pior o impacto do diesel no contexto econômico do que a gasolina impactar na venda de veículos”, estima Schimmel.

Em âmbito geral, a venda de veículos para regiões onde a agricultura predomina foi significativamente afetada por conta da baixa remuneração recebida pelo produtor, já que os preços dos produtos agrícolas estão em patamares baixos. “Nas regiões que não dependem da agricultura o mercado está estagnado: não melhorou, mas também não piorou em relação ao ano passado. Já nas regiões agrícolas, a venda caiu porque o agricultor não está vendendo produto e sabemos que quando a colheita foi boa ele troca de carro, de maquinário e eles não estão vendendo porque os preços estão ruins. Eles vendem o essencial para pagar as contas, não vendem aquela sobra”, expõe.

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