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Marechal Entrevista ao O Presente

“Se não houver mudança de comportamento, o sistema de saúde vai entrar em colapso”, diz secretária de Saúde rondonense

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Secretária de Saúde, Marciane Specht: “Neste momento o serviço público de saúde local ainda consegue manejar os pacientes que buscam atendimento. Mesmo com o aumento de casos não faltaram leitos no município para pacientes Covid serem internados, se necessário” (Foto: O Presente)

A alta no número de casos confirmados de Covid-19 em todo o Paraná nas últimas semanas ligou o sinal de alerta no setor de saúde do Estado, considerando que em muitas localidades está sendo registrada a falta de leitos ou vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Na opinião da secretária de Saúde de Marechal Cândido Rondon, Marciane Specht, se não houver uma mudança de comportamento da população, o sistema de saúde entrará em colapso em um curto espaço de tempo. “Temos visto o número de leitos Covid disponíveis diminuírem vertiginosamente em todas as regionais do Estado”, destaca.

Em entrevista ao O Presente, Marciane fala sobre o aumento considerável de confirmações de casos, as demandas de atendimento e internamento e lamenta que muitas pessoas perderam o medo do coronavírus e agem como se a pandemia tivesse acabado. Por outro lado, agradece aquelas que têm colaborado com as regras vigentes e orientações sanitárias e enaltece o trabalho realizado pela equipe da Saúde, que, segundo ela, se empenha para oferecer o melhor atendimento possível ao munícipe. Confira.

 

O Presente (OP): A Capital do Paraná e o Estado como um todo voltaram a registrar recorde de aumento de casos confirmados de Covid-19. Muitas cidades já suspenderam as cirurgias eletivas, haja vista que os leitos estão lotados ou quase no limite, caso de Cascavel, Foz do Iguaçu e outros municípios da região. Até dias atrás, falava-se em números em queda, índices baixos… A que se deve essa alta registrada nas últimas semanas? Descuido das pessoas?

Marciane Specht (MS): Acredito que a diminuição dos cuidados com as questões de isolamento é o principal fator, seguido das aglomerações em diversos locais e segmentos da sociedade, bem como a falta constante do uso de máscaras e dos demais cuidados necessários. Isso nos remete que a sociedade parece ter perdido o medo do coronavírus. Assim, de fato uma parcela da população acredita ser somente uma gripezinha e mostra até resistência em perceber que a saúde e todo o sistema brasileiro dependem de cada cidadão fazer sua parte. Para a grande maioria da população jovem e da classe trabalhadora sem comorbidades os sinais e sintomas de fato se apresentam de forma leve ou mesmo sem sintoma algum. Os principais sintomas dos cidadãos são cefaleia, tosse, mialgia, dor de garganta, coriza, perda de olfato ou paladar. Observa-se ainda que a faixa etária de maior incidência varia dos 15 aos 59 anos, dos economicamente ativos, ou seja, a fase em que as pessoas trabalham e são produtivas. Isso revela em especial que entre estes extremos são os indivíduos mais expostos ao coronavírus pelo ciclo diário de atividades desenvolvidas. Ali estão muitos dos assintomáticos, que não sabem que estão com o vírus e podem transmitir para a população com maior predisposição às complicações por apresentarem comorbidade ou serem idosos.

 

OP: As eleições municipais podem de alguma forma ter influenciado no aumento de confirmações da doença?

MS: Todo o processo eleitoral transcorreu dentro da normalidade em questões sanitárias. Passei por alguns colégios e estava tudo muito bem organizado no sentido de fluxo de atendimento, com identificação de entradas e saídas nos locais de votação, filas conforme recomendações e distanciamento, locais sem aglomeração, uso de álcool gel e máscara. A Justiça Eleitoral e todas as pessoas envolvidas neste processo de democracia estão de parabéns neste ato de cidadania e de responsabilidade, o qual mostrou, também, que a população consegue seguir à risca o que é solicitado por seus representantes mediante a necessidade.

 

OP: Marechal Rondon já vinha de números em alta nas últimas semanas, ou melhor, desde setembro. A senhora acredita que tais índices devem se estabilizar ou teremos um efeito cascata como os demais municípios da região, onde os números voltaram a subir expressivamente?

MS: Para analisar a situação de Marechal Rondon é preciso fazer um panorama com a 20ª Regional de Saúde de Toledo e também a Macrorregional Oeste, da qual fizemos parte, para termos uma visão mais ampla sobre a disponibilidade de leitos, aumento de casos e possibilidade de estabilizar ou não os casos. Diariamente recebemos informes atualizados e normalmente um dos primeiros itens trata da ocupação de leitos na 20ª Regional, mostrando a quantidade de leitos disponíveis e quais municípios estão com mais pacientes em internação hospitalar. Sabemos que uma cidade tem suas especificidades e quantidade populacional, mas é inegável que tudo isso, no caso da Covid, está diretamente relacionado às taxas de isolamento da sociedade como um todo. A maior preocupação de toda a região de saúde nos últimos dias refere-se às inúmeras aglomerações da comunidade de forma geral com a falsa sensação de que o coronavírus já passou, que a pandemia terminou ou que de fato já teríamos passado pelo período de maior incidência de casos. Todavia, pelo que observamos, a região toda está com aumento significativo de confirmações. Ao avaliar os dados do informe epidemiológico publicado pela Sesa na quarta-feira (02) e fazendo uma retrospectiva de casos por data de diagnóstico, constatamos que houve um dia com 3.789 exames positivos e percebemos que novembro foi encerrado com 2.049 casos confirmados de Covid-19. Observa-se que esse movimento iniciou em novembro no Paraná e infelizmente mantém a crescente de números positivos.

 

Secretária de Saúde de Marechal Rondon, Marciane Specht: “Se medidas não forem tomadas, os números tendem a se manter em ascensão, já que parcela muito grande da população não tem mais respeitado as exigências de distanciamento, isolamento e os cuidados sanitários” (Foto: O Presente)

 

OP: No caso da falta de leitos é adotado remanejamento para outras regionais de saúde. Há risco de colapso no sistema como um todo?

MS: Conforme ocorre a lotação máxima do sistema em determinada região os pacientes são obrigatoriamente remanejados via sistema da Central de Leitos do Estado para outras regionais de saúde. É preciso analisar as regiões para entender que mesmo com a ampliação de leitos, se não houver uma mudança de comportamento o sistema de saúde entrará em colapso em curto espaço de tempo, pois temos visto o número de leitos Covid disponíveis diminuírem vertiginosamente em todas as regionais do Estado. Partindo das regionais, seguimos com avaliação da ocupação de leitos por macrorregiões e então percebemos que a ocupação de leitos disponíveis para este tipo de atendimento está próxima da lotação máxima em algumas regiões. Isso gera reflexão sobre a necessidade de implementar uma medida de restrição de circulação de pessoas, como o Estado do Paraná fez. Fica evidente que mesmo a região de saúde que está distante da nossa realidade frente a uma lotação máxima, tendo todos os seus leitos ocupados e não havendo mais a capacidade instalada de abertura de novos, os pacientes serão remanejados para outras regiões, ocupando leitos que ainda teriam capacidade para absorver as demandas regionais. Vale lembrar que isso já acontece em outras especialidades que não estão atreladas à Covid, porém em uma rotina normal sempre é mais fácil adequar do que quando se está próximo da capacidade instalada.

 

OP: As pessoas têm desrespeitado regras básicas? O município aderiu ao novo decreto do Estado, publicado nesta semana?

MS: Quando analisamos a situação de saúde local percebemos que os casos ativos de forma geral têm aumentado e se mantêm em uma curva ascendente, variando entre 153 na terça-feira (1º) e 147 casos ativos na quarta-feira (02). Após a publicação do decreto 6.284/2020 do Estado do Paraná, nosso município, com conhecimento da funcionalidade do SUS (Sistema Único de Saúde) para atendimento dos pacientes clicados na Central de Leitos, deve acatar as mudanças fixadas nos períodos das 23 até as 05 horas, diminuindo as aglomerações e circulação à revelia em vias públicas, com o intuito de diminuir os casos ativos. Se essas medidas não forem tomadas, os números tendem a se manter em ascensão, já que parcela muito grande da população não tem mais respeitado as exigências de distanciamento, isolamento e os cuidados sanitários. Vale lembrar o que foi dito no início da pandemia, de que o vírus não caminha, pois quem circula são as pessoas e em especial as que estão em fase ativa de trabalho. Nós somos parte desta fatia da população e podemos ser os vetores para pessoas que apresentam outra comorbidade ou que integram o grupo de risco. Caso tenham Covid no organismo podem ter agravado seu quadro basal ou chegar à morte, em alguns casos.

 

OP: Em Marechal Rondon os atendimentos de saúde retornaram em agosto. Como está sendo conciliar pacientes de Covid-19 com pacientes de outras enfermidades?

MS: Os servidores aprenderam a lidar com a situação diária de pacientes que buscam a unidade para atendimentos de demandas de outras patologias e também os sintomáticos para Covid-19 por meio da separação por tipo de atendimento e de forma prioritária. Além disso, houve implementação do serviço de atenção domiciliar (SAD) e também do call center (monitoramento via telefone) dos pacientes e contatos domiciliares e/ou próximos que estão como casos suspeitos ou confirmados. Conforme a evolução de sinais e sintomas, a equipe, composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros profissionais de saúde, faz o acompanhamento diário desses pacientes e procede todos os registros no Notifica Covid e alimenta dados no sistema próprio do município. A pandemia trouxe uma nova realidade com muitos desafios, medos por parte de todos, mas também mostrou mais uma vez que a união de toda a equipe, a construção em conjunto com toda a sociedade e a importância do COE (Centro de Operações Emergenciais) para que chegássemos a este momento em que se aprendeu muito de uma doença que se sabe pouco e que diariamente pode ter mudanças. Talvez após estudos pode ser que o que analisamos hoje se identifique diferente ou que determinada situação não tenha tanta importância e outras dúvidas surjam. Por mais que a Covid-19 esteja em nosso meio há alguns meses, todos os dias nos deparamos com situações que exigem dedicação da equipe em termos de atualizações. É preciso agradecer a administração municipal e todos os servidores da Secretaria de Saúde. Estou convicta em afirmar que não teríamos evoluído tanto se não tivéssemos o comprometimento de cada um dos servidores públicos.

 

OP: No que diz respeito a leitos, como está a situação de Marechal Rondon?

MS: Neste momento o serviço público de saúde local ainda consegue manejar os pacientes que buscam atendimento. No início da manhã de ontem (03) havia quatro pacientes na ala Covid, entre suspeitos e confirmados, portanto ainda temos capacidade para atendimento. Mesmo com o aumento de casos não faltaram leitos no município para pacientes Covid serem internados, se necessário. Quem demandou vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) também foi transferido com bastante agilidade para as nossas referências.

 

OP: Está sendo cogitada a abertura ou desativação do Hospital de Campanha?

MS: Até o momento o Hospital de Campanha ainda não foi utilizado. Inclusive foi pautado em reuniões da equipe técnica e do COE quando seria o momento de desativar a estrutura, mas, diante do cenário atual, esta hipótese não é mais cogitada neste estágio da pandemia. O aumento de casos tende a gerar mais pacientes que necessitem internamento e caso as referências lotem, como já está acontecendo, o município precisa ter um local preparado.

 

OP: A Sesa divulgou nota que diante do novo cenário, com essa explosão de casos nas últimas semanas, está descartado o retorno das aulas presenciais. Já era esperado que neste ano elas de fato nem voltassem, contudo, diante dessa fase de alta nos casos em todo o Paraná, a senhora acredita que essa situação pode se arrastar 2021 adentro? Há pessoas dizendo que existe possibilidade de haver aulas remotas ao menos até metade de 2021. Na sua opinião, teremos essa realidade?

MS: Penso que diante do momento atual ainda é muito precoce manifestar uma opinião sobre o panorama que se remete para a metade do ano de 2021. Porém, uma situação é fato: com a diminuição do isolamento social por parte da população, o aumento de número de casos confirmados diariamente e a manutenção de casos ativos por regional de saúde ou mesmo local, não vejo possibilidade de retorno das aulas presenciais. Acredito que se ocorrer uma diminuição considerável de casos ativos em todo o Paraná, a Sesa e a Secretaria de Educação e do Esporte (Seed) poderão em conjunto sistematizar o retorno gradual das atividades escolares de forma híbrida por regional de saúde, baseado sempre na realidade local de quantidade de casos positivos e em especial na diminuição significativa de casos ativos em cada região. Vale somente ressaltar que esta regulamentação se faz em nível central, ou seja, secretarias estaduais de Saúde e de Educação.

 

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