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Municípios Economia regional

Absorção de imigrante no Oeste paranaense demanda maior qualificação

Em 1940, o até então considerado Extremo Sertão atraia um perfil diretamente oposto: pessoas com reduzido nível escolar.

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

De 1940 até 2021, a região Oeste do Paraná passou dos 7.645 habitantes para 1.330.154. Segundo o economista, especialista em Teoria Econômica, mestre em Desenvolvimento econômico, doutor e pós-doutor em Demografia, professor Ricardo Rippel, a motivação e o tipo de imigração no Oeste paranaense mudaram de um extremo a outro nos últimos 81 anos.

“No começo da década de 1940, o perfil da imigração na região foi marcado inicialmente pelo uso de mão de obra com baixa qualificação e de reduzido nível escolar, que se inseriu primeiramente e produtivamente no setor primário da região. Com o passar do tempo, dada a modernização da produção rural e a acelerada urbanização regional, ocorreu na área uma forte queda no volume da imigração absorvida, pois a região passou a demandar maior qualificação para inserir imigrantes no território”, expõe ao O Presente.

Atualmente, ele salienta que a população de 1,3 milhão de pessoas no Oeste paranaense é bem dividida. “Quanto às microrregiões de Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçu, percebe-se nelas a existência de uma ocupação demográfica equilibrada, pois os três municípios-sede destas microrregiões detêm as maiores populações da área e os demais estabelecem um grau de densidade demográfica similar”, menciona o economista.

Economista e professor universitário Ricardo Rippel: “Os imigrantes que se dirigem ao Oeste passaram a apresentar níveis educacionais e de formação técnica mais elevados para se inseriram de modo consistente nos setores secundário e terciário da economia regional, uma tendência que deve se manter nos próximos anos” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

“Extremo Sertão do Oeste”

No Censo Demográfico de 1940, a região oestina era “imensamente vazia” e, segundo o pesquisador, a mesorregião Oeste tinha apenas um município inteiro (Foz do Iguaçu) e parte de outro (Laranjeiras do Sul) – enquanto hoje comporta 50 cidades. “Em 1940, o total da população da região era de estimados 7.645 habitantes. A área era tão vazia em termos demográficos que a denominação censitária da região era Extremo Sertão do Oeste do Paraná. Atualmente, estima-se que habitam na região 1.330.154 habitantes. Ambos os dados são provenientes de estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)”, evidencia.

(Imagem: O Presente)

Atrativos de outrora

De acordo com Rippel, a política nacional da Marcha para o Oeste, a demarcação da fronteira e o financiamento federal e estadual foram medidas que, em nível governamental, favoreceram a vinda de imigrantes ao Oeste paranaense na década de 40. Além disso, ele diz que o solo fértil, com clima propício e topografia favorável (de relevo plano com poucas áreas quebradas) também foram um atrativo, aliados às terras com preços interessantes. “Havia, naquela época, a propensão para a migração por parte de pequenos produtores rurais de outras áreas do país, o que era reforçado pela existência de um grande número de indivíduos nas famílias”, pontua o professor.

Ao O Presente, ele reforça que as condições de produção no campo demandavam de pouca tecnificação e, simultaneamente, havia muita madeira para ser explorada na região. “Exigia-se um baixo grau de qualificação da mão de obra, que foi absorvida no começo da ocupação da região e era majoritariamente familiar”, detalha.

Imigrantes internos

A maior parte dos imigrantes que vinham para o Oeste paranaense eram provenientes dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e até de outras regiões do próprio Paraná, conforme Rippel. “A partir de 1940 e ao longo de seu desenvolvimento, o Oeste do Paraná foi um local de forte atração de imigrantes, passando especialmente a partir de 1975 a ser área de emigração. Posteriormente, configurou-se como uma região de circularidade migratória, principalmente em seus três maiores municípios: Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo”, observa.

Também em Marechal Cândido Rondon o principal fluxo de imigração é interno. A origem germânica do povo rondonense é, segundo o pesquisador, de descendentes de origem alemã. “São de segunda geração no Brasil, isto é, são oriundos em sua grande parte das antigas áreas de colônias alemãs do Rio Grande do Sul”, ressalta, indicando que não há dados precisos da proporção de imigrantes alemães nos municípios.

A evolução demográfica oestina foi tanta que a região, mesmo tendo sido a última mesorregião do Paraná a ser efetivamente ocupada, é hoje a terceira do Estado em termos de geração de valor agregado, aponta o economista. “Essa tendência e posição deve se manter no médio prazo”, estima.

Setores secundário e terciário exigem mais qualificação

Se em outros períodos a agricultura era um chamariz da migração, agora o Oeste do Paraná atrai população por outros aspectos. “Mediante as transformações que a região vivenciou, os imigrantes que se dirigem para o Oeste do Paraná passaram a apresentar níveis educacionais e de formação técnica mais elevados para se inseriram de modo consistente nos setores secundário e terciário da economia regional, uma tendência que deve se manter nos próximos anos”, projeta, explicando: “Se há um crescimento econômico, a absorção de mão de obra é estimulada e torna-se natural o crescimento do tamanho da população, pois ocorrem estímulos à geração de empregos que atraem novos indivíduos”, reflete.

Estudos demográficos

O professor tem 45 anos de experiência profissional, sendo 37 destes dedicados à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Na última semana, Rippel ministrou uma palestra à Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná (Caciopar), em Jesuítas, a respeito do crescimento demográfico do Oeste do Paraná no período de 1940 a 2021, ressaltando a importância da migração e da população no desenvolvimento da região.

O Presente

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