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Municípios 16 anos de existência

Associação Quatro-Pontense de Tênis de Mesa: um projeto de encher os olhos

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Projeto idealizado pelo quatro-pontense Bráulio Franzener está há 16 anos oportunizando que crianças e adultos tenham contato com o tênis de mesa. Mais do que revelar talentos, iniciativa ajuda a formar cidadãos. Muitos que passaram pela Associação Quatro-Pontense de Tênis de Mesa se destacaram em competições, conquistando títulos importantes (Foto: O Presente)

Completando 16 anos de existência neste mês de janeiro, o projeto de tênis de mesa desenvolvido em Quatro Pontes por Bráulio Franzener é de encher os olhos. Realizada de maneira independente e com recursos do idealizador, a atividade começou timidamente com poucos alunos em uma associação de moradores na área rural, contudo, com o passar do tempo ganhou dimensões que poucos imaginavam.

“Iniciamos essa prática na Linha Guavirá, interior de Marechal Cândido Rondon, em um galpão improvisado. Lá, atendíamos cerca de 16 alunos. Hoje, temos instalações próprias e em torno de 30 crianças envolvidas constantemente, praticando tênis de mesa”, conta Franzener à reportagem do O Presente. “Já cheguei a ter 90 crianças participando”, acrescenta.

A paixão do quatro-pontense pelo tênis de mesa não é recente; vem do tempo de infância. “Conheci o tênis de mesa entre 1955 e 1958. Faz mais de 60 anos. Eu estudava em um seminário de padres, que tinha aproximadamente 120 meninos, entre 11 e 14 anos. Eu vivia na roça, conhecia pouco até do futebol, mas era esse esporte de mesa que me cativava de verdade. Havia uma só mesa para jogar e passávamos quase uma hora do intervalo na fila até chegar a vez. Quando chegava a vez, os meninos da cidade, que eram mais entrosados com o jogo, logo ganhavam de mim e eu perdia minha oportunidade. Meus intervalos eram assim, esperar a vez para então perder o jogo, mas eu não desistia. Coloquei na minha cabeça desde então que um dia eu me tornaria um praticante desse esporte e isso ficou em mim. Criei esse amor pelo tênis de mesa, que só cresceu desde então”, recorda Franzener, emocionado.

Mesa-tenista Bráulio Franzener, idealizador da Associação Quatro-pontense de Tênis de Mesa: “Nunca uma criança deixou de aprender o tênis de mesa. Muitas chegaram à associação sem nenhum conhecimento da modalidade e avançaram muito” (Foto: O Presente)

 

MOTIVAÇÕES

A satisfação e apreciação com a modalidade aumentaram ainda mais depois da participação e vitória nos Jogos da Amizade, destinados à terceira idade. “Estava com 62 anos na época. Me preparei e participei dessa competição, que aconteceu em Marechal Cândido Rondon, e consegui ficar em 1º lugar três vezes seguidas. Foi muito animador e dali para frente o projeto com as crianças foi tomando forma em meus pensamentos”, menciona o quatro-pontense.

Ao se aposentar na lavoura, principal atividade exercida por Franzener, ele buscou encontrar algum afazer para se ocupar. “Eu era acostumado a lidar com as coisas do campo e não tinha mais aquilo para fazer. Entrei em depressão e passei um ano lá embaixo. Fiz e faço acompanhamento médico até hoje. Algo que me ajudou muito a superar essa fase foi me abrir para o mundo. Foi então que encontrei algo que eu gostava de fazer: ensinar tênis de mesa. Desde então, passei a me dedicar às crianças do município. Isso foi essencial para eu superar essa fase da minha vida”, comenta.

 

ASSOCIAÇÃO QUATRO-PONTENSE DE TÊNIS DE MESA

Desta forma surgiu em 2006 a Associação Quatro-Pontense de Tênis de Mesa. “Com a implantação do projeto, realizamos todos os procedimentos necessários para conseguirmos nos filiar à Associação Paranaense de Tênis de Mesa. Temos CNPJ e todas essas formalidades. Como uma coisa leva a outra, as crianças que treinavam comigo sempre pensavam nas competições. Diziam que se podiam treinar, também podiam competir. Fiz muitas viagens ao longo dos anos acompanhando os atletas da associação e até fui aos Jogos Escolares junto com a equipe de Quatro Pontes”, enaltece Franzener.

A associação atende qualquer pessoa que queira praticar o esporte, sem nenhuma distinção. “Quando crianças querem jogar, temos o período da manhã, pois é menos calor e fica mais agradável. O horário é estipulado porque faço todo o acompanhamento dos jogos, realmente treino as crianças e cuido para não dar bagunça. Já para adultos, desde que tenham equipe para jogar, muitas vezes até deixo o espaço livre. Eles já sabem jogar e não precisam de muitas orientações”, expõe o idealizador do projeto, ressaltando que tanto meninos como meninas podem jogar. “Às vezes me deparo com alguns centros de treinamento somente para garotos. O esporte é universal, então ver isso é como ver um jardim sem flores”, amplia.

Franzener destaca que um dos pontos que prejudica os treinamentos é o uso do celular. “Deixei combinado com as crianças que podem trazer o celular, mas que não o usem durante os treinos para que o tempo possa ser aproveitado com o esporte. Já fui criticado por algumas pessoas por ser muito disciplinado, mas quem entende sabe que o resultado só vem com essa dedicação. Sem disciplina nada dá resultado”, frisa.

Quando questionado sobre o futuro da Associação, o idealizador, atualmente com 76 anos, diz que procura alguém para assumir o projeto futuramente. “Precisa ser alguém com paciência, amor pelo esporte e disciplinado. Eu seguirei enquanto Deus me der saúde, seja por mais um ou 20 anos”, menciona.

“Hoje em dia, quando faço minhas caminhadas matinais e encontro pessoas na rua, vejo que todos me conhecem. Sou reconhecido pelo que faço. Não quero me gabar, mas é uma coisa interessante. Passei a me dedicar ao bem comum e me sinto muito realizado”, enfatiza.

Mesmo em uma manhã chuvosa, várias crianças foram até o centro de treinamento, em Quatro Pontes, além da família Frank (Foto: O Presente)

 

ATLETAS

Motivo de orgulho para Franzener, a Associação Quatro-pontense de Tênis de Mesa já rendeu bons resultados. “Nós fomos quase que os pioneiros na modalidade no município e hoje já vemos esse esporte nas escolas. Quando um aluno se destaca no educandário, a diretora direciona ele para vir treinar comigo para melhorar ainda mais seu desempenho. Chegamos até a pagar treinadores de fora para vir dar apoio, quando se fez necessário. Lembro que entre 2012 e 2014 foi o auge em participações em competição”, relata o idealizador do projeto, orgulhoso de seus alunos.

Prova desses resultados é Aline Frank, atualmente acadêmica de Medicina Veterinária na Universidade Federal do Paraná, campus de Palotina, e medalhista na modalidade. “Desde quando comecei a treinar, o seu Bráulio viu que eu tinha capacidade. Já faz dez anos que tenho ligação com o projeto e me sinto muito feliz em participar. Eu cresci na modalidade, graças ao apoio do seu Bráulio. Dá para ver que ele se sente bem em ajudar os outros por meio do esporte e esse comprometimento com as crianças demonstra isso”, evidencia.

Aline é tricampeã paranaense de tênis de mesa, representando por duas vezes seguidas a cidade de Cascavel e uma vez Marechal Cândido Rondon, contudo, ela realiza seus treinamentos na Associação Quatro-Pontense de Tênis de Mesa.

Jenifer Thomas e Anderson Sebastião participam do projeto há oito meses e um ano, respectivamente, e dizem gostar de jogar. A mesa-tenista revela que se sente bem no local dos treinamentos. “Quando comecei nem sabia segurar a raquete. Eu venho quando estou triste e sempre que posso, pois gosto de treinar”, comenta.

Gilmar Franzener, filho de Bráulio, se sente orgulhoso pelos passos do pai. “A iniciativa dele é muito marcante, eu e meus irmãos éramos crianças e tanto ele como minha mãe, dona Ines, sempre nos incentivavam a praticar alguma atividade física, além do trabalho e dos estudos. Lembro que desde crianças tínhamos uma mesa de tênis de mesa e nossos colegas e vizinhos vinham jogar conosco. Acompanho a trajetória do projeto e já vi o tanto de pessoas que passaram por aqui, mesmo que não tenham seguido nas competições. O tênis de mesa auxilia na concentração, na concentração motora; é uma atividade muito importante”, exalta.

Aline Frank, de 21 anos, pratica tênis de mesa há cerca de dez anos, sendo uma das atletas treinadas por Bráulio Franzener. Ela já conquistou muitos troféus e medalhas na modalidade (Foto: Divulgação)

Jenifer Thomas e Anderson Sebastião participam do projeto há oito meses e um ano, respectivamente, e estão adorando poder treinar e jogar (Fotos: O Presente)

Gilmar e Bráulio Franzener: amor pelo esporte passou do pai para o filho (Foto: O Presente)

 

ESPORTE PARA TODOS

Hari Frank, de 62 anos e pai de Aline, é árbitro do Campeonato Paranaense de Tênis de Mesa e acompanha o projeto desde a Linha Guavirá. Segundo ele, no princípio a atividade era um passatempo, os encontros eram para diversão, mas com o tempo a iniciativa se solidificou. “O tênis de mesa é um esporte completo. Toda a família pode jogar, não importa a idade, nem a condição. Tenho uma filha, Amanda, que tem autismo e algumas limitações; no início, achávamos que ela não conseguiria jogar, mas pelo incentivo do seu Bráulio ela conseguiu e surpreendeu a todos. Foi uma fase muito importante para nós e ela se desenvolveu bastante”, compartilha.

Para Franzener, a experiência vivida com a Amanda foi um dos pontos altos do projeto. “O meu objetivo foi ajudar aquela menina. Diziam que não seria possível devido às suas dificuldades, mas eu fui lá e deu certo. Na teimosia minha, nunca uma criança deixou de aprender o tênis de mesa, muitas chegaram sem demonstrações e avançaram na modalidade. Todo o investimento que eu fiz no tênis de mesa é recompensado pela participação da Amanda. Foi gratificante”, considera o quatro-pontense.

Além de completo, Frank avalia o tênis de mesa como um esporte diferenciado. “Se comparado a outras modalidades, como por vezes acontece no futebol, o tênis de mesa tem muita amizade envolvida. Vejo nas competições que minha filha participa que tudo ocorre na tranquilidade, sem brigas ou austeridade”, salienta.

Ele resume que sua própria família é a prova da importância do projeto idealizado por Franzener. “Infelizmente, existem poucos projetos parecidos com este, com essa mesma finalidade. Tudo envolve tempo, custo, dedicação e paciência, principalmente. Não é todo mundo que tem disposição a isso e o Bráulio teve essa iniciativa muito louvável, já ajudou muita gente. Com certeza, todos são muito gratos a ele pelo trabalho que fez até hoje e continua fazendo”, elogia.

Hari Frank faz parte do projeto desde o começo, ainda na Linha Guavirá: “A louvável iniciativa do Bráulio já ajudou muita gente. Todos são muito gratos a ele pelo trabalho que faz” (Foto: O Presente)

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