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Municípios Subsídio mantido até março

Cancelamento da tarifa rural noturna pode impactar setor na região

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Subsídio da tarifa rural noturna, que existe desde 2007 e reduz em 60% a conta de energia elétrica entre as 21h30 e 06 horas, foi prorrogado apenas até março deste ano (Fotos: O Presente)

 

Em uma propriedade rural localizada no distrito rondonense de Bom Jardim, o agropecuarista Guido Herpich equilibra uma verdadeira equação de variáveis para a produção de aves. Ele mantém quatro barracões com capacidade para alojar, em cada um, 23 mil frangos por períodos de 45 dias. Mas, para que tudo dê certo e os animais sejam entregues para a indústria gerando renda para o avicultor, é preciso regular essa equação. E um dos fatores que mais pesa nessa conta é o gasto com energia elétrica, que representa, na média estadual, 20% do custo de produção.

Entre iluminação, fornos, exaustores e ventiladores, a granja utiliza uma série de equipamentos que ficam ligados a noite inteira e são necessários para a manutenção do conforto das aves. Com o desconto da tarifa rural noturna, de 60% entre as 21h30 e 06 horas, a conta fecha em torno de R$ 5 mil por mês.

Desde 2007, produtores como Herpich são beneficiados pelo Programa Tarifa Rural Noturna, que consiste em uma cobrança diferenciada criada por um termo de cooperação técnica entre a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a Secretaria de Estado da Agricultura. Atualmente, o desconto beneficia mais de 12 mil produtores paranaenses, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).

Inicialmente, a previsão era de que a tarifa noturna acabasse em 2012. Mas, ano após ano, o benefício vinha sendo renovado pela distribuidora. Porém, desta vez o Conselho de Administração da Copel aceitou estender o benefício que reduz em 60% o custo da energia elétrica consumida por produtores rurais apenas até março deste ano. A decisão levou em conta “o período de transição de governo e a necessidade de prazo para estruturação quanto à forma de custear a redução de tarifa”.

Entre as condições estão a exigência de que o governo estadual assuma a responsabilidade pelo pagamento do subsídio e informe a empresa o interesse pela continuidade do desconto e a forma como será custeado nos meses seguintes. Se isso não ocorrer, a companhia vai cobrar as tarifas dos produtores rurais sem o desconto de 60% e de forma retroativa ao dia 1º de janeiro.

A decisão, mesmo que temporária, já traz apreensão aos produtores rurais, que desde novembro do ano passado começaram a receber avisos de que o desconto teria fim a partir deste ano. “Terá um impacto muito grande na área produtiva, principalmente nas granjas de suínos, piscicultura, pecuária de leite, assim como na avicultura, que é o meu caso”, diz Herpich, preocupado com o desdobramento da questão.

IMPACTO DIRETO

Há 14 anos no ramo da avicultura, o rondonense aponta com facilidade qual é o insumo que mais pesa no custo da produção: a energia elétrica. “O preço da luz sempre foi uma preocupação para nós, produtores. A energia elétrica é o insumo necessário para manter o bem-estar do animal, com temperatura correta e alimentação adequada, na hora certa”, explica.

Apesar de serem muitos os equipamentos movidos a energia elétrica usados nos aviários, Herpich destaca que nem todos são utilizados durante a noite em função das temperaturas permanecerem mais amenas. “Mas na área da avicultura tem muitos equipamentos que são utilizados justamente por conta das altas temperaturas registradas na nossa região, e isso tem um consumo muito elevado, principalmente no meu caso que são quatro barracões com aves”, pontua.

Ele também cita que é impossível manter 23 mil frangos, pesando acima de dois e meio a três quilos, em uma temperatura acima dos 30°C, como as registradas diariamente no município. “E se desligar os equipamentos as temperaturas passam longe disso, especialmente com o calor que estamos sentindo nos últimos dias. É preciso manter a temperatura na granja em no máximo 25°C e para isso é preciso equipamentos, que se revertem em custos elevados de consumo de energia para o produtor”, salienta.

Na visão do agropecuarista, o mercado não está tão bom quanto deveria e isso também impacta diretamente no produtor. “Já tivemos época em que estávamos bem melhor. O lucro era maior. Hoje sabemos das dificuldades, inclusive com alguns empecilhos em termos de exportação de frangos. Tudo impacta no produtor, naquele que de fato produz o frango, em função de termos custos fixos, como empregados, manutenção, e esse aumento da energia elétrica seria algo que diminuiria diretamente a lucratividade do produtor rural”, menciona, acrescentando: “No meu caso, o consumo é elevado por conta dos barracões, mas sabemos que na piscicultura, suinocultura e produção de leite o consumo também é elevado. Hoje todas as propriedades usam muito a energia elétrica e é necessário”, expõe.

GASTOS

Na ponta do lápis, o gasto com energia elétrica ao longo dos 12 meses de 2018 rendeu a Herpich o montante de R$ 60 mil. Sem o benefício de desconto de 60% da tarifa rural noturna, o valor chegaria a mais de R$ 86 mil. “Como hoje isso é um custo direto de custeio da produtividade, cada vez a lucratividade do produtor vai ser menor”, salienta.

A partir dessa média de gastos, o consumo mensal na propriedade dele é em torno de R$ 5 mil, contando com o desconto. Mas o próprio produtor ressalta que em alguns meses o valor é mais alto e em outros menores, dependendo do período em que os frangos são alojados. Sem o benefício, o valor mensal a ser pago pelo rondonense passaria de R$ 7 mil.

Diante desse cenário, o avicultor reforça que a manutenção do Programa Tarifa Rural Noturna se torna fundamental para a continuidade dos bons resultados do agronegócio local, regional e estadual. “É um benefício grande e bastante relevante. Por isso é necessária uma mobilização do setor do produtivo, das classes organizadas que defendem a agricultura e dos deputados estaduais, para que sensibilizem o Governo do Estado e mantenha esse benefício”, expõe, acrescentando: “Precisamos achar soluções e esperamos que o governo mantenha essa tarifa noturna diferenciada, como vinha acontecendo nos últimos anos, porque do contrário será um impacto muito grande no setor produtivo”, conclui.

 

O Presente

 

Agropecuarista Guido Herpich: “Precisamos achar soluções e esperamos que o governo mantenha essa tarifa noturna diferenciada, como vinha acontecendo nos últimos anos”

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