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Municípios Representatividade política

Dos 54 chefes do Executivo, apenas duas mulheres são prefeitas no Oeste

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Fotos: Leme Comunicação

 

Seja Legislativo ou Executivo, em municípios de pequeno ou médio porte, o cenário político é o mesmo: as mulheres têm pouca – e em alguns casos nenhuma – representação política. O relatório “Panorama ODS: Oeste do Paraná em Números”, lançado pela Itaipu Binacional e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Brasil, com a proposta de seguir impulsionando o desenvolvimento local no Oeste do Paraná, chama a atenção para o 5º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), de alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Apesar de orientar para a atuação da sociedade a fim de garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública, os dados apresentados pelo relatório mostram que ainda há um longo caminho a ser trilhado pelas mulheres na política regional.

Ainda que a maioria da população da região seja de mulheres, na gestão de 2017 a 2020 cerca de 51% dos cargos de prefeito e vice-prefeito nos municípios oestinos são majoritariamente ocupados por homens, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentados no relatório.

Dos 54 chefes do Executivo, 52 são homens (96,3%) e apenas duas são mulheres (3,7%). Em relação aos vice-prefeitos, os números não são muito diferentes: 50 são homens (92,6%) e somente quatro são mulheres (7,4%).

No Legislativo, há 532 vereadores no total, dos quais 461 são homens e apenas 71 são mulheres, que representam 13,3% do total de vereadores. Em 14 municípios da região, 100% dos vereadores são homens.

 

BARREIRA CULTURAL

Candidata a vereadora em três oportunidades, a 2ª vice-presidente da comissão executiva do diretório do MDB de Marechal Rondon, Maria Amália Ritt Haab, hoje é a 1ª suplente do partido no Legislativo rondonense.

Na visão dela, o pequeno número de mulheres que participam ativamente da política, não somente em nível regional, mas também estadual e federal, é resultado de barreiras sociais e culturais colocadas frente ao público feminino. “As mulheres ainda são colocadas no papel de mãe e esposa, de ter a preocupação com a família e de que ela não vai em todos os lugares que os homens vão. As mulheres têm uma liberdade social infinitamente maior do que os homens e essa já é uma das primeiras dificuldades que nós enfrentamos ao falar de política”, explica.

Outra situação, menciona, está dentro dos próprios partidos políticos, que em sua maioria são administrados por homens. “A questão financeira dos partidos é, na maioria das vezes, controlada e direcionada pelos homens. As mulheres acabam tendo um papel de secretária, fazem as atas, a burocracia, mas dificilmente lidando com dinheiro”, cita. “Essas são situações dentro dos próprios partidos políticos que também dificultam o acesso das mulheres à candidatura”, acredita.

Ela define que, diferente de muitos candidatos homens, as mulheres que se envolvem de forma íntima com a política vão pela causa e não pelo poder. “Não posso generalizar, mas o que percebemos é que as mulheres têm mais esse lado humano, voltado para as próprias mulheres, para as crianças, para as minorias, para o trabalho humano da sociedade, que é pelo que todos os políticos deveriam trabalhar sempre”, observa.

 

EXPOSIÇÃO

Maria Amália exalta, entretanto, que há que se levar em conta a vontade das mulheres. Diferente de muitos homens que ocupam cargos políticos e têm sua imagem em destaque e exposta na mídia e na sociedade, algumas mulheres, por sua vez, não querem tanto aparecer, mas, sim, fazer. “Muitas não querem estar na ponta, tendo toda visibilidade e acesso. Elas querem colocar em prática a mudança, querem fazer e é por meio do Executivo que isso acontece”, declara.

Aposentada, ela conta que atuou por 30 anos no serviço público atendendo muitas pessoas sempre com muito comprometimento e paixão a este trabalho, forma de atuar que a levou a ser convidada para se candidatar ao Legislativo. “Mas há uma tendência de mulheres atuando no Poder Público no Executivo, com uma agenda programada, sem essa necessidade de grande exposição”, pontua.

Ela cita, também, o próprio apoio de lideranças de partido, prefeitos ou vice-prefeitos, que, normalmente, buscam mais homens do que mulheres para candidaturas. “Os partidos precisam cumprir uma cota de 30% de candidatas quando apresentam os que irão concorrer nas eleições e, quando chega essa época, os homens já estão preparados, o campo para eles já foi preparado, por todo acesso, por toda liberdade que eles têm de estar onde quiserem sem sofrer julgamentos ou preconceitos pela sociedade”, declara.

Já para as mulheres, muitas acabam desmotivadas. Isso porque, pela necessidade de cumprir o número estabelecido, Maria Amália pontua que mulheres com potencial para serem eleitas são chamadas, porém, pela falta de preparação e de ter acesso ao partido, acabam não sendo eleitas. “Há mulheres que são procuradas porque têm um potencial para serem candidatas, entretanto, muitas vezes a intenção do partido não é que ela se eleja, é que ela tenha uma votação expressiva para beneficiar determinado candidato na soma de votos e este é um fator que desestimula muitas mulheres no meio político”, avalia.

 

PRECONCEITO VELADO

Nas três oportunidades em que se candidatou a vereadora, Maria Amália foi eleita para a suplência do partido e, em duas, ocupou uma cadeira na Câmara. A experiência ela resume em felicidade. “Como suplente você precisa convencer os demais vereadores do seu trabalho, mas nas duas oportunidades em que estive na Câmara de Vereadores me senti muito feliz, porque as pessoas me procuraram e tiveram oportunidade de ter contato com uma mulher vereadora, pessoas que queriam uma mulher para abrir caminhos, porque se sentiam mais confortáveis e à vontade em falar com uma mulher, então foram experiências muito boas”, resume.

Mas, ela diz que existe certo preconceito, ainda que velado, pelo fato de ser mulher e estar no meio político. “Nas duas vezes em que atuei, a maioria dos vereadores e assessores eram homens, mas eu tenho um perfil de me impor, então sempre fui bastante impositiva e em nenhum momento houve falta de respeito”, revela Maria Amália.

Por outro lado, expõe ser perceptível que ela, enquanto mulher e suplente, não era colocada no mesmo patamar dos demais legisladores. “Mas essa é uma realidade que não tem relação com alguma pessoa em específico ou um partido. É uma cultura política, que afeta todos os partidos, todas as estruturas de poder e que acabam desmotivando as mulheres de participar da política”, conclui.

 

ENCORAJAMENTO

Uma das duas mulheres que ocupa o cargo de chefe do Executivo na região Oeste é Cleci Maria Rambo Loffi, prefeita de Mercedes na gestão 2013 a 2016 e reeleita na última eleição para chefiar o município até 2020.

A gestora diz que, há alguns anos, o preconceito era perceptível dentro da política contra as mulheres, contudo, opina que está cada vez menor. “Tivemos no governo federal a primeira presidente mulher, no Governo do Estado a primeira governadora mulher e isso tem criado espaços, fazendo com que o preconceito diminua cada vez mais”, observa.

Ela ressalta que, em seu primeiro mandato como prefeita, sentia de forma muito forte o machismo, quando perdeu muitos votos de companheiros de seu grupo político que não admitiam votar em uma mulher. “Agora, na minha segunda gestão, essas pessoas votaram em mim. Elas mudaram sua opinião porque viram que independente de ser homem ou mulher, se a atuação acontece com determinação, mostrando resultados, a barreira do preconceito cai”, exemplifica.

Cleci percebe que as mulheres não têm interesse em participar da política por ainda ter uma visão de que a política está ligada ao homem. “Mas essa visão está completamente errada. Muitas pessoas vão entender mal a minha colocação, mas talvez muitas delas não querem se envolver na política por acharem que é um mundo masculino e de machismo, mas não é. Eu posso afirmar que hoje não é”, ressalta.

Ela define que qualquer profissão que a mulher queira exercer pode fazer tão bem quanto um homem. “Se uma mulher se sente preparada para ser prefeita, se tem a condição de fazer um bom trabalho como administradora, se tem paixão por esse trabalho, ela terá sucesso”, pontua. “Mas por obrigação, jamais. Seja homem ou mulher”, completa.

Partindo do princípio de que as funções não podem ser limitadas pelo sexo, Cleci encoraja as mulheres a partirem com coragem e vontade para o meio político. “Se há mulheres com vontade, mas que não se candidatam ou se envolvem por medo ou preconceito, não devem hesitar. O tempo de preconceito já foi”, reforça a prefeita de Mercedes.

Ela acredita que o preconceito foi derrubado por outras mulheres terem mostrado que são capazes de ocuparem cargos políticos, porém, as mulheres precisam derrubar isso dentro delas. “Desde que tenham vontade, apoio e se imponham. As mulheres precisam se ver de forma diferente e acreditar que podem fazer o que quiserem, não só no meio político, mas em qualquer coisa que quiserem”, destaca.

Cleci pontua que não defende a bandeira do feminismo, mas da igualdade. “As mulheres têm que acreditar que vão dar conta. Quando eu me elegi vereadora e, depois, assumi como secretária de Saúde, eu saí de dentro de casa, eu era dona de casa, e passei a ser vereadora, depois secretária, vice-prefeita e depois prefeita, porque nós que trilhamos nosso caminho, mostrando vontade, trabalho e capacidade”, encerra.

 

DIFICULDADE

O prefeito de Marechal Rondon e presidente da comissão provisória do DEM, Marcio Rauber, explica que a lei eleitoral reserva 30% do mínimo de candidaturas para cada sexo e, os outros 40%, podem ser tanto homens quanto mulheres. “Mas é notório que não é fácil preencher as vagas reservadas para mulheres. Por vezes observamos partidos que concorrem às eleições sem ter o número mínimo preenchido e, a consequência disso, é que a quantidade de vagas a serem preenchidas por candidatos de um dos sexos deve ser reduzida do número de candidatos gerais da sigla”, menciona.

O partido não possui diretórios municipais ou estaduais por uma decisão do diretório nacional em 2017 e na comissão provisória da agremiação, Rauber diz que nenhuma mulher é integrante. “É importante ressaltar, no entanto, que mulheres integram o nosso diretório e que há um número considerável de mulheres fi liadas ao Democratas no município”, aponta.

Na visão do prefeito rondonense, é difícil definir o motivo que leva a participação feminina na política ser baixa. “Talvez desinteresse, por questões até de preconceito, porém, é notório que as mulheres deveriam participar mais abertamente da vida pública, inclusive concorrendo nas eleições, pois assim como as demais classes sociais, a participação feminina na política também é muito importante”, finaliza Rauber.

 

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