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Municípios Entrevista ao O Presente

“Essa ação só começou porque há pessoas de Porto Mendes descontentes”, diz Cleci

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Prefeita de Mercedes, Cleci Loffi: “O mais importante que devemos reiterar é: o anseio é do distrito de Porto Mendes, não é um anseio do município de Mercedes” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

Foram centenas de mensagens e ligações entre sábado (16) e domingo (17) com apoios, críticas e pedidos de esclarecimentos. Desde que um áudio em que a prefeita de Mercedes, Cleci Loffi (MDB), fala com um empresário do distrito de Porto Mendes, interior de Marechal Cândido Rondon, informando que conversou com o deputado estadual Marcel Micheletto (PR) para tratar sobre o processo legal referente à comunidade rondonense eventualmente pertencer ao município mercedense, muito se falou do último fim de semana para cá.

O áudio é datado em 26 de fevereiro deste ano. Cleci havia ido a Curitiba para resolver assuntos de interesse do município. Em sua visita ao gabinete de Micheletto na Assembleia Legislativa, aproveitou para conversar com ele a respeito da cobrança que vinha recebendo de pessoas de Porto Mendes que gostariam de ver o distrito ser anexado a Mercedes. Depois da conversa com o parlamentar ela enviou um áudio por WhatsApp para informar a um empresário rondonense, que integra o movimento distrital, de que já havia mantido contato com o deputado.

Dentre os vários áudios trocados entre os dois, apenas um circulou pelas redes sociais e, inicialmente, a divulgação ocorreu como se tivesse vazado uma informação que seria desconhecida. Porém, o próprio Jornal O Presente fez uma reportagem no final do ano passado relatando que havia moradores de Porto Mendes que defendiam que o distrito passasse para Mercedes.

“Ninguém esperava que esse assunto tomaria essa proporção”, disse a prefeita Cleci Loffi ao Jornal O Presente, ontem (18). “Continuo falando o que disse desde o começo. No final do ano houve um evento da Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná), em Cascavel, e o prefeito Marcio (Rauber, de Marechal Rondon) estava sentado ao meu lado. Falei para ele que Porto Mendes estava fazendo essa manifestação, mas ele não deu atenção devida ao fato. Ele foi avisado”, relata.

A gestora explica que foi chamada por moradores de Porto Mendes para participar de uma reunião na comunidade. “Fui sem saber qual era o assunto. Quando cheguei me pediram se Mercedes teria interesse em anexar o distrito de Porto Mendes. Respondi que se isso fosse de interesse da grande parte da população, claro que sim. Porém, jamais vamos criar uma polêmica ou briga em cima disso. Para nós foi novidade Porto Mendes querer vir para Mercedes, assim como foi novidade nesses últimos dias toda essa situação gerada com essa polêmica. Fiquei na época tão surpresa como a população ficou surpresa agora com o fato, pois não imaginávamos esse interesse”, declara.

Na oportunidade, rememora Cleci, os moradores que estiveram na reunião pediram a ela que fosse atrás da legalidade do processo, pois queriam saber como seria o trâmite. “Se houve confiança no meu nome para ir atrás para levantar essas informações, eu fiz isso. Existe a legalidade, mas precisa passar por uma grande tramitação que envolve a Assembleia Legislativa, lei, plebiscito, enfim. Esse não é um processo rápido, mas sim moroso. Há um passo a passo sobre isso”, detalha.

De acordo com a prefeita, o encontro com o deputado Micheletto ocorreu apenas uma vez para tratar deste assunto, ocasião em que a gestora buscou saber qual seria o interesse dele em ser parceiro do distrito rondonense. “O mais importante que devemos reiterar é: o anseio é do distrito de Porto Mendes, não é um anseio do município de Mercedes. Tudo isso que está acontecendo agora só vai se tornar realidade se a população de lá quiser. E para a população querer precisamos ter um representante que vai abraçar essa causa para a comunidade. O Marcel Micheletto se colocou à disposição. A comunidade quer? O Marcel Micheletto é parceiro. Se a comunidade não quer, fica do jeito que está e pronto. O que aconteceu foram apenas sondagens em cima disso. Eu fui a Curitiba, conversei com o Micheletto, o deputado se comprometeu em verificar a legalidade e o passo a passo disso para fazermos o que é certo”, reforça.

 

Áudio

Um dos termos que Cleci usa no áudio que se tornou público é que ela estaria “fuçando” a respeito do processo para anexar Porto Mendes a Mercedes. Conforme a mandatária, o termo foi usado no sentido de buscar informações corretas e não fazer o que é errado. “Em nenhum momento houve intenção em fazer algo escondido. A partir do momento que você sabe quais são os caminhos, é preciso chamar a comunidade de Porto Mendes, conversar para saber se é isso que quer e vamos juntos dar esse passo. Essa foi a ideia inicial. Mas agora se desenhou de uma forma negativa, como se fosse um golpe. De forma alguma. O que ocorreu foram conversas para ver se haveria interesse e legalidade. A partir disso quem vai decidir, primeiramente, é a comunidade de Porto Mendes”, salienta.

 

Descontentamento

Ontem o prefeito Marcio Rauber se pronunciou sobre a polêmica e fez duras críticas à prefeita de Mercedes. Ao O Presente, Cleci foi enfática: “Entendo que para a Prefeitura de Marechal Cândido Rondon perder eventualmente Porto Mendes não seria uma coisa muito satisfatória, porque o distrito tem uma potencialidade que precisa ser reconhecida, falando sim dos royalties, da área de lazer, das empresas, do setor produtivo. Tudo isso tem que ser levado em consideração. Agora querer responsabilizar a prefeita de Mercedes ou querer responsabilizar o deputado Marcel? Isso é um absurdo. Essa ação só começou porque houve pessoas do distrito de Porto Mendes descontentes. Só por este motivo”, destaca. “Esse movimento todo abre um alerta. O que estamos vendo agora são outras linhas de Marechal Cândido Rondon com o mesmo interesse. Novo Três Passos quer pertencer a Quatro Pontes; a Linha Wilhelms e Margarida querem pertencer a Pato Bragado; Bela Vista e Novo Horizonte com movimentações para vir para Mercedes também. Então alguma coisa errada está acontecendo e tem que ser revisto tudo isso. É fácil para Mercedes absorver? Não sei. Nem pensamos nessa possibilidade, até porque era uma coisa que para nós também não vinha do interesse até então”, comenta.

 

População de Mercedes

Questionada se já existe alguma manifestação da população mercedense sobre o assunto, se a maioria é a favor ou contra a incorporação do distrito rondonense ao município, a prefeita responde que não tem conhecimento. “Nem chegamos a discutir esse assunto, porque não foi algo que abraçamos como nossa bandeira. Só fomos atrás dessas informações porque a comunidade de Porto Mendes queria saber como se faz e qual é o passo a passo para conseguir realizar um plebiscito. Isso que a prefeita de Mercedes fez, somente. A partir de agora serão eles que devem encampar essa bandeira e lutar pelos direitos de Porto Mendes. Eles sabem agora os caminhos e terão que tomar a frente dessa ação. Se a população quiser vir para o município de Mercedes, tiver legalidade para isso e no plebiscito houver posicionamento favorável, não será a prefeita que vai impedir”, afirma.

 

Polêmica

Por fim, quando perguntada como enxerga a relação entre os dois municípios depois de toda a polêmica, a gestora menciona que viu algumas postagens de pessoas sugerindo como se tivesse iniciado uma “guerra”. “Nunca”, frisa. “Jamais eu faria isso. Marechal Cândido Rondon é a minha terra natal. Hoje eu sou prefeita de Mercedes e vou defender o município sem dúvida alguma, mas não vou entrar numa batalha, nem com Marechal Rondon e nem com o prefeito Marcio. Se tem alguém que precisa agora tomar a frente disso é a comunidade de Porto Mendes. Se a comunidade decidir por isso, não somos contrários, mas eu responder alguma coisa em relação às manifestações do prefeito Marcio, acho que o tempo vai mostrar. Não tem nem porque eu entrar em embate com ele. O próprio deputado Marcel Micheletto deve se posicionar. Isso tudo deve começar a clarear as coisas em relação a essa declaração do prefeito. Jamais vou entrar em discussão com ele, pois volto a dizer: o Marcio foi meu colega de escola, era meu amigo na adolescência, não mudo de opinião em relação a ele. Quem sabe algum comentário que tenha feito hoje (ontem) ocorreu de cabeça quente, até em razão de tudo o que está acontecendo. Eu não tiro a razão dele, porque deve passar um turbilhão na cabeça com várias comunidades se manifestando. Não é uma única linha. Claro que isso preocupa um bom gestor. O Marcio é um bom gestor e logo ele vai perceber que de repente é o momento de sentar, conversar com as comunidades, ouvi-las e atender mais os anseios, principalmente do interior”, conclui.

 

 

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