Fale com a gente

Municípios Prejuízo

Estiagem prolongada “quebra” cerca de 15% da safra de soja na região

Publicado

em

Todavia, colheita ainda pode alcançar boa produtividade se as chuvas voltarem ao normal. Lavouras mais prejudicadas foram cultivadas em setembro e estão na fase de floração (Foto: Joni Lang/OP)

O déficit de chuva que dura meio ano no Oeste do Paraná já comprometeu aproximadamente de 10% a 15% da safra de soja em Marechal Cândido Rondon e microrregião. Com média anual de 2,3 mil milímetros de precipitações pluviométricas, estimativas apontam que até novembro deste ano choveu em torno de mil milímetros a menos no município rondonense do que de janeiro a novembro do ano passado.

Apesar disso, informa o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte, a safra ainda pode ser de boa produtividade. Isso porque, segundo ele, o atraso no plantio da soja deu sobrevida às lavouras. Além disso, acrescenta o profissional, a previsão de bom volume de chuva nesta semana pode representar alento às áreas cultivadas.

“Nós temos algumas situações diferentes no campo em relação à época de plantio. Por exemplo, alguns agricultores, mesmo com pouca chuva, semearam as lavouras no início de setembro, enquanto a maioria optou por aguardar até que as chuvas voltassem. Aquelas semeadas primeiro entraram no estágio reprodutivo, ou seja, estão em fase de floração e algumas em fase de frutificação”, salienta, acrescentando que as primeiras áreas semeadas apresentam início na formação de vagens e de enchimento de grãos e no momento são as lavouras mais prejudicadas em função da falta de chuva.

A segunda situação, conforme o agrônomo, refere-se às lavouras semeadas em outubro, quando houve o registro de chuvas, mesmo que em pouca quantidade. “Estas lavouras possuem condição de se recuperar com mais eficiência em relação às anteriores. São áreas plantadas após 20 de outubro e onde está sendo iniciado o processo reprodutivo, a fase de florescimento. Tais lavouras estão com 30 dias e praticamente emergidas. Elas tiveram o porte de crescimento reduzido, mas a partir do retorno da chuva têm condição de apresentar bom potencial produtivo”, expõe.

 

PERDA

Cunha diz que, indiferente da data de plantio, todavia, de uma forma geral a estiagem trouxe perdas generalizadas: para alguns mais, outros menos. “Até porque as lavouras de soja da fase vegetativa precisam em média quatro milímetros de água por dia, e não tivemos essa chuva nesse período, então a planta não está com a sua formação total”, comenta.

O profissional acredita que as perdas nas lavouras de Marechal Rondon e microrregião devem ser de 10% a 15%, quando analisado o potencial de áreas de terra em situações normais. “Certamente já reflete no que poderia ser a safra”, pontua.

Ele reforça que o atraso no plantio contribuiu para uma quebra menor na região, pois se a maioria das lavouras tivessem sido plantadas no início de setembro a perda seria bem maior. “Atingiria a cultura na fase em que ela estaria mais suscetível, que é a de enchimento de grãos, sendo que, daí, ao invés de quatro milímetros, a necessidade hídrica seria de oito milímetros ao dia. Ou seja, a fase vegetativa, ou de enchimento de grãos, precisa do dobro de água”, comenta.

 

CHUVA

De acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), 3,5 milímetros de chuva estavam previstos para quarta (26) em Marechal Rondon e outros 51,2 milímetros na quinta-feira (27). “Com o retorno das chuvas as lavouras ainda devem expressar ótimo potencial produtivo. Devido ao atraso no plantio ao invés do fim de janeiro, a maioria das lavouras de soja serão colhidas no fim de fevereiro”, salienta o engenheiro agrônomo.

Ele relata que algumas áreas serão colhidas entre 05 e 10 de fevereiro, no entanto a maior parte ficará para 20 de fevereiro até 10 de março. “Esse último período tende a concentrar o grosso da colheita na região. Isso ainda vai permitir ao agricultor fazer o cultivo do milho safrinha se na época tiver umidade”, destaca, ponderando que o potencial produtivo do milho safrinha também fica comprometido. “Todavia, o preço está bom porque o mercado sinaliza preços atrativos para esta safrinha que será semeada nos meses de fevereiro e março”, comenta.

 

Engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte: “Para as áreas que entraram no período reprodutivo, o grande dano é causado pelo percevejo que já está presente nas lavouras. O agricultor precisa realizar o controle quando for necessário” (Foto: Joni Lang/OP)

 

MANEJO

No que tange aos cuidados por parte dos agricultores, Cunha ressalta que o monitoramento das áreas deve ser constante, principalmente quando o assunto é pragas e doenças. “Falando em pragas, na última semana iniciou em algumas regiões o ataque muito forte da lagarta da soja nas lavouras que não têm a tecnologia intacta, então o produtor deve monitorar esta lavoura e conferir, no mínimo, a cada dois dias”, orienta, emendando: “Para as áreas que entraram no período reprodutivo, o grande dano é causado pelo percevejo que já está presente nas lavouras. Nós já identificamos, sendo que o agricultor precisa realizar o controle quando for necessário”.

Outra questão, amplia o profissional, está ligada às doenças. “A falta de chuva não significa ausência de doenças nas áreas agricultáveis. Temos noites com muito orvalho, quando a cultura permanece molhada por grande tempo e isso favorece as conhecidas ‘DFC’, que são as doenças de final de ciclo, mas que abrem o processo de infecção agora no início do ciclo”, explica.

Conforme ele, é importante o agricultor monitorar e olhar qual cultivar está plantada e se ela é mais resistente ou mais suscetível a determinadas doenças. “Em seguida deve procurar sua assistência técnica para fazer o manejo da melhor forma possível com o produto certo para controlar aquela doença”, frisa.

 

RENDIMENTO

Embora já se saiba que haverá quebra em termos de produtividade, o valor das commodities como soja está bom, provocado pela alta do dólar. “Todo dia o dólar mexe e puxa para cima, o que refletiu no milho e na soja também. Ontem a saca de soja estava cotada em R$ 77,50 e do milho em R$ 34. Se o dólar mantiver no nível que está o preço da saca da soja deve oscilar de R$ 75 a R$ 80 ou mais. Se a produtividade for boa, e a gente acredita que apesar da quebra real o resultado da safra ainda será bom, o produtor conseguirá obter rendimento satisfatório com a colheita”, avalia.

 

O Presente

Copyright © 2017 O Presente