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Municípios Uva no reino da soja

Família de Palotina promove transição do vinho colonial para o comercial usando tradição secular

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Graciela Bordignon com seus “meninos” Ricardo, Davi, Gabriel e Leonardo: “fazer juntos” (Foto: Jairo Eduardo/Pitoco)

Primeira semana de 2020. Três caminhões com placas de Bento Gonçalves, cidade localizada na Serra Gaúcha, serpenteavam por estradinhas quase carroçáveis de Palotina.

Nas carrocerias, 45 toneladas de uvas cultivadas a 1,2 mil metros de altitude, cepas de excelente reputação, responsáveis por um milagre econômico do agronegócio brasileiro: a produção de vinho nacional de qualidade.

O destino da carga, um sítio encravado a cinco quilômetros do centro de Palotina. Os gaúchos e suas apreciadas uvas foram recebidos pelo engenheiro agrônomo Ricardo Selinger, sua esposa Graciela e o pai dela, Benjamin Bordignon.

Além dos adultos, a morada no sítio abriga apenas mais três “escandinavas” crianças do casal, alguns patos, capivaras, peixes e lagartos… Então fica a pergunta: para que tanta uva? Afinal, são 45 mil quilos de niagara e bordô.

É preciso voltar quase seis décadas no tempo para entender. Anos 60: “Seo” Bordignon, catarinense, e a esposa, dona Jandira, gaúcha, recém-chegados a Palotina, se uniram em matrimônio. Traziam no DNA a cultura ancestral da vinicultura.

Os primeiros Bordignon a cultivar uvas e delas extrair o néctar dos deuses remontam à Itália, região de Vênetto. A longa tradição ganhou sequência em Palotina.

“Inicialmente meu pai, a exemplo de todos os outros imigrantes italianos radicados aqui, fazia o vinho apenas para consumo próprio ou para presentear parentes e vizinhos. Como o produto final era muito bom, foi preciso aumentar a produção. E como os gastos com uvas eram elevados, ele começou a vender”, conta Graciela.

A produção artesanal não rendia grandes lucros, mas era uma paixão que foi ganhando escala. Dali a pouco a produção estava em 300 litros. Ainda era insuficiente para a demanda. No auge, Bordignon e a esposa, agora com o reforço do filho Graciano, envazando garrafa por garrafa, chegaram a 13,5 mil litros.

 

POR UM FIO

Era o limite do esforço físico do veterano produtor de vinhos, já quase septuagenário. Certo dia Graciela encontrou o pai cansado e disposto a deixar a atividade secular dos Bordignon. Foi quando a filha e o genro, Ricardo Selinger, decidiram voltar para o sítio, assumir a riquíssima expertise desenvolvida pelos pais, formalizando a gestão e a produção.

É uma ousadia genuína. Afinal, Palotina, município das terras mais férteis do planeta, tem zero tradição em vinhos rotulados que disputem lugar ao sol em um mercado tão competitivo, globalizado.

Na terra da soja, do frango, do chiqueirão e da tilápia, haveria espaço para a produção comercial de vinhos? É o que a Vinícola Bordignon tentará provar. E ao julgar pelo que veremos a seguir, todas as condições estão lançadas para o tilintar das taças.

 

Com Pitoco

 

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