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Municípios Entrevista ao O Presente

“Hoje o coração do Biopark é o ensino”, avalia Luiz Donaduzzi

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Presidente do Biopark e sócio-fundador da Prati-Donaduzzi, Luiz Donaduzzi: “Ninguém coloca R$ 140 milhões em um projeto, vendo retorno lá na frente, se você não estiver profundamente comprometido e as pessoas que vêm para cá têm essa função: são pessoas comprometidas conosco” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Alcançar a idade para aposentadoria e desacelerar o ritmo de vida para aproveitar o tempo com a família, amigos, viajar e descansar. Este certamente é o projeto de muitos quando alcançam a chamada terceira idade. Mas está longe de ser algo vislumbrado pelo visionário Luiz Donaduzzi.

Sócio fundador da Prati-Donaduzzi juntamente com sua esposa Carmen, hoje considerada uma das principais indústrias farmacêuticas do país, o farmacêutico lançou há quatro anos o projeto do Parque Científico e Tecnológico de Biociências (Biopark), do qual é presidente.

Localizado em uma área de cinco milhões de metros quadrados às margens da PR-182, em Toledo, é hoje, talvez, um dos mais importantes empreendimentos do Brasil, pois une a inovação, a ciência e a tecnologia, além de muito mais.

Na quinta-feira (09), Luiz Donaduzzi recebeu a reportagem do Jornal O Presente, ocasião em que concedeu uma entrevista exclusiva para falar desta que é uma das iniciativas mais audaciosas e que promete transformar a região em alguns anos. Confira.

 

O Presente (OP): Em 2016, quando o senhor resolveu lançar o Biopark, o que significou e o que representa hoje?

Luiz Donaduzzi (LD): Eu tenho ainda, numa projeção otimista, 86 mil e 200 horas úteis. Quando eu durmo, para mim isso é perda de tempo. Todos vamos partir e o que estamos deixando? Uns deixam uma família bacana, uns netinhos, que é a projeção. Outros vão se juntar a Deus, que é uma boa ideia também e eu concordo plenamente. Eu penso que eu vou deixar alguma coisa para as futuras gerações e um mundo melhor ao meu redor, não longe do meu redor. Aquilo que posso influenciar aqui eu penso que é importante. Hoje temos milhares de famílias na Prati-Donaduzzi, que é a empresa que a gente esteve à frente até nos últimos anos, e essas famílias estão melhorando de vida, porque os membros da família trabalham conosco e incentivamos eles a crescerem, a estudarem e a se desenvolverem. É o que a gente está fazendo no Biopark. Eu não faço nenhum produto no Biopark, não tenho interesse em produzir, senão vai virar uma segunda Prati. Hoje eu quero trazer empresas aqui e elas vão fazer. Agora, o que vamos fazer? Nós vamos ensinar as empresas a fazerem, a se viabilizarem, as pessoas virem com ideias fantásticas e com produtos fantásticos também. Todo dia estão aparecendo produtos aqui fora de série. Só que na área de gestão, a maioria das pequenas empresas é crua. Quando eu comecei eu era cru em gestão, não entendia absolutamente nada e fui aprendendo ao longo desses 30 anos. Tanto eu quanto muita gente na Prati temos um conhecimento coletivo e estamos passando esse conhecimento para essas empresas. As empresas que estão conosco aqui, pelo menos as pequenas e médias, têm que crescer pelo menos 100% ao ano. É o mínimo que a gente espera, porque terão as ferramentas para esse crescimento.

 

OP: O Biopark começou basicamente com a implementação de três universidades. Isso foi uma estratégia para atrair outras iniciativas?

LD: Sim. Hoje nós temos na Prati quase 20 anos de experiência de ensino. Contamos com uma universidade corporativa, a UniPrati. Ela terceiriza conteúdos para nossos colaboradores. Sabemos que o ensino é fundamental se queremos ter crescimento. É fundamental para a empresa e é fundamental para as pessoas também. Quando a gente compra uma máquina ou quando constrói um prédio, o tempo de retorno é três, quatro, cinco, seis, sete anos. Quando a gente trabalha com inovação, cada real investido retorna para o bolso em seis meses, desde que me ocupe bem daquilo, porque também pode ser um dinheiro jogado no ralo se fizer produtos que não saem, que não vendem. Uma inovação bem-feita o retorno vem com seis meses. Quando a gente trabalha com educação, o retorno é 30 dias. O mais importante de tudo: aquele funcionário vai para outro nível. Ele vai crescer também e no fim é isso que queremos, que tenhamos uma sociedade que a gente tenha colaboradores que cresçam. Para nós, o ensino é o coração. Hoje o coração do Biopark é o ensino.

 

OP: Hoje o Biopark é um canteiro de obras que impressiona qualquer pessoa que o visita. No entanto, quando o senhor comprou estes cinco milhões de metros quadrados de terra agricultável, era uma área cercada por chiqueiros, aviários, plantações. Como o senhor escolheu este local?

LD: Um investimento dessa magnitude tem que estar em um local alto, não pode estar em uma baixada, em um banhado. Tem que ter água próximo, não pode ter muita inclinação. Esse local, não muito longe e nem muito perto de Toledo, tinha todas as características. Eu não vejo outro local que tivesse esse potencial.

 

OP: Além das universidades, o que já está funcionando exatamente hoje no Biopark?

LD: Estão funcionando as universidades: a Federal com o curso de Medicina, a Universidade Tecnológica com o curso de pós-graduação em Biociência e Biotecnologia, o Instituto Federal do Paraná com o curso Técnico em Informática e a nossa universidade com Farmácia, com Informática e Administração. Então, esse é o ensino. Temos vários laboratórios em funcionamento. Temos um laboratório de queijos, que é um projeto para a região e eu estou bancando sozinho, em que estamos desenvolvendo queijos finos e levando esses queijos para as propriedades. As propriedades começam a produzi-los e não estão gastando nada com isso, pois nós doamos a tecnologia. Isso, é claro, traz marketing para o Biopark e para nós é um prazer ver as propriedades com outra possibilidade. Hoje o leite é vendido ao redor de R$ 1,50, R$ 1,40, e quando transforma em queijo é R$ 5 o litro. Muda o valor.

 

OP: O senhor vem de uma área que produz e comercializa medicamento. De repente, se deparou com um projeto completamente diferente e passou a vender uma ideia para as pessoas. Como foi essa adaptação para um novo negócio desta magnitude?

LD: Eu vejo os amigos se aposentando, alguns estão aposentando bem, estão desacelerando a vida, fazendo outras coisas que gostam e agora querem um pouco de folga na vida, é um modelo fantástico. Esse modelo para mim não serve, não traz sentido. Eu não consigo me ver parado. O que eu já tenho visto com os amigos que estão se aposentando é que eles estão morrendo, não têm mais a atividade que tinham, não têm mais a influência que tinham. Eles não se dão conta disso, se dão conta a hora que as portas começam a fechar. Eu me reinventei. Eu passei a tentar entender, estudar e compreender domínios que eu não tinha. Eu não tinha domínio nenhum da informática, eu não entendo de informática, mas entendo o macro. Não tenho dúvida que os anos mais produtivos da minha vida foram os últimos três ou quatro, onde eu realmente aprendi muito. Acho que cada um tem que repensar como se reinventar, como fazer outras coisas para que a vida continue plena. Eu estou acelerando e estou com muita pressa de tudo. Eu vejo que lá na frente tenho uma parede, tenho a estação final, e tenho muita coisa para fazer ainda. O pessoal que vem investir no Biopark pede duas coisas: quando faremos a infraestrutura deste local onde estamos, que será entregue em 31 de dezembro do ano que vem, estamos acelerando; e a sucessão no Biopark. As pessoas que estão investindo aqui querem saber onde estão colocando o dinheiro. As pessoas vêm ao Biopark porque estão vendo futuro aqui, porque estão vendo que vai continuar. Eu tenho o Eder (Fernando Maffisso, diretor-presidente da Prati), que toca aqui como um dos dedos, seguramente, mas estou criando o Paulo Victor (Almeida) e o meu filho, o Victor. Até porque hoje o Biopark é do Vitor e da Sara. É dos filhos hoje. Eu sou funcionário aqui dentro.

 

Luiz Donaduzzi, presidente do Biopark: “Devemos achar esse equilíbrio entre as pessoas ficarem doentes e a atividade não ficar tão doente. A atividade econômica está doente, foi impactada e precisamos achar esse equilíbrio” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

OP: O senhor começou este projeto com uma idade em que provavelmente não vai usufruir de todos os resultados que o Biopark vai produzir. O que é mais importante: a experiência que adquiriu ao longo do tempo para ser aplicada aqui ou de repente a idade pode encurtar um pouco, essa pressa que o senhor falou pode encurtar alguns projetos?

LD: Não é a minha idade que dá o ritmo dos projetos. Sempre trabalho da seguinte forma: eu faço uma tarefa e aquela tarefa é um sucesso. Estou sempre testando o limite de onde nós podemos utilizar os recursos, porque os recursos são finitos. Então, eu aproveito hoje, o presente. Vejo o meu pessoal aqui se desenvolvendo, crescendo, mas estou deixando tudo pronto para amanhã. Tenho 100 páginas de projetos e podem tocá-los como achar melhor.

 

OP: O Biopark está na fase de trazer empresas e vender terrenos. Ele já é um empreendimento autossustentável?

LD: Não. Já introduzi R$ 140 milhões da Prati aqui e vai requerer muito mais dinheiro. Eu não sei se é sustentável ou não, no longo prazo eu sei que é. Eu estou olhando o longo prazo e eu sei que é, porque nós temos uma imobiliária. Essa área é o combustível para o Biopark andar e eu tenho combustível aqui para 50 anos. Só que quando as pessoas fazem um loteamento, o loteamento é o fim. Eu faço o loteamento, vendo o lote e paro de ter lucro para usufruir daquilo. Aqui, toda a área imobiliária é jogada dentro do Biopark e nós não tiramos um real daqui. Nós temos que construir esse prédio, temos que vender terrenos. As empresas são caras para trazer. Trabalhamos três anos com os canadenses e mais um ano com os europeus e não veio nenhuma empresa do Canadá. É um trabalho intenso, onde foi gasto muito com consultoria, com viagens e deu em nada. Em compensação, temos outras ações que têm feito com que as empresas venham. Quem não coloca a mão na massa não vem para o Biopark, nós não queremos isso. Se você vem para tirar foto e fazer oba oba, esqueça, porque não é o lugar. É um local que vem para trabalhar. As pessoas que vêm para cá se comprometem. Nós queremos gente comprometida aqui dentro. Ninguém coloca R$ 140 milhões em um projeto, vendo retorno lá na frente, se você não estiver profundamente comprometido e as pessoas que vêm para cá têm essa função: são pessoas comprometidas conosco.

 

OP: O Biopark está bem desenhado. Tem a fatia da educação, a fatia da saúde, a parte tecnológica, a implantação de empresas, a parte residencial. Quais são as metas que o senhor estabeleceu em cada uma das suas partes para atingir os seus objetivos?

LD: As metas vão variando em função do tempo e estamos ainda em fase de implantação do Biopark. Queríamos ter três universidades e hoje temos quatro. A meta é de 30 anos para ter o Biopark consolidado. Acredito que em 20 vamos ter muita coisa e em dez teremos muita coisa. Nós estamos agora avançando o shopping center, pois há gente interessada em construir. O Ibis vem para cá, a Prati-Donaduzzi está investindo R$ 30 milhões aqui no Centro de Distribuição. Temos uma meta que olhamos no geral e vai ao mesmo tempo picando, fazendo pedaços dessa meta e avançando no dia a dia, no ano a ano. Dentro de tudo, claro, você tem que orquestrar de maneira que as coisas funcionem se encaixando. Eu trago empresas para cá, mas se eu não tiver infraestrutura não tem como. Daqui a pouco o pessoal vai querer morar e alguém vai ter que construir. Se eu construir e se não alugar, como que fica? Ninguém vai construir no meio da soja e depois não alugar. Daqui uns dias lançaremos um programa em que vamos garantir até mil apartamentos construídos dentro de um certo prazo e vamos garantir aluguel daqueles apartamentos que não estão alugados. Eu tenho certeza que na hora em que entregarem os mil apartamentos vamos precisar de cinco mil, porque as empresas estão vindo em uma velocidade muito grande.

 

OP: Qual é o público-alvo e onde estão as empresas que o senhor está procurando para que se instalem no Biopark?

LD: As empresas que estou procurando para se instalar no Biopark estão no globo todo. Claro que estou procurando mais perto de casa, mas isso não impede de procurar no Japão, na China, na Coreia, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa. Tudo tem um tempo. Hoje para trazer uma empresa europeia para cá o Biopark precisa ter um tamanho maior, porque do contrário eles não acreditam muito no projeto. Mas a empresa que está aqui perto vem. Ela se dá conta que é um local adequado para crescer, porque tem o grande acesso à informação, ao conhecimento. Outra coisa que não tínhamos dado conta é que hoje temos os alunos aqui. A nossa universidade trabalha. Nas salas de aula temos seis pessoas em cada mesa, metodologia 100% ativa, e só trabalham em cima de projeto. Quando a empresa vem para cá, às vezes não tem uma marca, um logotipo e tem que ser desenvolvido, não tem um site bacana. Os alunos vão desenvolver um site. Quer um site sofisticado? Nós vamos ter uma agência aqui dentro que faz isso, mas o site básico o pessoal vai desenvolver. Eles estão aprendendo, não vai custar nada para a empresa. Esses benefícios mútuos é o que estão atraindo as empresas para cá.

 

OP: O ano de 2020 certamente vai ficar na história diante da Covid-19. Isso chegou a lhe assustar, chegou a afetar os seus negócios?

LD: A Prati nasceu no Recife, na época do Collor, aquela bomba de nêutrons que explodiu na nossa cabeça. Ninguém sabia o que fazer. Tinham confiscado a poupança, não havia dinheiro e a gente começou na mesa da cozinha fazendo pequenos medicamentos. Todas as crises que houve passamos muito bem por elas e saímos sempre fortalecidos. A Covid está trazendo um sofrimento, é uma tragédia para toda a população, ninguém está escapando desta pandemia. Nós trabalhamos muito com inovação desde o início. Nós temos 40 anos de experiência em inovação, gostamos muito disso, então toda vez que acontece alguma coisa desse tipo nós nos reinventamos e saímos melhor na outra ponta. O que eu posso dizer é que a Covid vai passar e nós temos que achar um equilíbrio entre minimizar o número de óbitos, estou dizendo da sociedade em geral, o máximo possível. Não se admite perder uma vida, porque as pessoas não estão morrendo só de Covid, estão morrendo de outras doenças também. Nós temos que minimizar isso e temos que manter a atividade econômica andando de uma forma segura. A Prati não pode parar. Se a Prati para é um desastre, porque nós tratamos hoje 25 milhões de pessoas. Nós teríamos problemas sérios de desabastecimento de muitos remédios. Então, a Prati não pode parar, mas tem que ser responsável por todo o cuidado com os seus 4,5 mil colaboradores para que eles não contraiam a doença, para que estejam sadios e é isso que cada empresa tem que fazer. Fazemos a mesma coisa aqui no Biopark. O Biopark continua com as atividades, mas as pessoas estão protegidas, estão em casa, trabalhando a distância. É dessa forma que vejo que devemos achar esse equilíbrio entre as pessoas ficarem doentes e a atividade não ficar tão doente. A atividade econômica está doente, foi impactada e precisamos achar esse equilíbrio.

 

Jornalista Arno Kunzler por ocasião da entrevista com o presidente do Parque Científico e Tecnológico de Biociências (Biopark), em Toledo (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

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