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Monitoramento de sedimentos ajuda a prever a longevidade do reservatório de Itaipu

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(Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional)

A água, matéria-prima para a produção de energia pela usina hidrelétrica de Itaipu, esteve escassa no último ano. Desde 2001, quando começou o monitoramento dos rios nos moldes atuais, a vazão dos rios da região não era tão baixa. O Rio Iguatemi, por exemplo, cuja vazão média anual na seção de medição de sedimentos é de aproximadamente 200 m³/s, registrou meros 89 m³/s em 2020. Mas essa estiagem severa, que, a princípio, poderia parecer um problema para a usina, acabou tendo também seu lado positivo.

“Eventos extremos, como cheia e estiagem, são importantes para que possamos ter dados mais precisos para nossos estudos sobre o comportamento dos rios e dos sedimentos que a água leva para dentro do reservatório, especificamente, as areias, os siltes e as argilas”, explica o engenheiro civil e mestre em Sedimentologia Anderson Braga Mendes, da Divisão de Reservatório (MARR.CD) da Itaipu. O trabalho é fundamental para a avaliação da segurança hídrica do reservatório.

A Itaipu faz medições em 15 estações, em seções diferentes do rio Paraná e de alguns de seus afluentes. Além dos dados coletados por aparelhos e por parceiros locais, cada estação é visitada em média seis vezes ao ano pela equipe responsável pelo monitoramento de sedimentos da usina, para estudos mais detalhados. É um processo trabalhoso, porém essencial.

Os dados coletados são utilizados para a elaboração de gráficos que correlacionam as vazões de cada rio com o transporte de sedimentos. Também permitem fazer estimativas mais precisas do carreamento dos sedimentos nos instantes que a equipe não está em campo medindo, reduzindo drasticamente os custos envolvidos. Dados coletados durante cheias e estiagens são preciosos porque mostram como os sedimentos se comportam em situações hidráulicas extremas e de difícil ocorrência, logo, de rara observação.

Segundo Anderson, “durante os meses de cheia os rios transportam grandes volumes de sedimentos, podendo chegar a até 90% de todo o volume do ano, dependendo do rio em questão. Já na estiagem, esse transporte cai muito, porém esse período também precisa ser investigado, por responder por várias semanas do ano. É importante termos esses dois extremos na curva de transporte de sedimentos para podermos fazer estimativas mais precisas e chegar a dados mais corretos, sem precisar apelar para extrapolações matemáticas”.

 

MUITOS ANOS DE VIDA

Ao longo dos anos, os sedimentos levados pela água vão se depositando no fundo do reservatório, reduzindo sua capacidade de armazenamento e, consequentemente, a vida útil operacional da usina. Por isso, a Itaipu conta com uma equipe especializada para estudar essa questão e acompanhar os montantes anuais de sedimentos que chegam ao reservatório, bem como sua evolução ao longo do tempo.

“O último cálculo que fizemos apontou uma vida útil de 189 anos para o reservatório desde o momento em que foi formado, em 1982. Isso nos coloca numa posição excelente, pois atualmente usinas de grande porte mostram-se economicamente viáveis se possuírem vida útil entre 50 e 100 anos”, afirmou Anderson Mendes.

Mas as perdas são constantes. Um estudo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que o processo de assoreamento na hidrelétrica de Três Irmãos, em São Paulo, foi responsável pela redução de 377 Megawatt-hora (MWh) na média mensal na geração de energia entre 1993 a 2008.

Por isso, qualquer alteração significativa nos dados recolhidos durante o monitoramento é analisada. Sabendo-se que à montante de Itaipu existem mais de 150 outros barramentos, tanto para geração hidrelétrica quanto para abastecimento humano, tem-se dado especial atenção a qualquer indício no monitoramento atual que possibilite projetar o fim da vida útil dos empreendimentos de montante, o que poderá implicar na redução da vida útil calculada para Itaipu.

A estimativa atual já contempla esse fenômeno de uma forma simplificada, porém apenas com estudos mais detalhados aliados ao monitoramento realizado é que será possível precisar o real impacto futuro do fim operacional dos barramentos de montante, os quais colaboram, hoje, para Itaipu exibir uma vida útil tão favorável.

 

MITIGAÇÃO

De modo a diminuir os reflexos do processo de assoreamento sobre a vida útil do reservatório, a Diretoria de Coordenação da empresa desenvolve uma série de medidas, tais como ações destinadas à correta utilização do solo, a correção de estradas vicinais, manutenção e recuperação de vegetações ciliares e projetos de saneamento rural.

“Destinamos, ainda, especial atenção à proteção vegetal das margens do lago, caracterizada pela faixa da Mata Atlântica já recuperada, classificada como Área de Proteção Permanente”, lembra o diretor de Coordenação, general Luiz Felipe Carbonell. “Essa faixa de mais de 1.300 km, totalmente recuperada pela Itaipu, requer controle permanente para evitar seu uso indevido e ações que possam diminuir sua ação de contenção de sedimentos e de erosão, comprometendo a vida útil do nosso lago”, completou.

 

AREIA , SILTE E ARGILA

Os sedimentos estudados pela equipe são os inorgânicos: areia, silte e argila. Eles compõem o solo e se diferenciam basicamente pelo seu tamanho. A argila é a mais fina, com até 0,004mm de diâmetro por grão. O silte tem de 0,004 a 0,063 mm de diâmetro. Os grãos de areia exibem diâmetros de 0,063 a 2,00 mm. Acima desse diâmetro encontram-se os cascalhos, os quais são de muito baixa ocorrência no aporte de sedimentos à Itaipu.

 

ALÉM DO MONITORAMENTO

O monitoramento de sedimentos é uma atividade permanente, utiliza as melhores técnicas e tecnologias e reflete a qualidade ambiental de toda a bacia de contribuição. Segundo Irineu Motter, da Divisão de Reservatório, “visando sempre melhorar estes índices, a Itaipu, através da Diretoria de Coordenação, apoia ações que contribuem diretamente na qualidade da água e minimizam o aporte de sedimentos que chegam ao reservatório, principalmente as ações relacionadas à gestão de bacias hidrográficas”, finalizou.

 

Com assessoria/Rádio Cultura Foz

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