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Municípios Setembro amarelo

Número de óbitos por suicídio chama atenção na região

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Em visita ao O Presente, os presidente dos Rotarys rondonense Aline Marki (25 de Julho), Leide Meinerz (Marechal Rondon), Martinho Raupp (Beira Lago) e Justina Metzner (Tina) (Beira Lago) e a psicóloga Dioneia Hofmeister (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

Mês dedicado à prevenção ao suicídio, setembro representa uma união de forças em prol da saúde mental de todos. O tema já foi considerado tabu, mas tem gerado novas discussões a cada ano, principalmente quando vidas são ceifadas pelo autocídio. Apesar da abertura para conversas sobre o assunto, os registros de morte por suicídio ainda não são animadores.

Nos últimos seis anos, a 20ª Regional de Saúde acumulou 321 óbitos por suicídio. Trinta e sete casos de autocídio foram registrados somente nos primeiros sete meses de 2021, número superior ao total de registros em 2016 e 2017. Entre os municípios que compõem a regional, Toledo é o com maior número de casos desde 2015 (114), seguido por Marechal Cândido Rondon (51) e Guaíra (29).

Em 2021, somente seis municípios dentre os 18 da 20ª Regional não registraram casos de suicídio, sendo Tupãssi, São Pedro do Iguaçu, Quatro Pontes, Mercedes, Entre Rios do Oeste e Assis Chateaubriand.

 

Amparo

Tendo em vista os números preocupantes e a necessidade de tratar do assunto, os clubes de Rotary de Marechal Rondon promoveram um bate-papo sobre o tema, guiado pela psicóloga Dioneia Roza Hofmeister. “A primeira coisa que precisamos fazer para desmistificar a saúde mental e o suicídio é conversar a respeito, pois assim percebemos indícios e auxiliamos as pessoas”, declarou ao O Presente a presidente do Rotary Club Marechal Rondon, Leide Meinerz.

Conforme a presidente do Rotary Club Guarani, Justina Metzner (Tina), por muito tempo a saúde mental foi vista como “bobagem” e ainda hoje existe receio para tratar do assunto. “É importante que as pessoas se sintam amparadas e encorajadas a se abrir”, afirma.

O presidente do Rotary Club Beira Lago, Martinho Raupp, endossa as palavras de Tina, acrescentando que esse “pé atrás” na hora de procurar ajuda se materializa na vergonha de procurar ajuda profissional, seja psicólogo ou psiquiatra.

No outro extremo da receptividade promovida pelos profissionais da saúde mental, a presidente do Rotary Club 25 de Julho, Aline Marki, ressalta para a máxima de “chamar atenção”. Segundo ela, infelizmente muitos ainda encaram tentativas de suicídio ou problemas mentais como supostos meios para a pessoa se colocar em evidência.

 

Vínculos rompidos

A abertura daqueles que estão por fora, seja amigos, família, escola e outros conviventes, é essencial para prevenir suicídios e incentivar a busca pela saúde mental, destaca a psicóloga. “A falta ou o distanciamento de vínculos é um agravante e a identificação do problema acontece quando alguém muda o comportamento drástica ou sutilmente, se afasta das pessoas, fica reclusa e, por vezes, apresenta distúrbios alimentares”, expõe, emendando ser comum a presença de outras doenças associadas: “Bipolaridade, esquizofrenia, depressão e outros agravantes, como uso de drogas”.

 

Melhor ouvir do que falar

Estar atento a esses comportamentos auxilia a prevenir o suicídio e quando a abordagem acontece é preciso ter em mente que, para aquele que quer ajudar, “ouvir é melhor do que falar”, enfatiza Dioneia. “Às vezes eu posso falar algo que ofenda ou machuque, porque enquanto nós temos a vida funcionando de um jeito, a pessoa não está nesse ritmo. Elas estão se desconectando do mundo aos poucos, não têm vontade de trabalhar, conversar e se sentem fracassando”, compara.

A audição, porém, precisa ser uma ação ativa para que surta efeitos, indica a psicóloga. “É comum querer sair do assunto, enquanto na verdade a pessoa só se sente acolhida se o ouvinte estiver atento”, pontua.

O alerta precisa ser acionado, segundo a profissional, diante de comentários como “não vale a pena viver”, “nada do que eu faço dá certo”, “tudo dá errado” e outras lamentações. “É preciso estar ali por inteiro e ouvir de verdade”, expõe Aline.

 

Homens são as principais vítimas

Dioneia diz que as tentativas são mais comuns entre as mulheres, contudo, são os homens que têm “mais êxito” no suicídio.

Nos últimos seis anos, 79% dos registros de óbitos por suicídio na 20ª Regional pertencem ao público masculino. Em Toledo, 84% dos suicídios foram registrados entre homens e 16% entre mulheres. Já em Marechal Rondon, os registros de autocídio tiveram 75% de ocorrência em homens e 25% em mulheres.

 

Atenção às tentativas

Quando um jovem é vitimado pelo autocídio, a sociedade entra em comoção. Mas a psicóloga relata que, geralmente, os mais jovens acumulam um alto índice de tentativas antes de que o suicídio aconteça de fato, ao contrário dos idosos. “O problema também é visto entre idosos, sendo geralmente de maior letalidade, com o uso de armas de fogo. Os jovens fazem por ingestão de medicamentos e há possibilidade do socorro”, frisa.

Os municípios que mais acumulam casos de violência autoprovocada na 20ª Regional de Saúde são Toledo (924), Marechal Rondon (270), Assis Chateaubriand (229) e Palotina (129), com um total de 2.049 registros de 2015 a julho de 2021.

O maior índice de tentativas de suicídio foi por parte de mulheres, com 1.449 contra 600 casos de violência autoprovocada em homens. O grupo entre 20 e 29 anos de idade é o com maior registro de tentativas na 20ª Regional nos últimos seis anos (556), seguido pela faixa etária dos 15 aos 19 anos (429).

 

Extremos da vida

Na 20ª Regional de Saúde, o total de 321 casos de suicídio tem mais casos na faixa etária dos 20 aos 29 anos (57), seguido por pessoas entre 30 e 49 anos (106) e dos 50 aos 59 anos (46).

“As possíveis motivações são subjetivas, pois varia de acordo com o que cada um vive. Considerando a faixa de idade do entremeio, dos 30 aos 59 anos, pode ter relação com trabalho, casamento, envelhecimento, filhos que não estão mais em casa e até questões financeiras, agravadas pela pandemia”, supõe a psicóloga, ressaltando que, apesar dos esforços para desmistificar o tema, ainda há casos que a família não quer “suicídio” como causa da morte, mesmo que tenha sido.

 

Dor emocional

Dioneia diz que há casos em que a pessoa realiza tentativas de ressocialização, não se afasta do convívio e não tem doenças aliadas, mas que ainda assim o suicídio acontece. “Há o convívio e uma procura pela manutenção da vida, mas a pessoa acaba não se sentindo parte daqueles grupos que outrora lhe confortavam. Ela entra em um nada, num vazio arriscado. A dor é dilacerante e o emocional está esgotado. Só quem vive isso entende. Não há palavras e quando não há palavras se faz algo impensado. As pessoas cometem suicídio e vão a óbito porque querem acabar com aquela dor. É estranho imaginar, mas aquilo também alimenta a vida da pessoa, viver naquele mal-estar. É uma conexão, torna-se um mantenedor da vida, é algo normal que, no ápice da dor, chega nos extremos”, salienta.

A profissional reconhece que não há formas de saber o que se passa na mente do outro, todavia, sugere que as pessoas se portem de forma humanizada diante dessas questões. “Precisamos aprender a respeitar a dor do outro”, enfatiza Raupp.

 

Convívio

Tina avalia que a espiritualidade pode ser uma aliada nesse enfrentamento. “Muitas vezes na fé se encontra o suporte que precisamos”, enaltece.

Para Leide, é necessário trazer a família para perto. “O apoio familiar é muito importante. Hoje em dia, principalmente em relação a adolescentes, há uma quebra do vínculo familiar: cada um correndo para uma direção, sempre trabalhando, sem interação. Se você não controla o filho em relação a tecnologias, por exemplo, você o perde. As mídias são favoráveis em alguns aspectos, mas você precisa acompanhar”, opina.

 

Como buscar ajuda?

Dioneia informa que o Centro de Valorização à Vida (CVV) é uma maneira de prevenir tentativas ou atos compulsivos que venham a tirar a própria vida. Por meio do telefone 188, as pessoas podem ligar 24 horas por dia para conversar, se abrir e transparecer o que está acontecendo. “Quando não há alguém para conversar, a mente fica bastante confusa e a pessoa age por impulso para eliminar aquela dor emocional”, comenta.

Para quem tem tendências suicidas, enfatiza a psicóloga, não as reconhece e tampouco busca ajuda, o CVV faz a diferença em momentos críticos. “Essas pessoas têm muita dificuldade em aderir ao tratamento. Por isso é interessante dispor desse número (188) para conversar com alguém treinado para ouvir, já que, às vezes, o encontro presencial causa ansiedade”, pontua.

 

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