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Municípios Cesta de três pontos

Projeto desenvolvido em Mercedes vira exemplo de cidadania e ganha repercussão nacional

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

A ideia de deixar uma bola de basquete em plena praça pública, 24 horas, para uso comum da população, pode soar um tanto quanto ingênua para algumas pessoas.

Muitos diriam que não daria certo e sugeririam que ela seria furtada no primeiro dia, no entanto, um projeto na cidade de Mercedes está mostrando justamente o contrário.

No município de pouco mais de seis mil habitantes, quem quiser jogar basquete e não tiver bola, basta ir até a Praça Willy Barth, localizada em frente à prefeitura, e praticar o esporte.

No local foi construída uma quadra de streetball, ou basquete de rua (uma variação do esporte), e na parte de trás da base da tabela foi colocada a bola de basquete com um breve pedido: “por gentileza, ao terminar de jogar, favor guardar a bola no cesto”.

Segundo a prefeita Cleci Loffi, a obra foi finalizada em abril, porém, a divulgação do projeto aconteceu somente na semana passada por conta da estabilização do número de pessoas infectadas pelo coronavírus no município. “A bola só foi trocada porque o clima a prejudicou. Não foi furtada, ninguém levou para devolver depois, nada disso ocorreu”, enaltece.

A prefeita conta que a intenção de construir algo no local onde foi instalada a quadra de basquete já estava em discussão há algum tempo, pois o espaço, destinado aos skatistas, era pouco usado. “Além de querer estimular o basquete no nosso município, é também ter mais um ponto para as pessoas desenvolverem atividades esportivas”, ressalta Cleci.

Ela diz que a ideia da bola compartilhada partiu do secretário de Esportes, Lazer e Turismo, Edson Vilar Santos, e foi uma espécie de desafio. “Eu pensei, por que não? No máximo perderíamos a bola. Mas na verdade nós ganhamos foi uma aula de cidadania”, ressalta Cleci.

Responsável pelo projeto, o secretário de Esportes comenta que a ideia da bola de uso coletivo surgiu após atender o pedido de um grupo de atletas para a construção de uma quadra em um local aberto para a prática do esporte. Contudo, após edificar a quadra e instalar a tabela, surgiu um problema. “São poucas as pessoas que têm uma bola de basquete. Então, pensamos: não basta apenas a implantação da tabela, precisamos disponibilizar também o material esportivo”, relata.

 

REPERCUSSÃO

O projeto apresentou resultados positivos e superou todas as expectativas. De acordo com a prefeita, a publicação feita por ela na semana passada em uma rede social atingiu mais de mil compartilhamentos em poucos dias, inclusive pela Confederação Brasileira de Basketball (CBB). “O bacana é que isso se espalhou pelo Brasil todo. Já participamos de lives, podcasts, revistas nos ligaram para falarmos a respeito. A gente nunca imaginou que teria essa repercussão tão grande”, destaca.

Cleci menciona que em alguns comentários feitos em sua publicação as pessoas dizem que algo semelhante em determinado município não teria condições de acontecer. “Dizia: aqui na minha cidade já teriam levado até a tabela, mas a gente não pode pensar assim”.

Conforme ela, o vandalismo existe na maioria das cidades, inclusive em Mercedes, no entanto, a imensa maioria das pessoas é honesta e é preciso acreditar nelas. “Temos que criar esse tipo de projeto pensando nas pessoas boas, proporcionar isso para as pessoas de bem”, enfatiza.

Para Santos, o projeto foi além do objetivo principal, que era oferecer um local para a prática do esporte. “Fomos surpreendidos positivamente com a utilização do espaço e muito mais na repercussão que essa ação de cidadania causou”, frisa.

 

CUSTO

Para a construção da quadra, compra e instalação da tabela de basquete o município investiu R$ 8 mil. Segundo a prefeita, um investimento pequeno se comparado aos benefícios que a atividade física proporciona à saúde e ao bem-estar da população. “Quanto mais pudermos incentivar e acreditar na prática esportiva das pessoas, melhor. Vale muito a pena investir em projetos como esse”, opina.

Ela compartilha que gestores de outros municípios procuraram a prefeitura com o intuito de obter mais informações a respeito do projeto. “Estão ligando pedindo em relação a custo e como foi a implantação, porque eles estão sendo cobrados nos municípios deles”, revela Cleci.

Para o secretário de Esportes, Lazer e Turismo, todo investimento feito no esporte reflete na economia na área da saúde. “É a atividade física auxiliando na prevenção da saúde das pessoas. Acreditamos que esse é o melhor caminho”, salienta.

 

PARA OUTRAS MODALIDADES

Após o resultado satisfatório do projeto e a repercussão positiva causados por ele, a prefeitura estuda expandir a ideia para outros esportes. “Não é dificuldade nenhuma para o município de Mercedes poder disponibilizar materiais esportivos para outras modalidades como voleibol, futebol e handebol de areia”, expõe Santos.

Desde que, segundo ele, tenha a participação e o comprometimento da comunidade no cuidado e zelo pelos equipamentos esportivos. “Se o nosso objetivo é a prática esportiva enquanto melhoria da qualidade de vida, é importante essas ações que venham ao encontro da atividade física”, evidencia.

 

USO DO ESPAÇO

Aluno do 2º ano do Ensino Médio, Dirceu José Winkelmann, de 16 anos, estuda no Colégio Estadual Leonilda Papen, que fica em frente à praça onde foi instalada a tabela de basquete. Ele é um dos integrantes do grupo que fez o pedido para a construção do espaço.

O estudante conta que o grupo possui uma bola, mas aprovou a ideia de ter uma bola à disposição para outras pessoas. “Tem gente que até gosta do esporte, mas não pode praticar porque não tem bola”, comenta.

De acordo com ele, essa pode ser uma oportunidade para crianças terem contato com o esporte. “Eu sempre tive que esperar minhas aulas de Educação Física na escola por não ter uma cesta de basquete na cidade e nem bola”, lembra.

E ao que parece a iniciativa deu mesmo certo, pois está inspirando futuros atletas e servindo de exemplo de cidadania, uma verdadeira cesta de três pontos.

Prova disso é o pequeno Samuel Gmack, de nove anos, que já sabe muito bem o que deve fazer quando terminar de usar a bola. “Eu guardo para outra pessoa jogar”, diz o garoto.

 

 

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