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Padre Marcelo Ribeiro da Silva

Oi, quem é você?

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Estimados leitores e leitoras, tenho a alegria de me encontrar com vocês no horizonte da palavra e pelo seu sentido, para abrir caminhos de intepretação do nosso cotidiano e do nosso futuro. Sou um padre católico, dedicado à formação humana e cristã de adolescentes e jovens, chamado pela Igreja a cuidar do Seminário São Cura D’Ars, missão à qual me dedico há oito anos completos.

No meio da minha história recente decidi por me dedicar ao estudo acadêmico da Filosofia, hoje curso doutorado em Filosofia na Unioeste de Toledo e dou aulas no Instituto de Filosofia e Teologia São João Paulo II, em Cascavel. Essas credenciais dizem apenas o que eu faço, mas, na realidade, importam muito pouco em comparação com o que me levou a considerar aceitar esse encontro com vocês, que se motiva na dimensão de quem eu sou e na confiança que tenho no cuidado humano e espiritual das pessoas.

 Meu primeiro assunto com vocês vem da pergunta: quem é o você? Como eu fiz, acho que você começará pensando a respeito das funções que realiza na família e na sociedade. Elas indicam o que o você alcançou no mundo, falam de sua utilidade para as pessoas que lhe rodeiam, apontam para o papel social que você acredita ser seu valor para os outros. Bem, sem desconsiderar a crua realidade da representação social e familiar que você carrega nos ombros, tenho que lhe informar que ela pouco diz daquilo que quero chamar a atenção: a sua situação existencial, ou seja, aquilo que vem a ser o motivo que anima seus dias, que estabelece o que vem a ser importante em seu caminho, a condição em que você se encontra para si mesmo, não apenas para os outros.

Que tal, então, fazermos as perguntas certas: quem venho sendo para mim mesmo? Sinto admiração ou vergonha pelo modo como estou vivendo? Tenho espaços de transparência da minha intimidade ou acho-me aprisionado pelos meus trabalhos, minhas obrigações sociais e familiares?

Enfim, em que situação me encontro com respeito ao meu amadurecimento humano, ao meu desenvolvimento como pessoa, chamada a este mundo para apreender a amar a Deus, amar-se e amar ao próximo.

Não quero com isso lhe dar um banho de água fria ou lhe dar motivos para me chamar de antipático; não temos por que começar nossa conversa com o dedo em feridas. Haverá outras pessoas com mais perícia para fazer esse tipo de abordagem, quero apenas trazer à evidência que a vida acontece em vários planos: há o plano exterior, muito ligado àquilo que fazemos e a utilidade que temos para os outros, é o plano da quantidade, que se rege pela regra – faça mais para valer mais; há também o plano da interioridade, do ânimo e dos sentimentos que afetam nossa vida, aquele ânimo que Jesus identificou com o sal e a luz do mundo: “se o sal perder o seu sabor, com que salgaremos? […] ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a num lugar apropriado” (Mt 5, XX), é o plano da qualidade e que se rege pelo princípio do sentido – do valor que descobrimos dentro de nós e com o qual qualificamos nossas atitudes e escolhas; ainda, podemos falar de um âmbito mais profundo, o plano do mistério, daquela força amorosa que intuímos no mais íntimo da nossa consciência – do “tesouro escondido” do amor de Deus em nós, que “quando encontrado, vamos com alegria e vendemos tudo o que temos para comprá-lo” (Mt 13,44), é o plano da vocação.

Se chegamos a nos entender, peço-lhes a liberdade de perguntar-lhes novamente: quem mesmo é você?

E com isso só quero lhe dar oportunidade de se enxergar, de poder trazer à palavra a condição em que você se encontra hoje, em síntese: lhe ajudar a enxergar-se hoje a partir daquilo que vem dominando a sua vida e ver em que medida você tem consciência de sua própria existência.

Marcelo Ribeiro da Silva é padre da Diocese de Toledo
Reitor do Seminário São Cura D’Ars
Doutorando em Filosofia – Unioeste

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