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Paraná Paixão

Curitibano apaixonado por trens investe R$ 13 mil e constrói mini ferrovia no jardim de casa

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André Pettkamer transformou o hobby na realização de um sonho de infância (Foto: Arquivo Pessoal)

O operador de guindaste André Pettkamer, de 36 anos, transformou o hobby na realização de um sonho de infância: uma miniatura de trem no jardim de casa. Conhecido pelos especialistas como ferreomodelismo, essa atividade consiste na construção de modelos de transporte ferroviário em escala reduzida, como trens, bondes e cenários.

Há três anos, André, que mora em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), resolveu investir pesado em seu trem de jardim. Para realizar o sonho ele gastou cerca de R$ 13 mil. A escala do ferreomodelismo dele é a HO, ou seja, a proporção é a de 1:87, que significa que o tamanho é 87 vezes menor que o real.

“Isso aqui não é apenas uma obra, com uns trens passando e um monte de plantas, isso aqui é o meu refúgio. É o meu pedacinho do paraíso na porta de casa”, diz André.

Segundo André, o diferencial do projeto é que o trem roda direto, ao ar livre. Não tem problema com chuva ou sol. “É como se fosse de verdade, às vezes caem folhas ou passam insetos, mas isso é fácil de resolver. A minha coleção de trens é composta por cerca de 40 vagões e sete locomotivas”, diz.

Miniatura de trem no jardim da casa de André Pettkamer — Foto: Arquivo pessoal/André Pettkamer

Miniatura de trem no jardim da casa de André Pettkamer (Foto: Arquivo Pessoal)

A paixão é antiga. André conta que desde pequeno morou perto do trilho do trem, e aos seis anos a professora apresentou o sobrinho dela que mostrou a ele uma coleção de mini trens.

“Foi ali a concretização do meu maior desejo: ter o meu jardim de trem. Entretanto, minha mãe era viúva, não tínhamos condições de comprar nenhuma miniatura, mas não desisti. Fiz um trilho no quintal de casa com o raio da minha bicicleta e os vagões da locomotiva com caixas de talco que eram quadradas, prendia tudo com grampos de roupa e gravetos”, conta André.

André diz que ali ele passava o tempo todo, também colecionava lego, em especial guindastes.

Em 2006, André se casou com Jenifer Padilha, e ela tinha o sonho de ter na casa deles um jardim diferente. E foi a partir desse sonho que André viu a chance de cruzar os dois sonhos e transformar em realidade.

“Minha esposa queria um jardim de novela, com lago, peixinhos, plantas. E pensei em colocar uma verdadeira cidadezinha com um trem elétrico passando no meio do jardim. Cavamos um buraco, colocamos água, fizemos uma compactação, e começamos a construir toda a base dos trilhos. Hoje estimo que tenha umas 17 toneladas de concreto na obra”, explica.

Processo de produção da ferrovia  — Foto: Arquivo pessoal/André Pettkamer

Processo de produção da ferrovia (Foto: Arquivo Pessoal)

O casal realizou a obra na parte da frente da casa, em uma área de 24 metros. Mais tarde, André quebrou a lareira de dentro casa para poder passar o trem. Ele conta que a próxima obra vai ser derrubar a lavanderia para estender ainda mais a área de passagem das locomotivas.

O casal tem dois filhos, o Lucas de sete e Natan de 12 anos, que também gostam de trens.

“Eles acham legal ter um mini trem passando no jardim de casa e até dentro, mas eles não mexem. O material é delicado e muito caro. Apesar de ser pequeno, não é um brinquedo”, explica André.

André saiu da empresa onde trabalhava, ficou nove meses em casa e abandonou as redes sociais. “Eu queria me desligar do mundo e me dedicar a um projeto pessoal. Só voltei à ativa mesmo depois de fazer o trem rodar na chuva e no sol. Tentei muito e comecei a divulgar. As pessoas falavam que não podia ser verdade”, relata.

“As locomotivas possuem motor e captam a energia dos próprios trilhos. A sensação é de pilotar um pequeno trem, acelerando nas rampas e reduzindo nas descidas. Já veio gente de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, interior de São Paulo e Santa Catarina visitar o nosso jardim”, conta.

 

O ferreomodelismo

De acordo com Alexandre Fressatto Ramos da Associação Paranaense de Ferreomodelismo e Memória Ferroviária (Apfmf), não se sabe ao certo de onde surgiu a ideia de miniaturizar os trens, mas isso ocorreu quando o mundo adotou massivamente o transporte ferroviário.

“O ferreomodelismo vai muito além de um hobby, é um trabalho de pesquisa, de preservação histórica, documental e de acervo iconográfico, plantas, fotografias, peças que a ferrovia utilizou no passado. Ferreomodelismo ajuda a memória de toda uma civilização”, explica.

Considerado um dos hobbies mais antigos do mundo, as primeiras miniaturas de trens foram fabricadas por volta do ano de 1830, por artesãos da Alemanha. No Brasil, onde a ferrovia impulsionou o surgimento de inúmeras cidades, o ferreomodelismo contribuiu para a manutenção da memória, segundo Ramos.

O hobby começou por volta dos anos 40, com material importado americano e alemão, em escalas maiores.

“Na época, os mini trens eram vistos como brinquedos, e eram muito caros, pouco acessíveis. Nos anos 50 começou a industrialização no país. Hoje, tem cerca 5 mil modelistas no Brasil”, conta.

Curitibano apaixonado por trens investe R$ 13 mil e constrói mini ferrovia no jardim — Foto: Arquivo pessoal/André Pettkamer

Curitibano apaixonado por trens investe R$ 13 mil e constrói mini ferrovia no jardim (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo Ramos, a associação estima que no Paraná tenha de 350 a 400 modelistas.

“Normalmente os admiradores de trens começam com a caixa básica, com trilhos e alguns materiais. Pegam gosto pelo hobby e passam a entender também da história das ferrovias. Eu, por exemplo, modelo as ferrovias do Paraná entre os anos 60 e 70”, comenta.

Ramos afirma que, com o tempo, o colecionador acaba se tornando mais específico, pega um recorte de tempo e se dedica a isso.

“Alguns fazem apenas sobre modelismo militar, outros fazem de tanques alemães da Segunda Guerra Mundial, aviações americanas do Vietnã, entre outros. É uma infinidade de modelos, que demandam tempo, espaço e dinheiro”, diz.

Associação estima que no Paraná tenha de 350 a 400 modelistas — Foto: Arquivo pessoal/André Pettkamer

Associação estima que no Paraná tenha de 350 a 400 modelistas (Foto: Arquivo Pessoal)

Na rodoferroviária de Curitiba, no Jardim Botânico, há um exemplo de ferreomodelismo, em homenagem as ferrovias do Paraná.

“Fazemos esse trabalho para que seja eternizada a memória, a cultura do saber e do fazer, tanto da ferroviária paranaense quanto do modelismo em si, que é representação daquilo que infelizmente não pode ser preservado para sempre”, explica Ramos.

 

Com G1 PR 

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