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Paraná TRANSFORMA A VIDA

No Paraná, mais de 60% das detentas participam de atividades educacionais e de trabalho

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O objetivo é qualificar e dar oportunidades para que possam transformar suas vidas e retornarem à sociedade com mais capacidade para o trabalho (Foto: Divulgação)

Das 606 mulheres que cumprem pena nas duas penitenciárias femininas do Paraná, 366 participam de atividades educacionais ou estão inseridas em canteiras de trabalho. Isso significa 60,3% do total. O objetivo é qualificar e dar oportunidades para que possam transformar suas vidas e retornarem à sociedade com mais capacidade para o trabalho.

Na Penitenciária Feminina do Paraná (PFP), em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, das 390 presas, 150 participam de alguma atividade de educação ou de trabalho. De acordo com a diretora da PFP, Cinthia Mattar Bernardelli Dias, hoje existem 18 canteiros de trabalho na unidade, sendo dois deles de empresas parceiras. Já na unidade de Foz, segundo o diretor do complexo, Cassio Rodrigo Pompeu, todas as 216 mulheres que cumprem pena no local estão envolvidas em atividades de estudo ou trabalho.

 

Acima da média

No total, nas 31 unidades prisionais do Estado do Paraná, 30% dos presos trabalham e 42% estão envolvidos em atividades educacionais. No Brasil, o índice é de 15% que estudam e 12% trabalham. Os dados são do último levantamento feito pelo Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (Infopen).

“O Trabalho e o estudo contribuem para o processo de ressocialização, diminuem o tempo de encarceramento e, também, ajudam a tornar a pessoa melhor, com perspectiva de vida diferente ao sair do cárcere, já que tem qualificação profissional e uma fonte de renda”, afirma o secretário de Administração Penitenciária do Paraná, Élio de Oliveira Manoel. Segundo o ele, a Lei de Execução Penal garante o direito de instrução escolar e formação profissional aos presos, assim como o trabalho com finalidade educativa e produtiva, dentro e fora das penitenciárias.

 

Remissão

As mulheres detentas têm, a cada mês trabalhado, 7 ou 10 dias de remissão da pena, dependendo da função, e recebem três quartos do salário mínimo. Elas podem atuar nos canteiros de trabalho, receberem qualificação e cursos profissionalizantes, terem acesso à educação com ensino fundamental e médio, preparação para o Enem e suporte para entrar na universidade. Se quiserem, também podem, participar de projetos como a remissão de pena pela leitura e, também, de cursos promovidos por entidades parceiras, como pintura, crochê, fotografia, dança.

 

Experiência

O trabalho mudou a percepção de mundo e as expectativas de Edna, 43 anos. Ela trabalha no canteiro da unidade de Piraquara, onde está instalada uma empresa de automação. Edna é multiplicadora de conhecimento, ou seja, responsável por ensinar outras detentas. Ela foi presa por associação ao tráfico de drogas e já cumpriu 4 anos. No canteiro em que atua é feita a montagem de motores para impressora fiscal. “Uma ensina a outra e nunca tivemos problema com a qualidade do nosso trabalho. Nunca voltou um motor, aqui tudo é feito com muita dedicação”, afirma. “Estou adquirindo uma experiência que vou utilizar lá fora, inclusive, pretendo continuar nessa empresa quando sair. Para nós, que estamos presas, o trabalho é muito importante”, diz.

Edna relata que através do trabalho dentro da unidade, passou a ver o mundo de outra maneira. “Aqui é um bom início, eu amo o que eu faço e somos uma equipe, vestimos a camisa e tralhamos bastante. Por meio do trabalho na unidade, aprendi muito sobre como viver lá fora e lidar com as pessoas”, afirma Edna.

 

Recomeço

Para Valéria, 29 anos, o que parecia ser o fim da vida foi um recomeço. Ela está presa há 7 anos, também na PFP, por tentativa de homicídio. Na penitenciária Valéria tornou-se mecânica de máquina industrial e costureira e começou a cursar a distância a faculdade de Pedagogia. Ela é a única mulher na unidade que cuida do setor de máquinas – antigamente a função era desempenhada por um preso de outra unidade.

“Todo mundo quer ser reconhecido e aqui eu sou única, porque o que eu faço ninguém sabe fazer. O setor de mecânica era dos homens e agora eu cuido de tudo. Ganho por isso e retomei o estudo também. Tudo isso vai servir pra minha vida inteira”, afirma Valéria. Ela prestou o Enem, conseguiu bolsa integral na faculdade e já está no segundo semestre. “Nunca pensei que conseguiria, e aqui eu consegui, no lugar menos provável para isso.”

 

Avaliação

O chefe da Divisão de Qualificação Profissional na PFP, José Carlos Mota, 50 anos, explica que as detentas inseridas no canteiro de trabalho passam por avaliação técnica da comissão formada por pedagoga, assistente social, chefe de segurança e psicóloga. “Fazemos uma avaliação para ver se a pessoa tem o perfil para executar a função, se ela gosta. Primeiro elas são inseridas no canteiro da casa e, posteriormente, são direcionadas de acordo com o perfil”, destaca.

Para continuar no trabalho é preciso ter bom comportamento, disciplina e responsabilidade com horário. De acordo com Mota, as detentas recebem qualificação e tornam-se multiplicadoras de conhecimento. “Aqui elas trabalham como uma rede e transferem o conhecimento. Minha preocupação não é só a confecção de materiais, mas também a qualificação delas”.

Mota atua há trinta anos na penitenciária. Ele diz que acredita na mudança e no poder do trabalho na ressocialização. “Muitas aqui são jovens e não tiveram uma oportunidade. Eu acompanho de perto e sei que elas podem mudar e ter uma vida diferente”, afirma.

 

Com assessoria

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