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Política Pato Bragado

“Eu me considero injustiçado e muito prejudicado”, diz Luiz Grando

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Ex-prefeito de Pato Bragado, Luiz Grando (PSC), em visita ao Jornal O Presente (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Há três anos residindo em Toledo, o primeiro prefeito de Pato Bragado, Luiz Grando (PSC), que voltou ao paço municipal para completar um segundo mandato na década de 2000, está afastado da política desde 2012, quando disputou sua última eleição.

Ele diz que, aparentemente, aquela campanha de nove anos atrás era considerada segura e fácil. O adversário era o então candidato Arnildo Rieger (PP), que foi eleito. “Estava indo bem nas pesquisas, mas houve algumas mudanças partidárias. O PSDB e o Democratas viraram nos últimos dias e isso enfraqueceu o nosso grupo, que ficou com partidos pequenos. Então perdemos”, rememora, em entrevista ao Jornal O Presente.

Desde então, ele não participou mais ativamente da política. No entanto, Grando não descarta ser mais uma vez candidato, embora diga que afirmar algo neste sentido, hoje, seria prematuro.

Ainda durante a entrevista, ele falou sobre o processo que respondeu na Justiça e fez uma avaliação do grupo de oposição em Pato Bragado. Confira.

 

O Presente (OP): O senhor foi candidato, pela última vez, em 2012. Na ocasião, dois partidos que estavam no seu grupo político mudaram de lado. Esse episódio causa alguma mágoa, já que o senhor considera que seria uma eleição com chance de vitória?
Luiz Grando (LG): Não tenho mágoa de ninguém. A política é assim mesmo. É opção, oportunidade e envolve decisões. Eu tenho uma boa relação com todos e não fiz inimigos por conta disso. Está tudo tranquilo. Passou. Não é a primeira vez e nem será a última em que as pessoas mudam de lado por vários motivos que podem surgir. Considero isso uma opção e o momento, às vezes, favorece para que sejam tomadas certas decisões.

 

OP: Seria oportunismo?
LG: Não diria oportunismo, mas de repente alguma coisa não dá certo no grupo em que está e, vendo propostas melhores dos outros, muda de lado. É normal. Se falando de Brasil, não seria normal se tivesse apenas dois partidos, igual países sérios. Quando parte para o número de partidos que temos aqui, não tem como fazer política séria. Basta ver o que acontece no Congresso Nacional. É uma vergonha. Com 30, 40 partidos, se torna impossível governar. Por isso, com tantos partidos no Brasil hoje vejo como normal a mudança de lado.

 

OP: O senhor tem pretensão em voltar a ser candidato?
LG: Acho difícil responder isso neste momento. Eu gosto da política e não tenho como negar. Participar de campanhas? Acho que vou. Para dizer que serei candidato no futuro ainda é muito cedo e prematuro. Estou morando em Toledo, a cidade é boa e fui muito bem recebido, mas o meu coração continua bragadense. Para ser candidato precisaria voltar (a Pato Bragado), sendo que ainda não pensei sobre isso. No entanto, participar de campanha com certeza vou.

 

OP: O senhor se considera de qual lado político de Pato Bragado: situação ou oposição ao governo municipal?
LG: Eu sou neutro, mas não oposição até por questão familiar. Como não estou envolvido na política no momento fico com a questão familiar. Porém, não tenho nada contra o grupo que sempre fiz parte, que me elegeu duas vezes prefeito. Não posso dizer que sou contra. Sou neutro e minha participação futura na política, de que lado que estarei em uma próxima campanha, é difícil responder agora.

 

OP: Como o senhor tem avaliado o governo do prefeito Leomar Rohden (Mano) (MDB)?
LG: Acho que o Mano está fazendo um mandato consciente, sem nada que lhe comprometa. Pato Bragado hoje está em uma situação favorável financeiramente, principalmente, e está fazendo uma administração normal.

 

OP: A ex-prefeita Normilda Koehler (MDB) disse que o vice-prefeito John Nodari (PSD) pode ser considerado hoje o principal pré-candidato a prefeito do grupo de situação para a eleição de 2024. O senhor também vê desta forma?
LG: Eu vejo que sim. O Nodari é um jovem muito bom. Vejo futuro político nele. Acho que tem todas as condições, no futuro, de disputar o cargo de prefeito.

 

OP: Por que o senhor acha que a oposição tem enfrentado dificuldades em ser bem-sucedida na eleição?
LG: Talvez por mudanças de lado. Quando só a pessoa muda não enfraquece, mas quando o partido muda, como foi no nosso caso na eleição de 2012, que foram dois partidos, aí enfraqueceu o grupo e não foi mais retomado. Não houve lideranças fortes que fizessem um trabalho para que o grupo pudesse retomar a força que tinha antes. No decorrer do tempo pode acontecer do grupo se fortalecer novamente. No momento, e deu para ver na última eleição, o grupo está um pouco fragilizado. Precisa de articulações. Precisa formar um grupo. Sem grupo forte fica difícil.

“No momento, e deu para ver na última eleição, o grupo (de oposição) está um pouco fragilizado. Precisa de articulações. Precisa formar um grupo. Sem grupo forte fica difícil”

OP: Muitas vezes são lançados candidatos, às vésperas de iniciar a campanha, sem realizar um trabalho anterior de organização, talvez até para impedir que haja candidatura única. O senhor acha que foi isso que aconteceu na última eleição em Pato Bragado?
LG: Eu sou determinantemente contra candidato fabricado em cima da hora. Para mim, na política não existe isso. Quem pretende ser candidato a prefeito vai se preparar ao longo do tempo, vai participar, vai liderar, vai formar grupo, vai filiar pessoas, vai buscar lideranças e nomes para candidaturas a vereador. Candidato de última hora a pessoa não está preparada. Vai entrar em um grupo em que não participou ao longo do tempo, ou se participou não foi como pré-candidato. Para mim, o candidato se prepara ao longo do tempo para ser lançado lá na frente. Ao chegar no último mês sem saber quem é o candidato, pode acontecer de pessoas que poderiam apoiá-lo, na indecisão de candidatura, acabarem firmando compromisso com outro grupo, porque tem gente que não gosta de perder eleição. Então vai no grupo que considera mais forte.

Ex-prefeito Luiz Grando (PSC): “Eu sou determinantemente contra candidato fabricado em cima da hora. Para mim, na política não existe isso” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

OP: Falta liderança no grupo de oposição para justamente desenvolver esse trabalho?
LG: Não diria liderança. Acho que há nomes bons. Falta um pouco de atitude, alguém tomar a frente. Alguém vai ter que assumir o controle, liderar, para que o grupo volte a crescer e transmitir confiança ao eleitor.

 

OP: O senhor vê algum nome com esse perfil?
LG: No momento, não. Até porque pelo tempo que estou afastado não participei mais de reuniões. Há nomes bons, mas dizer quem seria a pessoa para isso é prematuro.

 

OP: Existe viabilidade da oposição ganhar a próxima eleição?
LG: Depende muito do trabalho que vai ser feito daqui para frente. É um começo de mandato agora e o período é longo. Porém, o grupo precisa crescer, buscar lideranças, tem que ser feito um trabalho. Sem um bom trabalho em cima disso fica difícil. Se deixar tudo para a última hora de novo é complicado.

 

OP: Devido a uma atuação forte do Ministério Público e do Tribunal de Contas, percebe-se que está cada vez mais difícil encontrar pessoas interessadas em entrar na vida pública. O senhor acha que os municípios terão dificuldade em buscar lideranças e inseri-las no meio político?
LG: Acho que sim. O Ministério Público tem a função de investigar, assim como o próprio Tribunal de Contas e o Legislativo municipal. O que falta hoje é preparo. Falta preparo das pessoas que se lançam candidatas sem o devido conhecimento. Tem que ter o mínimo de conhecimento para ocupar o cargo público e não cometer erros. Hoje, por menor que seja, o erro pode dar problemas lá na frente, mesmo que às vezes sem intenção. Não precisa ser um erro intencional, não precisa existir má-fé, mas o erro pode ocorrer naturalmente. Quando causa dano ao erário um dia ou outro o problema estoura. Hoje é complicado ocupar o cargo de prefeito, sim.

 

OP: Como ex-prefeito, o senhor respondeu a processo na Justiça. Hoje isso está superado?
LG: Sim. Eu tive apenas um processo e aproveito para fazer um esclarecimento à comunidade de Pato Bragado, pois eu nunca falei. Neste processo me considero injustiçado, até porque não houve prejuízo ao erário. A própria sentença diz isso e considerou irregularidade na contratação de uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Eu não vejo que tenha havido irregularidade, porque fizemos uma concorrência pública amplamente divulgada, como diz a lei. Passou muito tempo, a Justiça é lenta, e quando dei um depoimento fui mal interpretado. Eu falei no depoimento que as minhas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas. Não sei como foi surgir na sentença dizendo que o réu mentiu descaradamente ao dizer que as contas de 2001 foram aprovadas. Na época eu já tinha as oito contas aprovadas (pelo TCE). Por uma falha nossa, do nosso defensor, quando foi para a segunda instância não foi anexada a negativa para provar que as contas realmente estavam aprovadas. Foi o período de implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e ninguém orientava para nada, ninguém tinha informação correta do que seria (a LRF) e o próprio Tribunal de Contas não informava. Não havia informações seguras. Contratamos uma Oscip e, para mim, o procedimento foi todo correto. Por algum motivo tivemos problemas e a Justiça entendeu que houve irregularidades. E então falhamos na defesa, porque meu advogado perdeu o prazo do recurso em Curitiba. Não recorreu para a terceira instância. Mas passou. Tivemos que pagar multa e cumprir horas de serviço comunitário. Porém, não precisamos devolver recursos ao município. Hoje é algo superado, mas me considero injustiçado e muito prejudicado. Achei a sentença exagerada, pois não houve prejuízo ao erário.

“Eu tive apenas um processo e aproveito para fazer um esclarecimento à comunidade de Pato Bragado, pois eu nunca falei. Neste processo me considero injustiçado, até porque não houve prejuízo ao erário. A própria sentença diz isso”

OP: Mesmo diante deste processo, qual sentimento o senhor carrega do período em que foi prefeito?
LG: Eu fui o primeiro prefeito de Pato Bragado, depois o Verno Scherer foi o segundo prefeito e fiz o terceiro mandato novamente. Foram mandatos muito bons, mesmo que tivemos problemas com a contratação de Oscip. Tenho muito orgulho do trabalho que desenvolvemos. O município de Pato Bragado foi praticamente estruturado nestas administrações. Na agricultura, principalmente, com readequações de estradas e conservação do solo. Foram feitas muitas ações, como no setor industrial, adquirimos a área do Parque de Exposições, investimos bastante e melhoramos espaços físicos. O município está bem porque teve boas administrações, mas Pato Bragado foi iniciado de maneira certa.

 

OP: Existe hoje a cultura do cancelamento. Mesmo sem haver a sentença, a pessoa acusada já é atacada e tachada de diversos adjetivos, como ladrão. Isso é algo que lhe deixou marcas?
LG: Não fico magoado. Falhamos na nossa defesa. Não existia dinheiro para se gastar com advogado. O que lamento muito, profundamente, foi o mal-estar que causou para minha família. Para a família foi um desastre emocional. Foi terrível. Dizer que carrego mágoa? Não carrego. São coisas da vida. Quem está na chuva é para se molhar.

 

OP: E mesmo assim o senhor sente vontade em voltar à política?
LG: Da política eu vou gostar sempre, mas dizer se serei candidato ou não é muito prematuro. A idade já está um pouco avançada e acabamos de passar pela Covid-19. No dia 28 de fevereiro eu renasci.

 

OP: O senhor não fecha as portas?
LG: Não.

 

Por Maria Cristina Kunzler/O Presente

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