Política Contramão do MDB
“Eu vou de Bolsonaro”, reforça deputado Sergio Souza
Apesar de o MDB ter escolhido a senadora Simone Tebet como pré-candidata à Presidência, parlamentar opta em traçar caminho alinhado à sua base eleitoral
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e, portanto, líder da bancada ruralista, o deputado federal Sergio Souza (MDB-PR) vai seguir o caminho da sua base eleitoral, que majoritariamente apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão vai na contramão do seu partido, que lançou a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência.
Em visita ao Jornal O Presente, o parlamentar expôs os motivos que o levaram a estar com o presidente na eleição e diz que, em um segundo turno, o MDB do Paraná deve seguir o mesmo caminho.
Sergio Souza também falou sobre a reestruturação do diretório estadual e municipal de Marechal Cândido Rondon. Confira.
O Presente (OP): Como o MDB do Paraná vem se preparando para as eleições deste ano?
Sergio Souza (SS): Percebemos que nos últimos anos o partido foi diminuindo. Saímos de 15 a 16 deputados estaduais em 2010 para, em 2018, dois; de seis a sete deputados federais para dois; de 120 poucos prefeitos para 20 e poucos. Caímos muito. O MDB diminuiu de tamanho verticalmente nos últimos anos. Estamos reestruturando o partido e a nossa meta é fazer uma chapa completa e elegermos uma bancada de ao menos três deputados federais e quatro a seis deputados estaduais, bem como ter uma candidatura majoritária ao Senado.
OP: De quem é a culpa por essa situação do MDB?
SS: Acho que há muitos culpados e têm aqueles que são um pouco mais. Quando concentra o partido para cuidar de si mesmo ou de seus familiares, não deixa espaço para outros crescerem, acaba tendo um partido com dono. O MDB não pode ter dono. O MDB, historicamente, não tem dono, é um partido independente e plural. Ele ficou nos últimos anos comandado por uma hegemonia familiar que não o deixou crescer. Era ele ou ninguém. Fez com que muitos companheiros deixassem o MDB nesses anos. Hoje temos mais prefeitos em outros partidos, mas que originalmente eram do MDB, do que prefeitos do MDB.
OP: A culpa é do ex-governador Roberto Requião?
SS: Isso é o que você está dizendo (risos).
OP: O MDB escolheu o nome do ex-governador Orlando Pessuti como pré-candidato ao Senado. É para valer?
SS: Tenho conversado bastante com o Orlando Pessuti. Alguns meses atrás o chamei e falei que ele precisava nos dizer se de fato era isso que queria. Se decidisse desta forma estaríamos com ele, senão teríamos que abrir o espaço para negociações e conversas dentro do partido. Ele disse categoricamente que seria candidato, inclusive está se articulando para isso, tem viajado o Estado do Paraná, tem conversado em Brasília e esteve junto comigo, recentemente, com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi. Isso está caminhando a passos largos. Acreditamos muito na candidatura do Pessuti e no crescimento das intenções de votos, porque a partir do momento que o povo do Paraná souber que ele é candidato ao Senado tem possibilidade de crescimento muito forte.
OP: O senhor acha que há viabilidade?
SS: O Senado Federal tem alguns pré-candidatos, entre eles o senador Alvaro Dias (Podemos) à reeleição, que tem a maior intenção de votos. Mas também há percepção do eleitor paranaense de renovação. Aí abre um espaço muito grande para novos candidatos e o Pessuti sai na frente nessa largada, porque tem popularidade no Estado inteiro, seja nos grandes centros ou no interior. Isso ajuda muito em uma eleição curta como teremos neste ano.
OP: O senhor já foi senador. Por que não colocar o nome à disposição para disputar a vaga neste ano?
SS: É o meu sonho, mas acho que precisamos nos preparar para isso. Diria que precisa de ao menos três fatores para conseguir uma disputa com possibilidade de eleição ao Senado. Precisa de partido e hoje temos o MDB bastante estruturado no Paraná. Precisa de um bom palanque, construir uma boa aliança, estar em uma boa chapa majoritária e isso está hoje muito desestruturado. O MDB deve caminhar com o governador Ratinho Junior (PSD) e, nesta aliança, temos quantos candidatos ao Senado? Então precisa estar bem ajustado e não está. E precisa ter uma boa popularidade, principalmente em grandes centros. Eu sinto que não tenho popularidade em grandes centros. Sei que sou um deputado muito ligado ao interior, ao agro, uma popularidade grande setorial da agropecuária, mas nos grandes centros não. E o partido não está do tamanho que poderia estar para ter uma candidatura à majoritária. Temos que passar por 2022, em que contamos com a intenção de dobrar o tamanho do MDB em relação a deputados estaduais e federais, e chegar em 2024 para fazermos o mesmo com prefeitos e vereadores. Por exemplo, em Marechal Cândido Rondon teremos candidato próprio do MDB com possibilidade de disputar a eleição e ganhar. Não será diferente em outras cidades do Paraná inteiro. Nossa intenção é ter candidatos com possibilidades reais de ganhar as eleições em boa parte do Estado, especialmente em municípios com grande densidade eleitoral. Isso fará com que o MDB chegue em 2026 com outro tamanho e, aí sim, podendo ser candidato ao Senado, que é o que imaginamos que pode acontecer se o povo do Paraná nos outorgar um novo mandato de deputado federal.
OP: Já existe algum nome que o partido vislumbra para ser o candidato a prefeito de Marechal Rondon em 2024?
SS: Tem muito tempo até lá. O MDB está passando por um processo de reorganização em Marechal Cândido Rondon. Acabamos de trazer o Ademir Bier, que estava no PSD e retorna à casa do MDB. Hoje o partido tem uma provisória formada para se reorganizar, tem três vereadores e todos eles têm possibilidade de ser candidato a prefeito, e tem também o Ademir Bier, que possui chance de disputar e ganhar uma eleição de deputado estadual. Há nomes fortes, mas quem vai decidir isso lá na frente é o partido internamente e de acordo com a viabilidade eleitoral de cada um.
OP: A eleição interna do MDB de Marechal Rondon foi marcada por polêmica. O ex-vereador Josoé Pedralli foi eleito, mas o diretório estadual fez uma intervenção e nomeou uma comissão provisória com a indicação do vereador Juca (João Eduardo dos Santos) para presidir a sigla. Essa situação está sanada?
SS: O MDB é um partido democrático e que busca uma forma de conciliar as crises que tem. Percebemos que o MDB de Marechal Cândido Rondon, nos últimos anos, passou a ter uma divisão e este caminho não é bom. Foi feita uma convenção pelo ex-presidente Josoé Pedralli, por quem tenho um carinho especial, mas ficaram de fora algumas pessoas importantes e que poderiam estar no diretório. Foi construído um acordo neste meio tempo. Não houve intervenção do diretório estadual. Foi construído um acordo para não homologação daquela convenção e a formação de uma comissão provisória para organizar um novo diretório com a participação de todos aqueles que o MDB entende que são necessários participar.
OP: Mas o Pedralli deu declarações com críticas à situação. O senhor acha que ele se mantém no partido e é possível agregar forças neste projeto de reorganização do MDB?
SS: Acho que o Josoé é uma pessoa inteligente, que quer o melhor do partido, inclusive participou conosco de uma reunião com nossa comissão provisória pensando em como vamos difundir a participação do MDB no processo eleitoral, a identificar as causas e necessidades das pessoas, e apresentarmos as propostas na campanha. O Josoé está conosco nesta caminhada e acredito que ele participará em todos os momentos da reformulação do partido.
OP: Voltando um pouco sobre a questão do Senado, o MDB está com o governo Ratinho Junior, mas existem outros pré-candidatos a senador. Quem o senhor acha que ele vai apoiar?
SS: (Pausa) Todos (risos).
OP: O senhor acredita que ele vai ficar em cima do muro?
SS: Ele tem dado declarações de que o candidato seria o Paulo Martins (PL) a partir de um pedido do presidente Jair Bolsonaro, mas na base do governador tem o PROS, que tem a Aline Sleutjes, o MDB, que tem o Orlando Pessuti, o PP, que tem o Guto Silva, e provavelmente terá o Podemos, que tem o Alvaro Dias. Esse é um problema bom ao ter muitos partidos e apoiadores que estão com ele, mas também terá que em uma sequência decidir como vai fazer. Houve uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tratando sobre essas questões de coligações na majoritária. Decidiu-se que na majoritária do governador, naquela coligação, pode haver um único candidato a senador, ou o partido coligado lá em cima pode lançar individual candidatura ao Senado embaixo. Não podem sair dois ou três partidos da coligação majoritária e formar uma coligação só para o Senado. Isso complicou ainda mais a vida daqueles que pretendem coligar na majoritária e também se coligar diferentemente na majoritária ao Senado. É algo que vamos ter que ver como será dirimido nos próximos dias. Acredito que haverá alguns partidos que podem pensar em não se coligar com o governador, por mais que declare apoio, para conseguir fazer coligações embaixo, porque se estiver coligado em cima vai inviabilizar coligações para o Senado. É um problema bom que o governador tem: vários pré-candidatos para uma mesma vaga e todos querem o apoio dele.
OP: O senhor acredita que o MDB e os partidos que formam a terceira via demoraram para lançar o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como pré-candidata à Presidência?
SS: A Simone surgiu em uma posição dela dentro do Senado, em uma ocupação de espaço, que começou a aparecer lá atrás com a disputa com Renan Calheiros (MDB-AL) pela presidência do Senado, depois quando foi presidir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), sendo a primeira mulher a presidir o colegiado. Posteriormente, foi integrante da CPI da Covid-19 teve uma grande exposição midiática. Isso deu a ela uma popularidade para que pudesse ter o nome sugerido à Presidência da República. Ela poderia ter ido à reeleição ao Senado, mas fez essa opção e o partido decidiu apoiá-la. Mas aí vem a construção de chapa e de alianças. No começo o trabalho tinha o PSDB, União Brasil e o Cidadania, junto com o MDB. Depois o União Brasil saiu e ficaram só os três. O João Doria (ex-governador de São Paulo, PSDB) era pré-candidato, depois ele desiste, e agora na construção de um vice os palanques regionais ainda seguem se definindo. A Simone teve nestes meses todos uma grande exposição de mídia por conta destes problemas internos, mas sempre surgiu a dúvida se ela vai ser candidata mesmo. Então temos que aguardar um pouco, mas a Simone vem, na minha opinião, e terá um grande crescimento. Apesar de que eu olho para a nossa base eleitoral, a minha especificamente como líder da banca ruralista, e majoritariamente é Bolsonaro, onde estaremos alinhados também.
OP: Ou seja, o senhor não vai apoiar o nome do seu partido à Presidência?
SS: Na verdade percebo que para o eleitor o único candidato que ele quer tomar a decisão sozinho é para presidente. Ele não aceita muito a opinião e cada um tem entendimento diferente. Então a nossa base vai respeitar a base do eleitor. Lógico que em eventos internos do MDB e em todas as situações estaremos sempre falando no nome da Simone, mas a nossa base a grande maioria é Bolsonaro e estaremos alinhados a ele.
OP: O MDB aceita bem essa questão?
SS: Aceita, até porque a campanha presidencial se dará pelos meios de comunicação. Pelo programa eleitoral nenhum presidenciável se elege ou consegue grande densidade eleitoral.
OP: O senhor acha que a senadora Simone vai manter a pré-candidatura?
SS: Tenho certeza que sim e acredito que vai crescer muito neste tempo. Há uma polarização e há uma bolha em que os outros candidatos não conseguem furar. Nesta polarização temos um eleitorado muito fiel à esquerda e à candidatura do ex-presidente Lula (PT), e temos um percentual muito fiel ao presidente Jair Bolsonaro na direita. No entanto, colado ao Lula temos um percentual de eleitores que está ali porque não quer o Bolsonaro, não porque gosta do PT ou do Lula. Isso está muito na mulher e no voto do jovem, por exemplo, segundo as pesquisas internas que temos. E não é diferente do lado do Bolsonaro. Há aqueles que estão definidos e há a militância em favor do presidente, mas também tem uma faixa considerável de eleitores que está ali porque não quer que o PT volte ao poder. E sobrou pouco para o centro. Porém, estes eleitores que estão margeando os dois candidatos podem vir a perceber que têm outras opções. Como é uma eleição de dois turnos, e esperamos que haja dois turnos, esses candidatos podem vir a receber votos dos dois (Lula e Bolsonaro) que têm dúvida se devem ficar na esquerda ou na direita.
OP: Em um segundo turno o MDB vai de Bolsonaro ou de Lula?
SS: Eu vou de Bolsonaro e acredito que o MDB também. O MDB é um partido federal. O MDB do Sul, Sudeste e Centro-Oeste é muito mais de centro partindo para a direita. O MDB do Norte e do Nordeste é de centro mais à esquerda. Em alguns Estados do Nordeste o MDB já está declarando apoio ao Lula. E eu não teria nenhuma dúvida de que se o MDB do Paraná declarasse apoio a alguém seria para o Bolsonaro.
Por Maria Cristina Kunzler/O Presente