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Não podemos ficar no feijão com arroz, afirma Pedro Rauber

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Maria Cristina Kunzler/OP

Novo presidente da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon para o biênio 2017/2018, Pedro Rauber: A oposição pode ter certeza que queremos adotar uma sistemática igualitária de atendimento para todos os vereadores

 

Considerado um dos políticos mais experientes de Marechal Cândido Rondon, Pedro Rauber (DEM) assumiu no domingo (1º) o 8º mandato como vereador. A data promete ficar marcada na história de vida do parlamentar e do município. Isto porque, no mesmo dia, ele foi eleito presidente da Câmara Municipal para o biênio 2017/2018 com dez dos 13 votos possíveis. E, ainda, deu a posse ao filho Marcio Rauber (DEM) como prefeito – algo inédito na cidade e um fato certamente incomum na política paranaense.

Em entrevista ao Jornal O Presente, Rauber falou sobre como deve conduzir sua gestão à frente do Poder Legislativo e sobre o projeto de ampliação da atual estrutura da Casa de Leis. Ele ainda comentou a respeito da construção de sua candidatura a presidente da Câmara e a adesão ao seu nome de dois votos – Dorivaldo Kist (Neco) (PMDB) e Claudio Köhler (Claudinho) (PP) – que em tese seriam do grupo de oposição. Para ele, isso demonstra que ambos os edis podem começar a caminhar em conjunto com o grupo da base aliada ao governo municipal, que já conta com outros oito vereadores, na votação de importantes projetos em prol de Marechal Rondon. Confira.

O Presente (OP): O senhor assumiu no domingo seu 8º mandato como vereador. Por que decidiu retornar à vida pública após um período afastado?

Pedro Rauber (PR): Quem participa da vida pública, como eu – 40 anos de vida pública e 34 anos como vereador -, muitas vezes não é necessariamente dono de suas decisões, pois pertence a um grupo político, grupo de amigos e tem a própria sociedade. Acabaram me convencendo que eu teria que voltar como candidato a vereador, até para dar suporte à candidatura do meu filho. Nas vezes que fui candidato a vereador apoiei muitos candidatos a prefeito no passado. Com a presença do meu filho na disputa pela majoritária seria uma situação muito indelicada de eu não participar ativamente desta eleição. Felizmente fui coroado de êxito e fomos eleitos com uma votação razoável, até pela idade que temos hoje e o desgaste é automático ao longo dos anos. Sempre tive uma linha e nunca agi para me fortalecer financeiramente. Não sou perfeito, mas procuro fazer o máximo para que todas as minhas ações possam, de uma forma ou de outra, beneficiar nossa sociedade.

 

OP: O que o senhor constata de diferença em outros mandatos em relação ao atual?

PR: Evidentemente que evoluímos em muitos sentidos, mas na prática é a mesma coisa. São as mesmas obrigações, as mesmas funções e o mesmo respeito que devemos ter com a sociedade. Eu, por exemplo, já tomei algumas medidas para mostrar para a sociedade que estamos vivendo novos tempos. Não podemos ficar no feijão com arroz. Precisamos avançar e mostrar para a sociedade porque viemos para o Legislativo.

OP: Qual tipo de trabalho o senhor pretende implementar à frente do Legislativo? O que os rondonenses podem esperar de sua gestão?

PR: Se depender de mim, quero uma legislatura unida e os vereadores se respeitando mutuamente. De nada adianta trazermos para a Câmara picuinhas particulares. Espero que cada vereador se debruce em cima dos projetos que são fundamentais para o município. Quando acharem que determinado projeto deve ser aprovado, se posicionem neste sentido, e concordarei quando entenderem que não deve ser aprovado e rejeitarem determinada matéria. Cada um deve defender sua bandeira. Eu, por exemplo, terei uma postura que os vereadores que me conhecem sabem qual é: de respeito igualitário com todos. A oposição pode ter certeza que queremos adotar uma sistemática igualitária de atendimento para todos os vereadores. No entanto, sentimos que algumas medidas de economia que estamos tomando nem todos concordaram imediatamente, mas, passado um tempo, conseguimos convencê-los que algumas mudanças que estamos promovendo são fundamentais.

 

OP: Notou-se nas posses dos eleitos, no domingo, que uma das palavras de ordem é o corte de gastos. O senhor pretende implantar medidas de economicidade na Câmara de Vereadores?

PR: Sim, inclusive já conversamos longamente com os vereadores sobre isso. No passado sempre se nomeou ainda no mês de janeiro os assessores. Eu entendo, como a Câmara está em recesso e os vereadores de férias, ser um gasto desnecessário nomear assessor, porque o Legislativo não está em plena atividade, embora os vereadores nunca param de trabalhar. Eles concordaram comigo até para darmos um retorno à sociedade, que espera que haja economia onde é possível economizar. Temos uma deficiência muito grande no prédio da Câmara e isso precisa ser ajustado. Quem sabe com essa economia inicial conseguimos avançar um pouco nas reformas que são importantes no prédio.

 

OP: Nesta quinta-feira (ontem, 05) a Associação Comercial e Empresarial (Acimacar) repassou sua antiga sede, que foi adquirida pela prefeitura para que a Câmara possa ampliar sua estrutura. No início deste ano, por sua vez, o Poder Judiciário deve inaugurar o novo Fórum e o atual prédio também deve ser transferido para o município. O senhor defende que a Câmara de Vereadores permaneça no atual local ou mude para onde hoje abriga o Judiciário?

PR: Existe um porém no Fórum. Pelo que sei a estrutura é do Tribunal de Justiça e o trâmite para retornar o imóvel para o município pode demorar. Como temos urgência e o prédio da Acimacar foi adquirido pelo município não podemos desrespeitar uma vontade que aconteceu antes. Tivemos uma rápida reunião com o prefeito na terça-feira (03) e conversamos sobre onde a Câmara efetivamente deve permanecer. Veja bem: se gastarmos agora com pequenas reformas que são necessárias de imediato e depois o Legislativo não permanece aqui e muda para o prédio do Fórum, seria um gasto desnecessário. Como precisamos não só na iniciativa privada, mas no setor público também economizar, entendemos que vamos ampliar aqui e permanecer definitivamente com a Câmara utilizando os dois prédios.

 

OP: Existe alguma expectativa de quando a Câmara deve começar a trabalhar no projeto de ampliação da estrutura física?

PR: Já estamos agilizando isso. Formamos uma comissão interna e deleguei poderes para que faça um esboço do que precisamos nesta ampliação. Fiquei impressionado pela agilidade fantástica. Como se trata de um prédio que foi repassado ao município, fiz questão que o imóvel continue com a prefeitura para que as licitações da obra sejam realizadas pelo Poder Executivo. A Câmara teria todas condições em fazer as licitações se o prédio fosse transferido para o Legislativo, mas como não temos um engenheiro para acompanhar a obra não queremos correr o risco de recebê-la e depois eventualmente ver que apresenta problemas. Quero que a prefeitura faça um esforço e licite a obra para que tenhamos um profissional para acompanhar os trabalhos sem a necessidade da Câmara ter que contratar engenheiro. Queremos ter um ambiente adequado para bem receber os munícipes, valorizando desta forma também o Legislativo. Senão não faria sentido existir a Câmara de Vereadores. Aqui que acontecem os grandes debates dos grandes projetos. Aqui que começa a evolução do município. Então é preciso ter o devido respeito com as pessoas que trabalham internamente no Legislativo também.

 

OP: No domingo aconteceu um fato inédito em Marechal Rondon, quando o senhor empossou seu filho como prefeito. Muito tem se falado sobre pai e filho comandando o Legislativo e Executivo, e que isso poderia, por exemplo, causar interferências entre os poderes. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

PR: Críticas neste sentido foram importantes para mim, porque gostaria que estas pessoas se colocassem no meu lugar e então sentiriam a tamanha alegria que eu e minha família estamos sentindo. São poderes independentes. Para um bom entendedor meia palavra basta. Se eu não pudesse ocupar um cargo na Câmara então a minha eleição de vereador deveria ser anulada. Afinal de contas, sou vereador eleito e quem quis assim foi a sociedade e dez vereadores que votaram em meu nome para a presidência. Haverei de honrar esse reconhecimento que recebi dos vereadores. Vou honrar dia a dia. Já falei na minha posse e na posse do meu filho como prefeito: haverei de dar todo apoio aqui na Câmara, mas se necessário também sei criticar, cada um na sua função. Tenho compromisso com a sociedade que comecei a construir em 1976. Por isso fiz um lembrete a todos os secretários: caminhem firmes com a decisão de vocês em projetos e ações para que não seja preciso eu ter o desprazer de, eventualmente, dar um puxão de orelha no prefeito. Mas pelo que conheço o prefeito e meu filho, e sua firmeza e vontade de ajudar Marechal Cândido Rondon, todos nós, daqui quatro anos, sairemos de nossos compromissos políticos de cabeça erguida, podem ter certeza. Não vou interferir no Poder Executivo e quero ter liberdade, junto com nossos pares, para agir aqui da melhor forma possível em prol da sociedade rondonense.

 

OP: Houve desafios na construção de sua candidatura à presidência da Câmara, como, por exemplo, manter a base do grupo de oito vereadores unida?

PR: Eu acredito que não, pois o demonstrativo foi agora. Na Câmara todos os presidentes que me antecederam tinham à disposição cinco cargos no Legislativo. Em uma atitude do presidente anterior (João Marcos Gomes, PP) foram cortados quatro dos cinco cargos. Sobrou para a presidência atual somente o diretor. Estamos fazendo levantamentos e, se necessário, no futuro podemos rever algumas coisas. Mas para mim facilitou com este corte porque, diga-se de passagem, isso poderia fazer com que algum candidato negociasse cargos. Contudo, isso não ocorreu porque não há cargos para negociar. Valeu a experiência e a forma da gente agir no período pré-eleitoral. Nas conversas que tivemos com os vereadores que me apoiaram recebi uma regra de conduta, que é normal e gostei muito, na qual pediram atendimento igualitário. Aqui vamos valorizar todo pessoal da linha de frente da Câmara, toda mesa, cada um dentro das suas responsabilidades.

 

OP: O senhor já definiu o nome do diretor da Câmara?

PR: Já o nomeamos. É o único cargo que eu tinha necessidade urgente em nomear para nos colocarmos a par da real situação da Câmara. Nomeamos o Ademar Dahmer, que já no passado trabalhava com a gente quando fui presidente por duas vezes. Pude ter o prazer de perceber nele um grande parceiro, uma pessoa honestíssima e que pensa como todos nós: quer o melhor para Marechal Cândido Rondon. Isso fez com que trouxéssemos ele de volta à Câmara, até porque o Ademar tem um bom trânsito com todos os vereadores.

 

OP: Na sua avaliação, o voto dos vereadores Neco e Claudinho na eleição da mesa diretiva demonstra que eles de certa forma passam a integrar a base aliada?

PR: Pelo que percebi até agora não vou dizer que eles vão integrar o grupo oficialmente, mas as questões fundamentais, como quando vem um projeto do Executivo, nem sempre todos os vereadores avaliam a importância daquela matéria para o município. E nestas questões tenho certeza que haverão de caminhar junto conosco. Para facilitar o processo administrativo precisamos de agilidade, principalmente em uma nova administração, então acredito que neste sentido eles devem caminhar com a gente. Até porque nem poderia ser diferente, pois já perceberam a forma como agimos e como pretendemos conduzir a presidência da Câmara. São parceiros que conheço há muito tempo e sabem o valor que dou para cada vereador. Respeito a todos, como já disse anteriormente, porque estão aqui por vontade da sociedade, que deve ser respeitada.

 

OP: Manter uma base de oito a dez vereadores, muitas vezes, é uma tarefa complicada e difícil. Quais os desafios que o senhor enxerga que o prefeito terá para que o grupo permaneça unido?

PR: Não acredito que terá dificuldade, porque cada vereador vai procurar fazer o seu trabalho, até em razão de que a sociedade está vigilante. Tomamos algumas medidas que devem entrar na pauta de fevereiro, como a intenção em mudar o horário de início das sessões ordinárias das 17 horas para as 18 horas. Desta forma queremos oportunizar que os rondonenses possam participar das sessões, que em função do horário hoje ficam impedidos. Queremos facilitar para que a sociedade possa acompanhar de perto o trabalho de cada vereador. Eu demonstrei isso no passado bem distante quando fui presidente da Câmara. A tribuna popular, por exemplo, foi implantada quando eu dirigi o Legislativo. A sociedade não pode ser impedida, dentro do que a lei regulamenta, de manifestar o seu desejo ou expor seu ponto de vista para que coisas melhores aconteçam no município.

 

OP: Já existe a expectativa deste início de ano legislativo contar com algum projeto que venha a causar um debate maior ou polêmica?

PR: Acredito que no mês de janeiro, se vier algum projeto da prefeitura, será prevendo pequenas alterações. Por enquanto não temos recebido comunicação nenhuma. Tanto é verdade que há vereadores de férias e viajando. O que vier será estudado e analisado com cautela dentro dos prazos.

 

OP: Como político experiente, o senhor pretende dar alguma contribuição ao governo municipal sem que haja uma leitura de que estaria havendo interferência sua na gestão do seu filho?

PR: Evidentemente que sim e é uma obrigação minha. Precisamos apresentar projetos bons e alternativos. Podemos buscar fora de Marechal Rondon ideias de sucesso para implantar aqui. Não vou adiantar, mas temos algumas propostas que gostaríamos de colocar em prática. Vamos apresentar as ideias e caberá ao Executivo definir se vai implantá-las ou não.

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