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Política Entrevista ao O Presente

“Não podemos ter frouxidão no Senado”, declara Guto Silva

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Pré-candidato ao Senado pelo PP, deputado Guto Silva, em visita ao Jornal O Presente: “Eu vejo um pouco essa ausência de posição na defesa dos interesses do Estado. O senador tem que defender o Estado” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Pré-candidato a senador pelo PP, deputado estadual defende que bancada paranaense tenha voz mais ativa em prol das pautas estaduais

 

Guto Silva (PP) é um daqueles nomes da nova geração política do Paraná. Aos 45 anos e visionário, está no segundo mandato de deputado estadual. No entanto, busca projetos mais grandiosos e audaciosos.

Depois de ocupar o cargo de chefe da Casa Civil neste mandato do governador Ratinho Junior (PSD), Guto Silva se desincompatibilizou da função e retornou à Assembleia Legislativa para assumir a condição de pré-candidato ao Senado.

Para dar andamento ao novo projeto político, trocou o PSD pelo Partido Progressistas (PP). Em outubro, pode ter como principal adversário o senador Alvaro Dias (Podemos), que ainda não oficializou se pretende tentar a reeleição.

Em visita ao Jornal O Presente, ontem (26), Guto Silva falou sobre sua pré-candidatura e criticou a atual bancada do Paraná no Senado, que se volta muito às pautas nacionais em vez de ter um olhar mais atencioso para as pautas estaduais. Confira.

 

O Presente (OP): A sua pré-candidatura ao Senado é para valer?

Guto Silva (GS): É para valer, até porque tenho brincado que se não fosse pré-candidato não estaria trabalhando tanto. Já liberei minhas bases políticas. Minha jornada é para o Senado ou ir para casa. É um caminho sem volta. Estou muito determinado e tentando traduzir este sentimento que tenho acompanhado nas pessoas, nas lideranças políticas e empresariais, que é de mudança, de transformação, mas sobretudo com uma agenda mais pautada para o Paraná. Sei que uma eleição à majoritária depende de ‘n’ fatores, mas estou buscando espaço. Tenho muito apoio de prefeitos, da sociedade civil organizada, e me sinto motivado em poder levar esse sentimento do Paraná que dá certo, do Paraná que produz, que infelizmente hoje não está presente no Senado.

 

OP: A bancada do Paraná no Senado falha em trabalhar muito sobre pauta nacional e não as pautas estaduais?

GS: Falha e muito. O Brasil é muito grande e o Paraná é importante no cenário nacional, pois somos a 4ª economia do país – atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais -, mas é preciso um olhar mais pragmático das coisas do Estado. Às vezes ficam nos grandes debates, mas o que nos é relevante e estratégico estão deixando de colocar na linha central. Vou dar um exemplo: é impossível falar de alimento e comida sem falar com o Paraná; é impossível falar de sustentabilidade no Brasil sem conversar com o Paraná; é impossível falar de agro no Brasil sem sentar na cadeira do Paraná. O Paraná é muito forte, temos uma indústria muito competitiva, o agro nos dá muito orgulho e o comércio é pujante, mas essas pautas não se encontram na pauta do Senado. Temos o modelo federativo que corrói a devolução dos tributos ao Estado e este assunto precisa ser levado dentro das questões que são importantes. Vou dar outro exemplo bastante claro: nós temos um sistema muito robusto de Ensino Superior, mas é atribuição da União e não do Estado. Porém, tradicionalmente, o Paraná faz um investimento nas universidades estaduais, que é importante, mas custa mais de R$ 1 bilhão ao cofre paranaense. E aí faço a pergunta: quantos estudantes de fora do Estado temos nessas instituições? Muitos. Não devemos cercear o direito ao Ensino Superior dos jovens que vêm estudar no nosso Estado, mas o Paraná precisa ser compensado. Não é prerrogativa nossa pagar o Ensino Superior. Eu vejo um pouco essa ausência de posição na defesa dos interesses do Estado. O senador tem que defender o Estado.

 

OP: Nesta linha de raciocínio é possível o senhor se colocar ao lado da população e das lideranças rondonenses para lutar pela implantação do Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Marechal Rondon?

GS: Claro. Eu tenho conversado muito com o IFPR e estão querendo fazer uma nova divisão, da região Sul e região Norte, e abrir campus em Marechal Cândido Rondon. Há um planejamento. Mas este assunto tem que ser falado com muita força. O Paraná merece e não estamos pedindo favor para ninguém. O Paraná já paga uma conta que não devemos, que é do Ensino Superior. Essa descentralização do Ensino Superior paga pela União é estratégica para Marechal Cândido Rondon. O município é merecedor de unidades para formatar os próximos ciclos.

 

OP: Muitos avaliam que as universidades estaduais e federais têm uma estrutura engessada e formam poucos alunos e, muitos deles, ainda mal preparados. É possível em um prazo curto mudar essa realidade?

GS: Não existe inovação no mundo se a engrenagem, formada por Estado (União, Estados e municípios), iniciativa privada e academia, não estiver rodando junta. No Brasil estamos muito diferentes. É igual empregador e empregado, em que um acha que paga muito e o outro acha que recebe pouco. O Ensino Superior no Brasil com a iniciativa privada é a mesma coisa, é muito longe e distante. Precisamos trazer linhas de pesquisa para dentro das universidades que dialoguem mais com o setor produtivo. Não é ruim ganhar dinheiro e não é ruim a universidade abrir o conhecimento para gerar negócio ou oportunidades. Essa cultura de afastamento das universidades do mundo privado é importante achatar. O próximo ciclo é a inovação, tecnologia, conhecimento. Precisamos capacitar os jovens que estão aqui no Oeste, com abundância de mão de obra, porque temos a nova ruptura e o Paraná tem essa condição de dar um salto de qualidade, com bons empregos e valores acima da média. O Oeste do Paraná, nos próximos dez anos, viverá um novo ciclo, ainda mais forte, desta força do agronegócio, da tecnologia, inovação, gerando emprego e renda. Entretanto, vai gerar uma pressão imensa para que a infraestrutura industrial e logística acompanhem, e aí estou falando de rodovia, ferrovia, eletrovia, e uma demanda grande para os prefeitos.

  

OP: E o Paraná está preparado para isso?

GS: Felizmente está. Ficamos muito tempo amarrado, sobretudo na questão rodoviária em função dos pedágios mal conduzidos e a roubalheira que aconteceu. Nos novos contratos de concessão a previsão é que as duplicações e a infraestrutura aconteçam a partir do terceiro ano. Não vai arrecadar para daqui dez, 15 anos fazer a obra. A Nova Ferroeste, que é a nossa próxima menina dos olhos e vai transformar a região, dará condição de remodelar esse processo. A Ferroeste tem um olhar um pouco diferente do que as pessoas estão vendo. O olhar não é para o Atlântico, para exportação, garantir competitividade, trazer calcário barato. Também é, mas a Ferroeste será um braço estratégico para o Paraná trazer matéria-prima barata do Mato Grosso do Sul para abastecer as agroindústrias do Oeste e do Estado. Cem por cento do milho que produzimos já estamos consumindo. Não somos autossuficientes. Em seis a sete anos o Paraná precisará buscar soja em outros Estados. Precisaremos ter capacidade de trazer matéria-prima barata para tocar a nossa indústria. O que vai acontecer neste eixo do Oeste será uma transformação brutal da matriz econômica, cada vez mais industrializada e com mais tecnologia. Vai atrair muitas pessoas e as cidades vão precisar se reorganizar.

 

OP: Mas tudo isso passa pelo resultado das eleições?

GS: Sem dúvida. O governador Ratinho Junior deixou peças basilares, como a rodovia, que está encaminhada, a ferrovia, a Copel com a eletrovia, telefonia 5G, o biogás está no novo planejamento, e os aeroportos regionais. Nos pilares de infraestrutura o Paraná tem um desenho de muita expansão. Isso garante competitividade e futuro. Lógico que a consolidação da eleição dá tempo de acelerar este processo. Temos um momento muito próspero para o Estado.  

 

OP: Como o senhor avalia a campanha que se aproxima com a possibilidade de reeleição do governador?

GS: Com respeito aos adversários, mas acho que o Ratinho tem uma eleição muito positiva e uma reeleição construída. Ele tem forte apoio dos prefeitos, do mundo político, mesmo com toda a dificuldade da pandemia o Paraná não perdeu fôlego e voltou a crescer, consolidou um ambiente de paz. O Paraná prospera e estamos batendo constantemente recorde na geração de empregos. No primeiro trimestre o Paraná gerou mais emprego formal que as regiões Norte e Nordeste juntas. Isso demonstra que este ambiente de paz traz confiança aos investidores. O Paraná está em um ótimo caminho e agora os desafios passam a ser outros. Uma preocupação que tenho, particularmente, é o rebote da pandemia. Temos que ter um olhar muito humano para cuidar das pessoas. No pós-pandemia estou visitando muitas escolas e testemunhei crianças se automutilando, com problemas psicológicos e crises de ansiedade. Existe um pós-pandemia na educação e precisamos cuidar das crianças e dos professores. Na saúde tem o pós-pandemia das cirurgias eletivas, que ficaram congeladas. Na segurança pública temos um pós-pandemia porque a Lei Mansueto não permitiu Estados e municípios a fazer contratações. Perdemos seis mil homens e mulheres na segurança pública e precisam ser recolocados. Temos enormes desafios.

 

OP: O senhor foi o chefe da Casa Civil no Governo do Estado. O governador deve apoiar a sua pré-candidatura ao Senado?

GS: Gostaria muito e estou trabalhando para isso. Brinco que o governador é o grande cabo eleitoral desta eleição, porque está bem posicionado e com uma imagem boa. Lógico que gostaria de ter o apoio dele, mas, ao mesmo tempo, também não posso ser inocente, pois depende de muitas configurações dos palanques eleitorais. O governador está construindo o seu palanque no Estado, com forte adesão dos prefeitos e dos partidos. Estou me consolidando e me posicionando neste cenário para poder disputar as eleições. Estou confiante de que é possível e estou com muita serenidade, pois não posso pressionar e nem exigir nada. Acho que o importante é garantir a eleição do governador, mas trabalhando forte para ter este apoio.

  

OP: E se ele não lhe apoiar?

GS: Se não tiver apoio efetivo do governador ou ao menos neutralidade fica difícil concorrer ao Senado. Tem que ser realista. Mas estou confiante de que há este espaço.

 

OP: O indicativo do presidente Bolsonaro em apoiar outro pré-candidato ao Senado, e não o senhor, é um desafio a mais ou vê isso com naturalidade?

GS: Vejo com naturalidade. O Bolsonaro já anunciou a possibilidade de apoiar o Paulo Martins (PL). Ele é um apoio de peso, mas vou continuar na minha trajetória em apoiar o Bolsonaro, as minhas convicções, as pautas em que acredito, e também o governador. Na política tem que ter grandeza e entender o contexto. Eu tenho apostado muito fortemente na relação com os prefeitos, com os vereadores, com o mundo real, que dialoga.

 

OP: O apoio do presidente Bolsonaro estremece um pouco a relação com o PP do deputado Ricardo Barros, que é o líder do governo na Câmara Federal?

GS: Eu tenho conversado muito com o Ricardo Barros, porque a grande complexidade, diferente das eleições anteriores, é que há uma nova regra eleitoral. Os partidos buscam seus espaços e o grande desafio é conseguir equilibrar toda essa chapa. Tenho recebido muito apoio do partido, que tem me dado condição para trabalhar. Estou muito confortável e o partido está dando total suporte. É um partido forte e que tem ascensão no governo Bolsonaro.

Pré-candidato ao Senado, Guto Silva (PP): “Se não tiver apoio efetivo do governador ou ao menos neutralidade fica difícil concorrer ao Senado. Tem que ser realista” (Foto: Maria Cristina Kunzler)

 

OP: Do ponto de vista da sua pré-candidatura, como o senhor avalia essa indecisão do senador Alvaro Dias se disputa a reeleição ou não?

GS: O senador Alvaro é protagonista de um partido e está avaliando qual melhor caminho nesta conjuntura. A situação dele é complexa, porque tem o cenário nacional, estadual e a própria questão política pessoal. Ele é uma figura importante no xadrez eleitoral e não sei qual a decisão que terá, se disputará a reeleição ou não, ou para qual cargo vai disputar. Estou muito focado agora no projeto eleitoral do Guto Silva, independente com quem for a disputa.  

  

OP: Mas essa indecisão beneficia a sua pré-campanha?

GS: Não sei se ele será candidato à reeleição. Se for, quero disputar. Brinco que candidatura ao Senado é igual Copa Libertadores, em que não escolhemos adversário. Temos que estar com muita energia, pauta clara e, sobretudo, estar sintonizado com o sentimento do paranaense.

 

OP: Nas suas declarações o senhor destaca a renovação. Não por acaso, o Paraná tem três senadores de mais idade. Este é um parâmetro para o eleitor jovem se posicionar nesta eleição?

GS: Tenho dito que nem tudo que é mais velho, ou idoso, é ruim; e nem tudo que é bom é novo. O que vale é o comportamento e a atitude. Eu tenho 45 anos e talvez tenho mais familiaridade e condições de entender essa linguagem do jovem, mas o que importa é o comportamento. Não podemos ter frouxidão no Senado. Não podemos ter timidez no Senado. Precisamos ir para cima e para frente. Precisamos ter voz contundente no Senado.

 

Por Maria Cristina Kunzler/O Presente

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