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Política Pré-candidato a deputado estadual

“O pecado do PT foi colocar o pobre no orçamento”, afirma Paulo Porto

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Pré-candidato a deputado estadual pelo PT, cascavelense Paulo Porto: “O PT fará muito mais votos do que em 2018. A federação, pois agora é PT, PCdoB e PV, calcula sete a oito candidaturas” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Pré-candidato a deputado estadual de Cascavel avalia que 2022 marcará o momento em que o partido conseguirá se reerguer após o resultado do pleito de 2018

 

Integrante do grupo de esquerda, Paulo Porto (PT) não tem medo e nem receio em trazer à tona temas considerados delicados para o Oeste do Paraná, como a questão indígena e pautas ambientais, nem sempre vistas com bons olhos pelo setor do agronegócio.

E por querer debater as questões regionais, considerando ainda o momento político do cenário nacional, é que o petista decidiu colocar seu nome à disposição como pré-candidato a deputado estadual.

Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Paulo Porto foi vereador de Cascavel por dois mandatos. Em 2020, foi candidato a prefeito e, desta vez, está de olho em uma vaga na Assembleia Legislativa.

Em visita ao Jornal O Presente, ele falou do atual momento político e avalia que em 2022 o PT conseguirá se reerguer após o resultado da eleição de 2018. Confira.

 

O Presente (OP): O senhor foi vereador de Cascavel e candidato a prefeito na última eleição. Por que desta vez optou em ser pré-candidato a deputado estadual?

Paulo Porto (PP): Essa pergunta tem duas respostas que se complementam. Primeiro, pela minha trajetória e pelo meu trabalho no espaço institucional de Cascavel, onde fui secretário municipal de 2005 a 2008 na gestão do ex-prefeito Lísias Tomé, e me sagro por dois mandatos como vereador, de 2012 a 2020. Em 2020 saio como candidato a prefeito, terminando com 12 mil votos em uma disputa com oito candidatos, sendo que fiquei em terceiro lugar. Esse percurso e essa luta institucional me credenciam para postular a pré-candidatura pelo PT a deputado estadual do Paraná. E também porque sempre militei, sempre estive em partido e sempre entendi que a política é a grande perspectiva de melhorar a vida das pessoas. Esse é um motivo. O segundo é o cenário nacional, pois entendo que está muito complicado, triste e sombrio para o Brasil hoje. Eu não tenho dúvida que não estamos em uma polarização esquerda e direita, mas em uma polarização barbárie e civilização. Neste momento preciso estar ao lado da civilização e, neste caso, hoje, estar ao lado da civilização é estar contra e questionando o governo Jair Bolsonaro (PL), que para mim não representa política, mas arminha, violência, discurso do ódio. Ele não tem um projeto nacional. O quadro nacional e essa urgência de debater o Brasil, o Paraná, Cascavel e um governo que acuda quem necessita de governo, enquanto políticas públicas, e esse percurso que já vinha acumulando nesses anos todos do Paraná, de Cascavel, acabou de maneira natural desaguando na pré-candidatura, que venho construindo no Oeste.

  

OP: Na nossa região o presidente Bolsonaro tem muita força. Há espaço político ou o senhor tem encontrado dificuldade?

PP: Acho que tem muito espaço, desde que a gente consiga dialogar com as pessoas. Precisamos ter claro que todas as pesquisas do Paraná, as mais confiáveis, inclusive do próprio campo conservador da direita, apontam Lula (PT) vencendo no Paraná e o (pré-candidato a governador) Requião (PT) com alguma margem de vantagem. Vamos ter dois fenômenos eleitorais no Estado para pontuar essa candidatura, que é Requião, três vezes governador e alguém que não precisa de apresentações aos paranaenses, e o ex-presidente Lula. Creio que isso vai facilitar muito o debate. Até porque comparar o que era o Paraná de Requião com o do Ratinho (Junior, PSD) é muito fácil. É comparar trigo com joio. Comparar o que é o governo Bolsonaro para a população mais carente, mais vulnerável, e o que foi o governo Lula também é muito fácil. Essas duas comparações vão permitir olhar para a população e conseguir dialogar essa perspectiva de mudança política em 2022. E, claro, isso fortalece uma pré-candidatura ligada a essas duas pessoas. Essa eleição não será definida como em 2018 pela pauta moral. Essa eleição será pela pauta econômica, porque não tem nada mais didático hoje do que fazer compras no supermercado e saber quanto vale seu salário. As pessoas trabalham e passam fome. Isso nunca aconteceu. Tem gente com carteira assinada, que ganha um salário-mínimo, e não come. Isso é uma novidade trágica por trás deste governo. Essa tragédia social vai pautar as eleições. A partir deste debate, trazendo a rotina destes trabalhadores, conversando com estas pessoas e apontando este mundo real, não tenho dúvida que dialogando deixa claro que é necessário mudar.

  

OP: Após o resultado de 2018, o senhor acha que o PT consegue de reerguer na eleição de 2022?

PP: Nenhuma dúvida. Todas as pesquisas apontam isso e não só no Paraná, como no Brasil. Hoje o Lula é amplo favorito. Agora vamos ter que fazer um debate para desconstruir essa narrativa, que parte da mídia corporativa fez, em relação ao PT, com uma rede de mentiras e fake news sobre os governos petistas. Vamos ter que resgatar a herança do PT em relação às políticas públicas voltadas às pessoas mais vulneráveis socialmente. Qual foi o grande pecado do PT? Não foi ser corrupto, porque todos os governos tiveram problemas com corrupção e o PT não foi o que mais teve problemas, ao contrário. O pecado do PT foi colocar o pobre no orçamento, foi colocar as pessoas de menor renda, foi colocar as pessoas mais vulneráveis, e o rico no Imposto de Renda. Para mim este é o governo que defendemos, ou seja, querer criar uma grande nação compartilhando renda, como é no Japão, na Finlândia, no Canadá, em Portugal, na Alemanha, na Itália, na França, na Inglaterra. Os ricos têm que dividir sua renda e os pobres têm que aumentar suas rendas para que a economia possa girar. O Lula tem uma frase genial ao dizer que a solução para a economia é o pobre. Se aumentar o salário-mínimo, a renda do servidor público, a renda dos pequenos, eles gastam nas economias locais. A renda é distribuída pela macroeconomia. Agora se alimentar e acarinhar os grandes capitalistas e o capital financeiro a renda se concentra e a roda para de girar, que é o que está acontecendo hoje. Creio que precisaremos fazer este debate com a população.

 

OP: A sua atuação política é muito voltada a questões ambientais e indígenas. Na nossa região estes dois assuntos são delicados. Há aceitação para debater estes temas no Oeste?

PP: São dois tabus aqui no Oeste e, como qualquer tabu, partem de inverdades. Vamos ter que debater isso, ou quem não debater a questão da ecologia, do meio ambiente, vai fazer o debate errado. É um debate difícil aqui na região Oeste por conta desta narrativa, de certa maneira exagerada e até um pouco mentirosa do agronegócio. Vou dar um exemplo: Cascavel é tida como a Capital do Agronegócio, mas se avaliar o PIB (Produto Interno Bruto) cascavelense, o agronegócio representa 15% e o resto é setor de serviços, indústrias, polos médico e educacional. Quem gera riqueza em Cascavel é o pequeno produtor e assim é no Brasil. No PIB brasileiro de 2021, o agronegócio entra com 6%. Então como a gente fala que o agro é o motor da economia? Não é verdade. É criada uma narrativa fantasiosa para conseguir construir este tabu. O nosso papel aqui no Oeste é debater este tabu com números e dados. Na questão indígena, as pessoas falam que se demarcar as terras compromete o agronegócio. Quantos por cento do território é de terra indígena hoje? Se pegar todas as áreas demarcadas vai dar 0,6%. Se demarcar todas as terras indígenas vai dar 0,8%. Como 0,8% compromete o agronegócio do Paraná? É uma inverdade. Então temos que trabalhar com números, debater com as pessoas e ter a coragem, independente do voto, de usar este momento como pedagógico para desconstruirmos tabus. Qual o papel do agronegócio? Qual o papel da agricultura familiar? Quem gera renda e riqueza não é o agronegócio, mas o agricultor familiar. Ele tem que ser valorizado. Eu penso em fazer este debate no Oeste falando com o agricultor familiar, porque estas pessoas que geram riquezas. Aqui no Oeste nós temos duas vítimas: o pequeno agricultor de boa-fé e o indígena. O Estado tem que intervir para garantir dignidade aos dois, e não apenas a um. Diferente do Mato Grosso do Sul, onde há grilagem de terra, no Oeste não tem. Temos produtores legítimos, de boa-fé, e alguns em contradição com áreas que seriam indígenas. O Estado tem que intervir e garantir dignidade aos dois. O vilão não é o indígena e nem o pequeno agricultor.

 

OP: O PT avalia ser possível eleger quantos deputados estaduais no Paraná?

PP: Em 2018, no nosso pior momento, elegemos quatro deputados e por pouco não fizemos cinco. Não tínhamos fenômenos eleitorais capitaneando as disputas. Em 2022 estamos em outro momento e temos o nosso número 10 em campo, que é o Lula, e o número 10 no Paraná em campo, que é o Requião. Por isso, o PT fará muito mais votos do que em 2018. A federação, pois agora é PT, PCdoB e PV, calcula sete a oito candidaturas. Sete vagas com certeza. Destas sete vagas, não temos dúvida que vamos disputar com muita qualidade uma destas cadeiras, até porque o Oeste hoje só tem um representante (Professor Lemos). Então não é possível que toda a região não eleja dois representantes. Há todas as condições para isso. A federação também deve ampliar sua representação no Congresso Nacional, com cinco a seis deputados federais.

 

Por Maria Cristina Kunzler/O Presente

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