Fale com a gente

Política Entrevista ao O Presente

“Se o MDB continuar nesse caminho o maior partido do Brasil tende a ser extinto”, avalia Requião Filho

Publicado

em

Deputado estadual Requião Filho (MDB), em visita ao Jornal O Presente: “Acho que precisamos antes tentar resolver os problemas dentro de casa e corrigir os rumos. Mas dependendo de como o MDB nacional continuar tocando sua vida o partido será dissolvido. Vai desaparecer” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

O deputado estadual Requião Filho (MDB) cumpriu, na última sexta-feira (06), agenda de compromissos na região Oeste do Paraná. Em Marechal Cândido Rondon, ele visitou o Jornal O Presente e concedeu entrevista para falar sobre o momento político.

Para o parlamentar, o partido precisa se reorganizar e rever suas ações, especialmente em nível nacional, para não ser extinto futuramente. O deputado critica, por exemplo, o fato do MDB apoiar o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Para a eleição do ano que vem, Requião Filho adianta que o pleito deve promover o fortalecimento de siglas que estão organizadas diante do fim das coligações na proporcional. Confira.

 

O Presente (OP): O diretório estadual do MBD anulou a convenção que lhe elegeu presidente do MDB de Curitiba e já anunciou que devem ser realizadas novas convenções. O senhor pretende participar novamente da disputa?

Requião Filho (RF): Se houver convenção em Curitiba o meu grupo vai disputar, sim, até porque temos a maioria folgada no diretório municipal da Capital. Tenho certeza que havendo convenção e sendo limpa, nós ganhamos novamente. O MDB de Curitiba deve lançar um candidato à prefeitura, deve se organizar para fazer uma boa chapa de vereadores e essas picuinhas atrapalham esse processo.

 

OP: O senhor pretende ser o candidato a prefeito?

RF: Não, eu não sou candidato a prefeito de Curitiba. Sou secretário geral do partido e tenho dois objetivos: um é cumprir a promessa que eu fiz para os meus filhos que não teria eleição de dois em dois anos; e a outra é organizar o partido no Paraná inteiro como secretário geral para que tenhamos o maior número de candidatos possíveis. O sonho seriam 399 candidatos a prefeito no Paraná, mas vamos fazer o possível para ter representatividade na maioria dos municípios.

 

OP: O senhor já está de olho em 2022, de repente em uma eleição para o Governo do Estado?

RF: Acho que o MDB tem que ter candidato ao Governo do Estado em 2022. Fomos oposição ao governo de Beto Richa (PSDB) e somos agora no governo de Ratinho Junior (PSD). Precisamos ter um governo que leve o Paraná um pouco mais a sério, então espero que o MBD em 2022 esteja organizado e pronto para lançar um candidato com chances para o governo estadual.

 

OP: Quase um ano após a eleição de 2018, como o senhor avalia hoje a situação do MDB tanto em nível nacional como estadual?

RF: O MDB em nível nacional ainda não entendeu o que aconteceu, porque haverá no dia 06 de outubro uma convenção nacional e estão trabalhando para uma convenção de chapa única. Um MDB que apoia o governo Bolsonaro (PSL), o Movimento Democrático Brasileiro apoiando coisas tão anti-democráticas e uma política completamente avessa às bandeiras do partido. Então o MDB não entendeu ainda o que está acontecendo. Se o MDB nacional continuar nesse caminho o maior partido do Brasil tende a ser extinto.

 

OP: E em termos de Estado?

RF: Em termos de Estado o MDB também precisa entender o que está acontecendo e deve buscar compreender que existe um partido e bandeiras ideais. Não podem existir no MDB estadual projetos pessoais. Temos que organizar o partido, fazer uma leitura do momento político que teremos nas próximas eleições municipais e ter o maior número de candidatos a prefeito que defendam nossas bandeiras. Precisamos fugir da política pragmática, de entregar o MDB para quem tem chance de ganhar. Se você faz isso em um partido pode falar que o MDB tem “x” prefeitos, mas na campanha de 2022 não teremos “x” prefeitos apoiando os nossos candidatos. Eles nunca foram emedebistas, mas ganharam o partido de forma pragmática como um trampolim ou uma ferramenta para se eleger. Isso, depois, vem a prejudicar o partido. Portanto, precisamos de pessoas que tenham as mesmas ideias, os mesmos objetivos e defendam as mesmas bandeiras.

 

OP: Ano que vem teremos eleição municipal e o senhor faz parte da executiva estadual do MDB. De que forma o partido já está se organizando para o pleito de 2020?

RF: Queremos diretórios nos municípios e que eles decidam os seus candidatos dentro da autonomia municipal. Ao menos essa é a minha ideia. É preciso ter autonomia para escolher como grupo qual é o melhor caminho para o partido, desde que este caminho seja, mais uma vez, dentro dos ideais partidários e sem pragmatismo de apoiar quem vai ganhar. Devemos apoiar quem vai defender as nossas bandeiras e quem vai defender o nosso jeito de fazer política para que possamos nos fortalecer. Hoje em dia os partidos estão tão desacreditados que os eleitores votam nas pessoas, mas esquecem que o sistema político exige um partido, exige uma coligação, nas proporcionais ninguém se elege sozinho, pois tem o coeficiente eleitoral. Então precisamos entender isso e fazer com que a população também entenda. A maior distância no mundo da política hoje é o discurso que elege uma pessoa da prática depois de eleita. Se o discurso não se aproximar da prática cada vez mais as pessoas vão se distanciar da política.

 

OP: O senhor acha que o MDB pode ter dificuldade na eleição de 2020 diante da atual situação?

RF: Acho que a imagem do nacional está se desgastando cada vez mais e pode prejudicar, sim, o partido. Mas aqui no Paraná a gente faz um trabalho enorme para diferenciar o MDB do Paraná do que virou o MDB nacional. Procuramos deixar claro que nós ainda sabemos de onde viemos, quais são nossas bandeiras, as nossas raízes. Aqui é o MDB raiz, lá (nacional) é o MDB “nutella”.

 

OP: A próxima eleição terá como uma das principais novidades o fim da coligação na proporcional. Quais resultados o senhor acredita que isso deve causar no meio político?

RF: Acho que diminui o número de partidos, pois acaba a negociação e a venda de tempo de televisão e rádio e de candidatos, pois existia um mercado de candidatos. Formava-se uma chapa de candidatos na proporcional para depois vendê-la. Os partidos que estiverem mais bem organizados e tiverem feito o dever de casa vão conseguir se fortalecer.

 

OP: Diante do seu descontentamento com o MDB, o senhor planeja sair do partido?

RF: Eu sou muito teimoso. Acho que precisamos antes tentar resolver os problemas dentro de casa e corrigir os rumos. Mas acho que dependendo de como o MDB nacional continuar tocando sua vida o partido será dissolvido. Vai desaparecer. Se continuar a se vender desta forma é possível que acabe. E se acabar precisaremos buscar outra casa. Porém, antes disso tentaremos organizar o nosso partido e rever o MDB no Paraná com a esperança de que em algum dia o MDB nacional acorde e veja o que acontecendo.

 

OP: O senhor acompanha a situação do MDB de Marechal Cândido Rondon que, não diferente de outras realidades, vive uma divisão interna. Está havendo um diálogo com as lideranças locais para resolver essa situação?

RF: Acho que a sigla precisa se entender e buscar o melhor caminho para o partido, entender qual é o anseio das pessoas que aqui vivem, o que as pessoas esperam do partido. Eu desejo que o MDB escolha o caminho em que possamos defender melhor nossas bandeiras. O partido precisa se organizar. De nada adianta mudar a presidência se “fulano” ou “ciclano” não representar a base, porque senão tem a sigla, mas não tem apoio da militância.

 

O Presente

Copyright © 2017 O Presente