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Política Entrevista

Sem Osmar, candidato do PDT garante palanque para Ciro no Paraná

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Ex-deputado admite que concorre ao Senado de última hora por estratégia da oposição (Foto: Arquivo/OP)

Transformado na última hora em candidato ao Senado após uma reviravolta causada pela desistência do ex-senador Osmar Dias (PDT) da disputa para o governo do Estado, o ex-deputado federal constituinte Nelton Friedrich (PDT), admite que sua principal missão é dar “palanque” para o presidenciável Ciro Gomes (PDT) no Paraná. Nelton confirma que usará parte do tempo de TV que tem disponível no programa eleitoral para trazer Ciro aos paranaenses.

Sem um nome viável para a disputa pelo governo após a desistência de Osmar, o PDT acabou optando por apoiar o deputado federal João Arruda (MDB) para o Palácio Iguaçu. Na chapa, Nelton tornou-se o segundo candidato ao Senado, ao lado do senador e candidato à reeleição, Roberto Requião (MDB) apesar de ter se preparado para a campanha a deputado federal enquanto coordenava o plano de governo de Osmar. O “cérebro” da campanha de Osmar tornou-se palanque de Ciro e “peixe-piloto” de Requião, que tenta ficar com o segundo voto de quem escolher o emedebista.
Nelton foi deputado pela primeira vez em 1978, pelo MDB, durante o governo militar. Foi reeleito em 1982 e deixou a Câmara para ocupar o cargo de secretário do Interior no governo José Richa (1983-1986). Permaneceu no cargo até 1986.

Jurista sensível ao movimento dos camponeses sem-terra e à reforma agrária, vinculado à Igreja Católica, reelegeu-se em novembro de 1986, como deputado federal constituinte com base eleitoral no Oeste do Estado. Discordando da política do PMDB no governo federal de José Sarney, em junho de 1988 participou da fundação do PSDB. Em 1989, filiou-se PDT de Leonel Brizola, onde está até hoje. Nos governos Lula e Dilma, entre 2003 e 2017 foi diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional. Em 2006 tentou eleição para deputado federal, mas não se elegeu.

 

O senhor pretendia disputar uma vaga na Câmara Federal e coordenava a pré-campanha de Osmar Dias. Com a desistência dele, se colocou como candidato ao governo, o que seria coerente, por estar envolvido no plano de governo, mas acabou saindo ao Senado. Não acha que o PDT entregou a eleição para Ratinho Junior?

Nelton Friedrich: Tivemos esse momento inusitado. Estava indo para o jogo, na beira da entrada do estádio e o time não entra em campo dando o WO. Recuperamos nossas forças, fomos para uma convenção e mostramos que podíamos continuar jogando. Não precisava cair em uma situação de perplexidade inoperante. Acabou galvanizando a ideia de que o PDT fosse com a própria chapa, com seu próprio projeto partidário e eleitoral. Nós nos colocamos à disposição, não foi uma reivindicação (de ser candidato ao governo). A Direção Nacional do PDT, com uma série de lideranças, advogava isso: vamos com candidatura própria. Marcamos posição de um lado, mas também vamos contribuir para um debate e ao mesmo tempo trazer Ciro para a campanha no Paraná. E trazer o que construímos com a pré-candidatura de Osmar, um projeto de Estado. Nós trabalhamos muito, e não num ‘plano de governo Osmar Dias’. Nós tivemos coragem de construir o ineditismo de construir um projeto de Estado.  

 

Que espaço terá esse projeto na candidatura de João Arruda?

Nelton: Acabamos tendo a boa receptividade de os “12 eixos” serem agasalhados e recolhidos pela candidatura do MDB. Mesmo com a candidatura própria posta, praticamente vingando, houve uma análise importante junto com os candidatos a deputado estadual e federal e de que também nós poderíamos ajudar a construir uma segunda via no Paraná. Só que aí teríamos que sacrificar a candidatura própria e fazer uma aliança.

 

Perfil
“Somos uma candidatura nova com experiência”

A aliança está mais relacionada aos candidatos a deputados da chapa que pressionaram por uma chapa maior, que permitisse mais votos para a eleição proporcional?

Nelton Friedrich: Sim. E o convencimento que se deu do momento que vive o Paraná e o Brasil para ter um palanque mais presente de Ciro Gomes, inclusive com a coligação. Mas ao mesmo tempo ter a possibilidade de agasalhar muitas das ideias que estão na proposta de projeto de Estado. E a terceira questão era ter uma candidatura que viesse contrapor a duas candidaturas que tem o mesmo ninho (Ratinho Junior e Cida Borghetti). São duas candidaturas que não são só semelhantes, mas que são consanguíneos, do mesmo corpo de Beto Richa (PSDB). Isso fez com que a gente pudesse abrir de uma candidatura própria, mas que tivesse uma costura, com esta possibilidade, de uma participação na candidatura para o Senado em uma coligação que nós colocamos as condições. E estamos participando do projeto de Paraná de governador de Arruda, e de todo projeto de cogestão da campanha. Houve uma celebração de coesão de forças, com MDB, PCdoB, Solidariedade e PDT, para contrapor as duas oficiais.

 

O eleitor será informado de que sua candidatura surgiu para trazer a proposta de Ciro Gomes à presidência ao Paraná? Ou seja, não era um projeto pessoal seu. Como o senhor vai comunicar isso ao eleitorado?

Nelton: Estamos cumprindo uma missão partidária. Não é nem um projeto pessoal, que aliás é importante que projetos pessoais não venham predominar, porque são muito efêmeros. A gente tem não só os espaços dos partidos e dos movimentos e a mídia social, mas ao mesmo tempo vamos ter esses instrumentos consagrados, que é rádio, televisão, as inserções. Sabendo que o eleitor do Paraná não tem qualquer ideia de decisão ou informação. É assustador nós sabermos que 40% do eleitorado paranaense não tem qualquer ideia do que vai fazer.

 

O senhor tem um projeto de Senado? A candidatura visa a possibilidade real de chegar ao Senado ou é admitida como palanque de Ciro Gomes no Paraná?

Nelton: É também um palanque, é também um projeto de Paraná. Mas não tenho dúvida de que é viabilidade. Quando quase 50% do eleitorado não tem decisão o campo é fértil. E nós (eu) estamos há 16 anos sem participar de eleição, portanto não temos nada a nos condenar diante de tudo o que está acontecendo em Brasília. Ao mesmo tempo, toda nossa vida não tem uma mácula. Somos uma candidatura nova com experiência – o que mais precisamos neste momento. O que faz um senador com esse porte? Primeiro tem que ser um senador que tenha acima de tudo a bandeira e a vida e a prática e a coerência de que é preciso restabelecer a moralidade pública. É preciso reconstituir o sentido de servir. Brasília hoje é a capital mundial do ‘servir-se’, virou uma grande banca de negócios.

 

O PDT acredita na sua candidatura? O senhor terá acesso a quanto do fundo partidário e eleitoral?

Nelton: Confesso que ainda não sei. A gente vai ter que fazer uma campanha franciscana. Deturbaram tanto São Francisco que o “dando-se que se recebe” virou prostituição. Mas então, campanha franciscana com a história na mão e a esperança na frente. Logo seremos informados oficialmente de quanto serão os recursos. Por outro lado, a gente tem que compreender que se dinheiro só se ganhasse a eleição era melhora a gente eleger os bancos e os banqueiros e o mercado para decidir tudo no Brasil. Não precisava ter eleição.

 

DESISTÊNCIA
“Fator familiar influenciou Osmar”

Alvaro Dias nunca apoiou Osmar Dias. Desde o início já se sabia que não apoiaria. Portanto, não pode ser o motivo da desistência de Osmar. Qual a visão que o senhor tem como representante do PDT, de uma pessoa próxima a Osmar, sobre o motivo da desistência?

Nelton Friedrich: Uma somatória de questões. Ele dizia seguidamente que era insuportável essa situação de negócios, de loteamento de cargos e funções e que isso poderia inviabilizar um projeto de Estado. Por outro lado, a gente sabe que essa política ainda temos e que teremos que conviver por um certo tempo depurando. E, claro, que há outros fatores. Se o fator familiar influenciou é claro que o Paraná é que perde, perde Osmar e perde o Alvaro. Se todos somos perdedores é uma página que deve ser virada.

 

O PDT e o senhor se sentem traídos por ele, por ele ter esperando para desistir tão tarde, na véspera da eleição, entregando o resultado para os adversários?

Nelton: É um fato complicado, muito em cima da hora da convenção. Decepcionado, sim. Mas também condenação peremptória (não), porque os verdadeiros fatores vão aflorar. É preciso a gente compreender que Osmar estava com a candidatura absolutamente viável sob todos os aspectos. É lamentável de um lado, mas de outro a questão que se coloca é clara. Nós não aceitamos ir para casa ou cruzar os braços. Estamos dando a volta por cima.

 

O senhor falou de “loteamento de cargos”, que era uma crítica de Osmar, mas por outro lado o senhor faz parte de um grupo político, ocupou cargo numa empresa estatal (Itaipu). Como o senhor vê o presidencialismo de coalizão como candidato ao Senado, com participação de partidos e aliados no governo, na administração do Estado?

Nelton: Acho que estamos sepultando o presidencialismo de coalizão. Não é apenas um loteamento. Acabou-se fazendo entregas de aparelhos de Estado para determinada agremiação. Isso impede uma ação estratégica, programática, porque viram feudos dentro de um governo.

 

Qual seria a alternativa para que o presidente consiga governar não tendo maioria no Congresso?

Nelton: A primeira grande questão é o valor e o conteúdo do que se propõe. É mobilizar em torno de valores de conceitos, de medidas estruturantes. A segunda é trazer a sociedade mais próxima. Ajudei a colocar na Constituição a Democracia Direta. A convivência entre a democracia representativa e a democracia direta é uma interdependência, imprescindível. E digo mais: nosso caminho é para democracia de alta intensidade, ensinamento clássico de Boaventura dos Santos, o português. Pode até ter com limites esse processo de participação, mas com conteúdo, conhecimento, a capacidade e um currículo recomendável. Diferente do que está se fazendo. Um ministério ou secretaria é de um partido só. Esses feudos são enganosos, estão enganando o eleitor, porque é um projeto eleitoreiro e não um projeto de país. Serei um senador do projeto de nação. Tem projeto de banqueiros, das multinacionais, dos mais diversos interesses. Para onde queremos ir daqui 30 ou 40 anos. Nós fizemos isso na Itaipu, que é microscópica a experiência. Pensamos a Itaipu 40 anos à frente e deu no que deu. Veja as coisas extraordinárias que aconteceram em uma década. Eu serei um senador da agenda de interesses comuns do Paraná. A bancada do Paraná deve uma ação muito mais articulada. As demandas paranaenses serão colocadas acima das posições partidárias.

 

PREVIDÊNCIA
“Reforma não é para valer”

Sobre as reformas, como o senhor vê a reforma da previdência que foi posta?

Nelton Friedrich: Uma reforma obtusa, que manteve uma série de privilégios. Não é uma reforma da previdência para valer. Precisa um grande debate nacional e se necessário um plebiscito. Não pode ser por um governo que não tem nenhuma legitimidade, que vai comprando votos para se manter no poder e para conseguir maiorias. Eu fui um dos consultores da constituinte e não consigo entender como se aprova um congelamento de investimentos em Saúde, Educação e Segurança por 20 anos. Além de ser uma estupidez com a sociedade brasileira é um atestado do quanto se está investindo no atraso. Uma reforma da previdência tem que ser simultânea ao reaquecimento da economia, que gere emprego e renda, e que aumente a própria arrecadação.

 

O senhor tem uma ligação com o PT histórico, trabalhou com Jorge Samek, é sogro de André Passos, filho do falecido Edésio Passos. Como o senhor vê a prisão do ex-presidente Lula?

Nelton: Como constituinte e como jurista, quero dizer com toda certeza, porque ajudei a colocar na Constituição, que ninguém pode ser condenado transitar em julgado. Há um equívoco aí. Estamos operando em um equívoco e em um risco. Se há culpa, a culpa tem que ser investigada até o final. Tem que esgotar o que constitucionalmente diz. Não adianta ficar tergiversando. A Constituição é muito clara: em dúbio, pró-réu. Não é apenas um conceito jurídico. E aí vou trazer um assunto que como senador farei: a grande questão que está na Justiça Brasileira é esse emaranhado de processos e procedimentos. Isso tem que acabar. Tem que reduzir à celeridade. O Supremo Tribunal, como o nome está dizendo, é supremo. Daqui a pouco até briga entre galinhas e vizinhos vai para o Supremo. Estamos invertendo o processo. Engordamos os processos, com labirintos jurídicos, enquanto deveríamos encurtar os meios em temos de revolução tecnológica. Princípios constitucionais, são princípios constitucionais. Em reforma do Judiciário, o primeiro que tinha que fazer uma reforma judiciária no Brasil seria o próprio Poder Judiciário. Quem devia fazer mais indiciações de reformas no Judiciário é a própria Lava Jato. A Lava Jato está devendo para o Brasil quais são as reformas profundas que temos que fazer no Poder Judiciário.

 

Com Bem Paraná

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