Fale com a gente

Política Contas reprovadas

“Todos sabem que queriam me deixar inelegível”, afirma Jones Heiden

Publicado

em

Prefeito de Entre Rios do Oeste, Jones Heiden (PSD): “Não era nossa intenção chegar ao final do mandato e ter problema com vereadores, inclusive na reprovação de contas, querendo prejudicar o Jones como pessoa física e por atos que não são verdadeiros” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Sair da iniciativa privada e encarar o desafio de ser prefeito, precisando lidar com toda a mudança na forma de fazer gestão no Poder Público, a burocracia por trás de cada ato, além da necessidade de atender aos interesses políticos. Este pode ser o sonho de muitos, mas não é para todos.

Em 2012, o empresário e então vereador Jones Heiden (PSD) foi eleito para comandar Entre Rios do Oeste. Em 2016, foi o primeiro prefeito reeleito do município. A seis meses de concluir a gestão, ele está na reta final de um mandato que se encaminhou de maneira diferente que imaginou.

Hoje o prefeito tem minoria no Poder Legislativo e, mais recentemente, a prestação de contas de 2013 foi reprovada. Para o gestor, houve interesse em deixá-lo inelegível para que não pudesse retornar à política. Heiden diz que vai recorrer até as últimas instâncias para tentar reverter a votação na Câmara de Vereadores.

Ao O Presente, o mandatário fez uma avaliação da sua vida pública e garantiu que, mesmo com diversas dificuldades, terá motivação para ser o maior cabo eleitoral do grupo de situação. Confira.

 

O Presente (OP): O seu mandato está sendo marcado nesta reta final por uma reviravolta na composição da Câmara de Vereadores, que passou de maioria para minoria, e mais recentemente com a reprovação das contas de 2013. Como o senhor avalia este cenário?

Jones Heiden (JH): Entrei na vida pública em 2008, quando coloquei meu nome à disposição e fui eleito vereador. Quando estava como vereador sentia um desconforto muito grande. Sempre dizia para as pessoas mais próximas que eu teria a vida muito curta na política. Seria um mandato só devido ao setor público ser muito diferente do setor privado. Quis o destino criar um grupo e mudar isso. Essa foi a gasolina que precisava para poder contribuir e tentar fazer algo diferente. Fui incentivado em 2012 e convencido a tentar algo diferente, até porque minha campanha foi pautada no sentido de administrar o município mais no sentido profissional, empresarial, do que político. Fomos eleitos com esse pensamento e conseguimos fazer certas mudanças, tanto que fui o primeiro prefeito reeleito e com uma boa margem, a maior diferença em uma eleição em Entre Rios. Isso mostra que estávamos corretos no que estávamos fazendo. Hoje a aprovação do governo é alta e a maioria da população acha que a forma como administramos o município é correta. Mas a forma como fizemos a administração pública não agradou e tivemos muitos problemas na questão política, principalmente na Câmara. Nosso grupo elegeu sete vereadores e hoje temos quatro fiéis à administração. Perdemos a maioria por esse tipo de pensamento de não concordar na forma como o município está sendo administrado. Há suas razões. Este é o lado ruim. A mudança não começa em Brasília, não começa em Curitiba, mas começa no município, em casa. Isso tentamos aplicar aqui.

 

OP: Em algum momento o senhor se arrepende de ter entrado na vida pública?

JH: Se olhar esse lado, posso dizer que sim. Até porque não era nossa intenção chegar ao final do mandato e ter problema com vereadores, inclusive na reprovação de contas, querendo prejudicar o Jones como pessoa física e por atos que não são verdadeiros. Eu não tive outra escolha. Inclusive pessoas que hoje votaram a favor da reprovação das contas, na época, exerciam secretarias, assinavam notas e empenhos. Quando assumi a administração em 2013, se não fizesse o que fiz, o nosso posto de saúde estaria sem atendimento médico das 17h30 até as 08 horas do dia seguinte. Ninguém poderia ficar doente e depender da saúde pública, pois não teria condição de ser atendido. Por isso tivemos que fazer (a contratação de médica terceirizada) e não me arrependo de ter feito. Se fosse hoje faria de novo. O que não podemos é deixar a comunidade sem atendimento médico. Se olhar para este lado, me arrependo. Mas tem o outro lado e o bem que fizemos para o município, o desenvolvimento de Entre Rios do Oeste, as mudanças que aconteceram. Hoje somos um município reconhecido não só microrregionalmente, mas no Paraná. Inclusive por duas vezes fui escolhido o melhor prefeito empreendedor devido a alguns projetos. São títulos que engrandecem. Portanto, se olharmos o que foi feito de bom e o que aconteceu de ruim, o bem tem que prevalecer. Prefiro pensar nos atos que fizemos, que foram todos voltados para o lado da honestidade, transparência e do coletivo.

 

OP: Estamos a poucos meses do fim da sua gestão. O senhor sairá da prefeitura com sentimento de decepção ou mais de realização?

JH: No final das contas, se pegar o bem e o mal, o bem prevalece. Prefiro dizer, e a minha consciência diz, que apesar de tudo e com dificuldades e reprovação de contas, saio fortalecido pelo bem que fiz para a comunidade. Fico satisfeito pelos atos e pelas ações que desenvolvemos nos anos.

 

OP: O senhor recorreu ou pretende recorrer da votação da Câmara pela reprovação das contas de 2013?

JH: O processo está andando. Só não temos ainda uma definição maior por conta da pandemia, pois é difícil ter condições de marcar horário, por exemplo. Mas tudo isso está acontecendo dentro da Justiça. O advogado está vendo isso com muito cuidado e já fomos a Curitiba tratar deste assunto. Existem muitas irregularidades dentro do processo. Houve vereadores que não olharam a questão da legalidade, das leis, foram mais no impulso para prejudicar o Jones. O processo, da forma como foi feito, também está errado. Não ouviram o prefeito, não ouviram o médico, não ouviram ninguém. Não tivemos o direito à defesa.

 

Prefeito Jones Heiden: “Fazer o sucessor será uma alegria, pois mostra que estávamos no caminho certo e seria selar essa administração com chave de ouro” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

OP: Há pessoas da oposição que alegam que o senhor que não se defendeu. Houve oportunidade de ampla defesa ou o senhor acha que ela foi cerceada?

JH: Quando veio do Tribunal de Contas, o processo foi encaminhado direto para a Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização. A comissão é composta por três vereadores e avaliou entre ela. O relatório subiu para a mesa já definido, inclusive a punição ao prefeito, sem o presidente (da Câmara) ter esse conhecimento. Foi feito algo com interesse próprio dos membros para prejudicar o prefeito. Desde o início foi feita de forma errada. Estamos entrando na Justiça para mostrar os erros. Quando apontamos os erros a Câmara recuou um pouco para dar prazo maior, mas em momento algum eu, prefeito, fui chamado. Como vou à Câmara sem ser convocado? Eu deveria ter sido notificado e convocado. Não só eu, prefeito, como o secretário de Saúde, o próprio médico, o controle interno. Acho que todas as partes deveriam ter sido chamadas. Porém, ninguém foi. Isso mostra irregularidade, pois fomos acusados e julgados sem ter direito à resposta.

 

OP: O senhor tem esperança de que será possível reverter na Justiça a decisão da Câmara?

JH: Com certeza, pois o ato foi irregular. Essa é uma situação em que vamos brigar até as últimas instâncias. Como disse, não houve irregularidade. O Tribunal de Contas simplesmente mandou o relatório e apontou o que houve, que a lei diz uma coisa e o prefeito fez outra. Só que os vereadores sabem o que acontece no município, porque eles são fiscalizadores. Não olharam se houve roubo, desvio de dinheiro, irregularidades. Só olharam o lado pessoal. O medo deles é que eu fique quatro anos fora e retorne. Esse grupo não quer o meu retorno, pois sabe que a minha forma de administrar é totalmente diferente. E tendo meus direitos cassados essas pessoas sabem que não serei uma pedra no sapato daqui quatro anos. Isso é nítido e todos sabem que queriam me deixar inelegível.

 

OP: O senhor acha então que foi uma jogada política?

JH: Foi, com certeza. Inclusive um vereador da oposição disse, em local público, que o prefeito não estava errado, não fez irregularidades, mas votou a favor da reprovação das contas porque é oposição. Acho que o vereador, sendo oposição, não pode jamais pensar e falar isso. Está lá para votar o certo e o correto. É a mesma coisa que colocar uma pessoa na cadeia sabendo que ela não cometeu o crime, mas para prejudicá-la. Usaram a mesma linha de raciocínio.

 

OP: Após duas gestões à frente do Poder Executivo e saindo com certo desgaste devido a essas circunstâncias políticas, o senhor sente motivação para participar ativamente da campanha?

JH: Eu vou ser o maior cabo eleitoral. Hoje temos como pré-candidato a prefeito o Ari (Maldaner, PSD, vice-prefeito) e para vice temos quatro a cinco nomes. Não sei se o Ari será o escolhido, mas é hoje o preferido dentro do nosso grupo. Assim que os nomes forem escolhidos serei o maior cabo eleitoral do nosso candidato. Pode ter certeza. Fazer o sucessor será uma alegria, pois mostra que estávamos no caminho certo e seria selar essa administração com chave de ouro. Fazer oito anos, fazer as mudanças necessárias, administrar com muita transparência e responsabilidade, e fazendo o sucessor mostra que estamos no caminho certo.

 

OP: Até quando o senhor acha que seria ideal haver a definição do pré-candidato a prefeito e a vice?

JH: Ficaria na torcida que a eleição fosse em outubro, na data definida, até para acabar com essa especulação e mal-estar que existe. Se a eleição fosse em outubro seria melhor para já fazermos a transição, preparar o final do nosso mandato, pois hoje não sabemos o que vai acontecer.

 

OP: Como está o diálogo hoje entre Executivo e Legislativo?

JH: Existe diálogo com quatro vereadores. Cinco vereadores votaram contra o prefeito em um projeto em que não houve crime ou irregularidades. Três votaram a favor do prefeito e o presidente só vota em caso de empate. Já passamos por alguns problemas tendo a minoria, como a demora na aprovação de projetos. Projetos que são emergenciais, ainda mais agora na questão de saúde, não estão querendo aprovar com sessões extraordinárias. O clima realmente ficou muito ruim. Querem medir forças mostrando que têm mais poder. Não estamos aqui para medir poder, até porque não sou mais candidato a nada. Hoje meu poder é fazer o bem para o munícipe. Hoje o clima está ruim e voltar (ao diálogo) é difícil, porque mancharam o meu nome.

 

OP: O senhor foi uma das primeiras lideranças da região eleitas pelo PSD, em 2012, e hoje o partido cresceu significativamente e conta com outros prefeitos filiados. Como projeta a sigla após a eleição de 2020?

JH: Sendo um dos criadores do PSD local, não concordo muito com o PSD nacional. A ideologia não bate com a minha. No entanto, a ideologia do PSD no Estado está dentro daquilo que a gente pensa. Temos um governador (Ratinho Junior) que infelizmente não consegue fazer mais por conta da pandemia, mas isso é um problema mundial. O coronavírus limitou demais o governo, mas vejo nele um grande político e com grande futuro. As lideranças que estão no PSD são realmente diferentes. Em Entre Rios do Oeste buscamos pessoas que pensam no coletivo e no bem-estar da comunidade, e não apenas para meia dúzia de pessoas. Se o PSD no Brasil se espelhar no PSD do Paraná podemos futuramente ter um presidente, por que não? Sou muito fiel ao grupo do PSD local e estadual. Fui muito bem recebido e estou sendo muito bem atendido pelo deputado estadual Hussein Bakri (PSD) e pelo Sandro Alex (PSD), que é secretário estadual de Infraestrutura e Logística e deputado federal licenciado. Ele está olhando não apenas para Entre Rios do Oeste, mas toda a região. Vamos receber recursos que o município nunca recebeu. Estamos pleiteando há mais de 15 anos um trevo (na fábrica de rações da Copagril), sendo que já está indo para licitação. É um investimento por meio de recursos do Estado, emenda do deputado Hussein e pequena contrapartida do município. É um trevo que vai resolver problemas e salvar vidas. Em resumo, o PSD do Estado pode ser um diferencial e mostrar uma outra cara.

 

O Presente

 

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente