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Advogada rondonense lança livro sobre advocacia sistêmica

“Constelações familiares na advocacia sistêmica: uma prática humanizada” é a primeira obra literária no Brasil a abordar pontos específicos da advocacia sistêmica, que vem ganhando espaço há cerca de um ano

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Foto: Arquivo Pessoal

Com 21 anos de atividade na área da advocacia, a rondonense Bianca Pizzatto Carvalho lança sua primeira obra literária voltada para uma área que ganhou nome há cerca de quatro anos, entretanto, vem crescendo e conquistando profissionais há apenas um ano: a advocacia sistêmica.

O livro “Constelações familiares na advocacia sistêmica: uma prática humanizada” é uma construção de dois anos da profissional que, no início, não almejava publicar uma obra literária. “Quando comecei com a atividade de advocacia sentia uma grande dificuldade com relação à solução de conflito. Por mais que a lei atendesse juridicamente a necessidade dos clientes, parecia que algo ainda ficava desconfortável, principalmente na área de família, já que a maioria dos conflitos nesta área tem origem emocional, algo mais íntimo e interno”, explica.

Desde 2004, Bianca passou a estudar vários ramos que possibilitassem um atendimento mais humanizado na área da advocacia. Psicoterapia, coaching e programação neurolinguística (PNL) foram alguns dos estudos no qual a advogada se dedicou, além de realizar leituras como citações jurídicas na bíblia e psicologia jurídica. “Conforme eu ia trabalhando no escritório e usando essas ferramentas que eu aprendia nos cursos e formações, passei a escrever, como se fosse uma forma de eu fazer análises pessoais. Quando eu voltava dos cursos também repassava as anotações com a minha linguagem, com meu entendimento daquilo. Inicialmente tinha a intenção de ter um arquivo pessoal, para ver o que funcionava ou não, realizar alguns testes”, diz.

Durante os 14 anos em que a advogada rondonense passou realizando cursos, formações e treinamentos, ela discorreu algumas ideias e opiniões próprias com professores e alguns deles sugeriram que ela colocasse essas ideias e pensamentos no papel. “Justamente porque o conhecimento precisa caminhar”, menciona.

A partir dessa iniciativa, Bianca começou a conversar com alguns profissionais que já haviam realizado publicações relacionadas ao tema e, mais recentemente, com o apoio de duas colegas de São Paulo viabilizou a publicação de seu livro. “A Marcella Santos e a Fabiana Quezada, por estarem no centro de São Paulo, onde as coisas acontecem, com muitas possibilidades, me deram muita força e também estrutura, porque nunca imaginei que escrever um livro seria tão complexo. Não tinha o know-how e com a ajuda delas tive acesso a toda essa estrutura”, explica.

Em cerca de 90 dias, Bianca passou a construir o livro a partir de suas anotações de dois anos, de forma a desenvolver pensamentos estruturados e com continuidade. “Tive a felicidade de conhecer pessoas que me deram esse apoio, que me indicaram editora e assim aconteceu”, comenta. Mesmo tendo enfrentado muitas críticas quando iniciou a prática da advocacia sistêmica, hoje o resultado do trabalho da profissional é visto por sua obra ser a primeira no Brasil a tratar especificamente da advocacia sistêmica. “Alguns livros que citam o direito sistêmico abordam que o direito sistêmico pode ser usado por juízes, advogados, promotores, oficiais de Justiça, mas não falam em advocacia sistêmica especificamente”, explica.

 

União de Profissões

Bianca conta que quando começou a atuar na advocacia humanizada, pouco se falava sobre advocacia e direito sistêmico, bem como constelação no Brasil. “Eu usava muito meu conhecimento do Cursilho da Igreja Católica, movimento do qual fui voluntária por muitos anos, para praticar minha atividade. Dentro desse movimento passaram pela minha vida muitos mensageiros, padres, filósofos com os quais dialoguei sobre transcendência, expansão de consciência e isso tudo foi agregando valor a minha atividade profissional e fui usando tudo isso no atendimento, mas ainda de forma muito rudimentar”, relata.

Depois disso, a formação em psicoterapia foi responsável por auxiliar a advogada a entender ainda mais a mente humana, entretanto, foi quando Bianca conheceu as constelações que se aprofundou ainda mais neste novo momento da advocacia. “Pensei até mesmo em mudar de profissão. Considerava a advocacia muito pesada, difícil, então pensei em partir para as terapias, a partir das quais tenho controle sobre a minha atividade e não outro advogado combatendo comigo”, relembra.

A rondonense diz que em muitas petições e processos os profissionais não se limitavam a discutir o direito, mas passavam a desconstruir as pessoas. “Era uma postura muito litigante, cheia de julgamentos e egos, o que até certo ponto é necessário no direito, mas nem tudo é preciso”, destaca.

A advogada conta que foi em uma atividade de programação neurolinguística em um dos cursos que realizou que um professor, ao verificar seu estado como advogada e como talvez terapeuta, viu a possibilidade de Bianca integrar as duas áreas. “E assim foi surgindo o direito sistêmico e passamos a construir essa ideia. Com outros profissionais, começamos com cursos em São Paulo e hoje esse curso já está andando pelo Brasil e, como muitos advogados que fazem o curso, a grande frase é: eu achei que estava sozinho, mas encontrei a minha tribo”, relata. “Esses advogados se encontram e veem que não são só eles que sofrem com a advocacia de confl ito, de litígio, de guerra, e também pensavam que a advocacia poderia ser mais humana”, complementa.

 

Construção

Junto a outros profissionais que atuam na área do Direito e da advocacia sistêmica, Bianca salienta que hoje eles trabalham em uma cocriação para tornar a advocacia mais humana e consensual. “Quando falamos em cocriar é porque muita coisa está em fase de teste. Precisamos respeitar a hierarquia do Poder Judiciário, a lei, o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que diz que não podemos mercantilizar a atividade”, ressalta.

Ela expõe também que muitos advogados já são advogados sistêmicos, porém não sabem. “Eles são profissionais como meu pai, Ulisses Pizzatto, que muitas pessoas, casais, vinham buscá-lo para iniciar um processo e encontravam um acolhimento, um conforto, um ombro amigo e por vezes ele fez a mediação para tentar um acordo. O advogado sistêmico não olha só para a lei, ele olha para o todo”, enaltece.

Na visão da advogada, a publicação de sua obra será como um cardápio, que possibilitará aos profissionais experimentarem e sentirem o sabor da advocacia sistêmica, que pode ser aplicada em todas as áreas do Direito, não apenas na área de família – com a qual Bianca mais se identifica e tem maior demanda. “Eu coloco pensamentos meus, mas também requisitos, condições, pressupostos, cito casos práticos e ferramentas utilizadas e muitos conhecimentos que aprendi em cursos para chegar à advocacia sistêmica”, conclui.

 

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