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Marechal

Proibição de entrada livre para mulheres na balada gera polêmica

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A venda de ingressos com preços diferenciados para homens e mulheres, assim como a entrada livre (free) para mulheres na balada e demais ambientes voltados ao lazer e entretenimento, ao que tudo indica, estão com os dias contados. É que o estudante de Direito Roberto Casali Junior, da Universidade de Brasília (UnB), conseguiu uma liminar na Justiça contra a produtora de um show na Capital Federal. Embasada no argumento da igualdade de gênero do consumidor, a liminar foi expedida pela juíza de Direito substituta do Juizado Especial Cível (JEC), Caroline Santos Lima.

A decisão, que determinou ao estabelecimento a cobrança do mesmo valor do ingresso para ambos os sexos, levou a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, a publicar no último dia 03 uma orientação para bares, restaurantes e casas noturnas proibindo a cobrança diferenciada em eventos, festas e shows. Entre as alegações está de que as mulheres eventualmente seriam utilizadas de maneira pejorativa, como isca para atrair homens.

Os empresários e os estabelecimentos têm um mês para se adequar. A partir do dia 03 de agosto o consumidor poderá exigir o direito de pagar o mesmo valor cobrado às mulheres, caso ainda haja diferenciação. Os estabelecimentos estarão sujeitos à multa caso descumpram a regra. O promotor Carlos Henrique Soares Monteiro expediu nesta semana a obediência à recomendação nos seis municípios da Comarca de Marechal Rondon.

 

Polêmica em Rondon

Assim como em várias localidades país afora, o assunto também rendeu polêmica considerável em Marechal Cândido Rondon. Isso porque no município, assim como em muitos outros da região, é muito comum clubes de baile ou então casas noturnas praticarem preços diferenciados de ingressos para mulheres ou até mesmo ofertarem entrada livre para elas até certo horário ou a noite toda.

Empresários e organizadores de eventos em Marechal Rondon dizem que por se tratar de uma decisão judicial, a mesma será cumprida, contudo, questionam a eficácia da medida e se contrapõem a ela argumentando que há outras coisas mais importantes com que é preciso se preocupar. Eles se fundamentam no argumento de que a iniciativa privada deve ter liberdade para realizar os eventos, pois um eventual prejuízo caberia apenas a eles. De outra parte, afirmam que vão manter a diferenciação até a data possível e já pensam em estratégias para manter em alta a presença do público feminino nos eventos.

 

Dois anos livre

O diretor esportivo e social do Clube Corinthians de Margarida, Ubiratã Clasen (Bira), comenta que há dois anos o clube não cobra ingresso de mulheres, de modo que tal exigência que passará a vigorar em agosto será uma incógnita. “Nós não fizemos nenhum evento nos últimos 20 dias e o próximo já estava programado para ser sem cobrança de ingresso feminino, ou seja, vamos repensar toda a nossa estratégia de marketing e de planejamento de trabalho”, revela.

Bira salienta que apesar de discordar, o clube tradicional e que geralmente tem casa lotada vai cumprir a recomendação. Ele acrescenta que a experiência de entrada free foi muito positiva para o bailão da mulherada, mantendo a casa lotada. “De lá para cá todo evento é free para mulher até a meia-noite, quando a casa já está cheia. A gente vive do consumo de bebida e de atrair mais público. Antes eram consumidas 3,5 latas de bebida por pessoa, o que aumentou para cinco latas quando da criação do ‘mulher free’. A mulher quando tem esse incentivo se reúne com as amigas e vai para os bailes ou eventos do tipo”, garante.

Ele é direto ao defender que a iniciativa privada deve cuidar das suas coisas se essa é uma forma de angariar público e fundos para as empresas ou clubes. “O governo deve cuidar das outras coisas e não ficar complicando a vida do cidadão. Vamos nos colocar a par da lei para saber se tem outro tipo de informação e se há possibilidade de fazer alguma promoção ou oferecer algum tipo de estímulo”, afirma.

 

Entrada antecipada

No entendimento do proprietário do Hora Extra Café, Sérgio Marcucci, a medida coloca o homem e a mulher em pé de igualdade. “O tempo todo existe essa tendência da mulher querer se posicionar e ter igualdade. Eu acho que é interessante se a regra for exigida para todos e também não vejo que deve causar prejuízo nas empresas”, opina.

De acordo com Marcucci, o preço diferenciado e entrada free para mulheres são praticados desde que a sua empresa foi aberta, além de oferecer incentivo aos universitários pelo fato deles não terem a mesma condição financeira do que os trabalhadores em geral. “Eu acho que a mulher não vai deixar de frequentar os bares ou casas noturnas por conta de que vai ser cobrado valor normal. Esse era um chamariz para trazer as mulheres aos eventos”, expõe, emendando que lei não se contesta, se cumpre. “Nós vamos nos adequar a ela (recomendação), inclusive tínhamos diferenciação para universitária e universitário e infelizmente isso vai ter que acabar, mantendo o desconto para estudante universitário”.

Segundo o empresário, quanto mais mulheres dentro de uma casa noturna, mais ela é frequentada pelo público. “Eu cheguei a fazer drink e caipirinha grátis para mulher, inclusive open bar grátis de vodka e energético para mulher das 22 horas à meia-noite visando atrair mulheres e o público em geral. Eu fazia essas promoções para que as pessoas entrassem antecipadamente”, expõe.

 

Visão empresarial

“Quando você cobra diferenciado seria discriminando a mulher por um lado, nessa parte seria justo pela parte social. Agora na parte empresarial e visando o negócio não é uma questão de querer beneficiar a mulher, mas quem é dono de uma empresa que trabalha na balada visa o consumo. Onde tem mulher se torna um atrativo para os homens”, declara o sócio-proprietário da Hookah Lounge Beer, Peterson Koglin Bastos.

Ele menciona que as mulheres universitárias, por exemplo, geralmente têm renda menor e têm custo de vida mais elevado do que os homens, pois se produzem mais e investem mais em roupas. “O valor diferenciado ou entrada free acaba sendo um atrativo para elas virem sempre. Se a mulher pagar meia entrada ou free pode ir mais dias ou mais vezes em um mês. Quando você faz uma festa que não tem cobrança para mulher até certa hora da noite ou promoção é certo que vêm muitas mulheres, o que chama muitos homens e o público melhora muito. Ficou pior para o lado empresarial”, critica.

O empresário garante que a empresa aplicará a recomendação, até mesmo para evitar denúncias, mas revela que pretende criar alguma promoção para que a frequência feminina permaneça boa. “Para as mulheres o atrativo é o preço, enquanto para os homens as mulheres são o atrativo. Pensamos em fazer uma promoção para as mulheres dentro da noite para compensar a entrada que elas vão pagar igual aos homens. Elas pagariam, mas a gente daria uma bonificação ou algo visando estornar o valor da entrada, como desconto em produtos, consumação ou fumar o narguilé. Esta é uma solução que a gente pensou para compensar”, adianta.

 

Desconto para incentivar

O administrador de eventos do Berlin Pub, Maciel Fernando Huff, diz que algumas empresas se utilizam da prática da mulher free para utilizar como propaganda, enquanto a casa noturna rondonense utiliza para facilitar a entrada das mulheres. “Mesmo porque a maioria das mulheres não bebe como os homens e se analisarmos algumas recebem menos do que os homens, por isso se fazia mulher free ou mulher pagando preço menor do que o homem. Na nossa visão, não era possível cobrar da mulher o mesmo valor de um homem, sendo que ela permanece menos tempo. Além disso, a mulher sai muito mais do que um homem, ela vai na balada duas vezes por semana ou no fim de semana se tiver, enquanto o homem vai menos. Então a mulher vai pagar duas entradas enquanto o homem vai pagar só uma”, pontua.

Huff informa que a recomendação será aplicada a partir do momento que o Berlin Pub receber uma notificação e quando a mesma estiver validada. “Vamos estudar outra forma, não na entrada das mulheres, mas algum desconto para incentivá-las a virem nas festas. Também faremos um evento para finalizar essa parte de entrada free e cobrança diferenciada para as mulheres. Existe a possibilidade de nós darmos o valor de consumo para as mulheres e também estamos pensando em baixar o valor de entrada tanto masculino quanto feminino. O homem paga R$ 20 ou R$ 30, então a gente pensa em baixar para R$ 15 e mulher vai pagar R$ 15 também”, revela.

Ele destaca que pode haver uma redução no público que frequenta o pub. “Nesse momento era preciso se preocupar com outras coisas que estão acontecendo no Brasil do que detalhes como este. Isso não causa prejuízo para a sociedade. Todas as propagandas de cerveja ou outdoors são com mulheres bonitas. A gente vai se adequar e tentar trabalhar de uma forma para não ter prejuízo e atrair as mulheres, entre elas estudar um preço para certo horário de entrada e outro valor para um segundo horário”, enfatiza.

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