Na coluna passada, escrevi sobre a importância de nos mantermos curiosos como Sócrates. Quanto mais experimento, mais faz sentido dizer que em nossos relacionamentos, e para construir um bom network, precisamos ouvir mais e falar com assertividade.
E nessa minha saga de observar todos os relacionamentos, conversas e discursos com curiosidade e olhar clínico, percebi que a linha entre boas perguntas e perguntas inconvenientes pode ser um tanto tênue.
E, possivelmente, assim como você, já fui alvo de muitas perguntas indelicadas (e já fiz algumas também…), afinal, meu cenário é fácil de se imaginar: mulher, casada há dez anos, 33 anos de idade. A maioria das pessoas, ao acabar de me conhecer, gosta de perguntar: “tem filhos?”.
E o bom brasileiro vive especulando sobre essas diversas questões, não é mesmo?! “Vai casar?”, “Já tem filhos?”, “AINDA não tem filhos?”, “quando vem o próximo bebê?” e assim por diante. Mas a questão aqui é fazer BOAS perguntas! Então vamos refletir sobre o que seria uma BOA pergunta.
Uma boa pergunta, ao contrário da curiosidade invasiva, parte do interesse genuíno pelo outro – e não de uma expectativa que carregamos sobre a vida alheia. Ela não busca confirmar suposições ou satisfazer um roteiro social, mas abrir espaço para o outro se expressar, com liberdade e sem pressão.
Uma boa pergunta respeita o tempo, o contexto e, principalmente, o silêncio do outro.
É claro que ninguém acerta sempre. Somos atravessados por padrões, vivências e impulsos – e, vez ou outra, escorregamos. Mas o convite aqui é à consciência. Se queremos criar laços mais saudáveis, seja em redes de trabalho ou em conversas do cotidiano, precisamos exercitar o tato e o bom senso. E isso não significa deixar de perguntar, mas saber como e quando perguntar. Afinal, não é só o conteúdo da pergunta que importa – é o cuidado com que ela é feita.
Recentemente, um senhor me perguntou: “Você pensa em ser mãe?”. Diferente da maioria dos questionamentos que recebo sobre isso, aquele foi genuinamente interessado em ter uma boa conversa sobre aquele assunto tão importante. Conversamos sobre a geração atual, os desafios da parentalidade e da educação contemporânea, espiritualidade, entre outros tópicos. Também, essa conversa não terminou em “Ééé, só não pode demorar muito, hein!”, ou “Se quiser, já ta na hora”…
Há perguntas que abrem portas e perguntas que levantam muros. Quando perguntamos “o que você está pensando sobre este assunto?” ao invés de “e aí, já resolveu?”, estamos demonstrando presença. Quando trocamos o “vai ser mãe quando?” por “tem algo da sua história que você gostaria de compartilhar comigo?”, damos ao outro o poder de decidir o que revelar. E esse gesto, por si só, já comunica muito.
Então, que tal nos tornarmos mestres em boas perguntas? Assim como Sócrates fazia, mas com os aprendizados de hoje – misturando sabedoria com empatia, curiosidade com delicadeza. Porque no fundo, boas perguntas são aquelas que não buscam respostas prontas, mas que revelam o quanto estamos dispostos a escutar de verdade.
Até a próxima!
Quer ler mais artigos da Bruna? Clique aqui!
Sobre a autora
