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Dom João Carlos Seneme

Jesus, palavra que liberta

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O texto do evangelho deste domingo (28) de São Marcos constitui o início de uma unidade literária que prosseguirá no próximo domingo. É chamada “jornada de Cafarnaum”. Aqui é apresentada o dia a dia de Jesus, uma espécie de paradigma da atividade profética do Messias no meio de seu povo.

A primeira parte da vida pública de Jesus aconteceu na Galileia, região norte de Israel. O cenário do nosso evangelho é a cidade de Cafarnaum situada às margens do mar da Galileia.  A sinagoga fica a poucos metros da casa de Simão e André, onde Jesus passou a morar depois que deixou a sua aldeia, Nazaré. 

Sábado é um dia sagrado para os israelitas, “dia de descanso como ordenou Deus” (Ex 20,8-11); dia para relembrar as grandes ações de Deus na caminhada com seu povo no intuito de libertá-lo e salvá-lo. Depois da destruição do templo, durante o exílio, os israelitas se reuniam na sinagoga para rezar, ler os livros da Lei.  Tornou-se, então, um lugar de reunião para a liturgia de sábado e interpretação da lei.

Marcos insiste em afirmar que Jesus inicia sua missão em um dia sagrado para os judeus, sábado, num lugar também sagrado, em uma sinagoga, onde ensina como um verdadeiro mestre, com autoridade. É ali que Jesus fala pela primeira vez como mestre. Seu ensinamento revela uma autoridade pessoal, diferente daquela dos outros mestres, e provoca admiração.

De repente a realidade sagrada é transformada pela presença de “um homem possuído por um espírito impuro”. Naquele tempo qualquer doença que alterasse o comportamento das pessoas era considerada como possessão demoníaca. As pessoas afetadas tornavam-se prisioneiras do mal e não podiam mais cumprir a lei. Por isso eram afastadas da vida da comunidade. Acreditava-se que só Deus, com o seu poder e autoridade absolutos, era capaz de vencer os espíritos maus e restituir a vida e a liberdade perdidas.

A presença de Jesus provoca uma reação neste homem: ele grita, tem medo e reconhece Jesus como o Messias, o Santo de Deus. Jesus, então, o intimida e liberta o homem de seu sofrimento com o poder de suas palavras. Com esta atitude ele revela sua missão: a libertação que Deus quer oferecer à humanidade está acontecendo através dele. O Reino de Deus está sendo instaurado pela palavra e ação de Jesus.

Jesus, o profeta, somente com sua palavra é capaz de restituir o ser humano a Deus e a si mesmo, na dignidade e na verdade.

Todo cristão, no batismo, recebe uma unção, que será confirmada na crisma. Graças a ela torna-se filho dos profetas, membro de um povo sacerdotal e real: deverá continuar o papel profético de Cristo. Será testemunha de Jesus e levará a palavra de Deus até o fim do mundo.

A assembleia litúrgica, que se reúne todos os domingos, é uma assembleia que escuta: Jesus profeta nos fala e orienta. Se fôssemos mais disponíveis a ouvir, tomaríamos consciência que a palavra de Cristo continua a nos iluminar hoje. Nossa missão é fazer com que esta palavra se sal da terra e luz do mundo.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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