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Dom João Carlos Seneme

“Senhor, se queres, tens o poder de purificar-me. Eu quero, fica purificado”

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Os lábios e as mãos de Jesus são duas presenças fundamentais nos Evangelhos. Por um lado, há a Sua palavra que inquieta e consola, que anuncia o “evangelho”, a boa-notícia da Salvação, que instiga à conversão, ao seguimento, ao compromisso para a edificação do Reino de Deus. Por outro lado, estão os Seus atos de cura. Jesus se inclina e toca os corpos enfermos, devastados ou inanimados de tantas pessoas que vivem à margem.

O evangelho deste 6º Domingo do Tempo Comum (11/02) relata o encontro de Jesus com um leproso (Mc 1,40-45). Ele se ajoelha diante de Jesus e manifesta a sua fé pedindo que Jesus o “purifique”. Jesus, através de suas ações, revela a soberania de Deus. Diante de Jesus se encontra um homem destruído não somente pela doença, mas pelas consequências que ela traz: impureza, afastamento da convivência social, marginalizado, desprezado. Enfim, ele é o símbolo concreto da morte.

Diante de Jesus, o leproso é humilde, mas insistente, pois o encontro com Jesus é uma oportunidade de libertação que ele não pode desperdiçar. O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” dessa enfermidade que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade de Deus e à comunidade dos homens. Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a superar a sua triste situação de miséria, de isolamento e de indignidade.

Jesus, de outro lado, também rompe a Lei que determina que ninguém pode se aproximar de um leproso, e jamais tocá-lo. O amor de Deus presente em Jesus é mais forte e ele estende a mão e toca aquele homem. Esta atitude revela muito mais que um impulso humano. Jesus é a revelação do amor de Deus e demonstra que aquele homem é amado por Deus e este gesto afetuoso e misericordioso manifesta a vontade de Deus de salvar a humanidade. Ao tocar o leproso, Jesus infringe a Lei. Dessa forma, Ele denuncia uma Lei que criava marginalização e exclusão. Ele revela que a Lei (a religião) deve estar a serviço da humanidade.

Podemos extrair lições profundas dessa narrativa. Em primeiro lugar, somos lembrados da importância da fé. O leproso ousou acreditar que Jesus poderia curá-lo, apesar das circunstâncias desesperadoras. Da mesma forma, devemos manter nossa fé em Deus, confiando que Ele é capaz de curar as nossas feridas físicas, emocionais e espirituais.

Além disso, a atitude compassiva de Jesus nos chama a imitar Seu exemplo em nossas vidas. Vivemos em um mundo repleto de “leprosos” modernos – aqueles que são marginalizados, excluídos e feridos. Como discípulos de Cristo, somos chamados a estender nossas mãos com compaixão, tocar os corações feridos e ser agentes de cura e restauração.

Finalmente, a cura do leproso nos lembra do poder transformador do amor de Deus. Jesus não apenas curou a lepra física, mas trouxe cura completa, restaurando a pessoa como um todo. Que possamos experimentar e compartilhar esse amor que transforma vidas, supera barreiras e nos reconcilia com Deus e uns com os outros.

Que esta narrativa da cura do leproso nos inspire a viver com fé, compaixão e amor, seguindo os passos de Jesus Cristo, nosso Senhor.

Daqui a três dias vamos celebrar a Quarta-feira de Cinzas e iniciar o tempo litúrgico da Quaresma.  Dia de jejum e abstinência. Tempo propício para rever nossas atitudes e direção de nossas vidas; tempo que vai exigir de nós conversão, humildade, silêncio, oração, caridade fraterna como preparação para celebrarmos com alegria uma vida nova na Páscoa.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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