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Elio Migliorança

Apito pra cachorro

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Os adestradores de cães utilizam um apito ultrassônico que emite sons em uma frequência que não é percebida pelo ouvido humano. Desta forma o som só é percebido pelos cães e assim o treinador e as pessoas próximas não ficam incomodadas. Olhando o que está acontecendo neste momento, dá-nos a impressão que o clamor dos brasileiros está numa frequência parecida com o apito pra cachorro, de forma que os governantes não ouvem este grito de alerta ecoando do Oiapoque ao Chuí e se comportam como se vivessem numa ilha da fantasia.

Avizinham-se dias difíceis e por isso é necessário estarmos preparados para que o desastre seja o menor possível.

Estamos no final da colheita da pior safra de soja dos últimos 35 anos nesta região. Uma parte dos agricultores possuía seguro agrícola, o que ajuda a diminuir o prejuízo, mas uma parcela considerável não o possuía e as consequências são visíveis a cada dia nas prateleiras dos supermercados, nas bombas de combustíveis e na fatura de energia elétrica. Contudo, a criatividade da classe política é fantástica, pois ela se comporta como se suas atitudes fossem semelhantes aos “apitos pra cachorro”, em que ninguém vê o que eles fazem ou não entendem o significado das atitudes tomadas nos gabinetes ou nos parlamentos.

A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou na Comissão de Constituição e Justiça e agora vai ao plenário projeto de lei proibindo a exigência do comprovante de vacina em todo o Estado. Nossos deputados estão prestes a decretar a liberdade dos não vacinados para transitarem livremente por todos os ambientes do Estado e infectarem aqueles que encontrem no seu caminho. Os senhores deputados vão tomar uma decisão que até agora era prerrogativa dos médicos e sanitaristas, profissionais que ditavam as regras para proteger a saúde da população.

Por outro lado, o governo federal mostrou-se incapaz de resolver a equação do preço dos combustíveis e passou a bola para o Congresso Nacional. Sim, agora o Congresso Nacional vai debater e regulamentar o preço dos combustíveis. É a certeza de que vai ficar pior do que está, pois esta é uma questão administrativa que deveria ser resolvida pelos respectivos ministérios.

Da Europa nos vem a notícia de que várias comissões governamentais estão catalogando produtos brasileiros ligados ao agronegócio e que podem estar envolvidos com o desmatamento na Amazônia, para futura retaliação.

A questão climática é tratada por muitos brasileiros como se fosse o “apito pra cachorro”; fazem de conta que não acreditam que isso tem tudo a ver com as sucessivas tragédias climáticas Brasil afora, inclusive a histórica seca que estamos vivendo pode ser o sinal da possibilidade de um dia o Sul e Sudeste brasileiros se transformarem num grande deserto.

Será saudável para o nosso futuro próximo prestar atenção em todos estes sinais, planejar o futuro sem acreditar em milagres e nem salvadores da pátria, saber que a classe política sempre joga a seu próprio favor e nós pagamos a conta, cuja prova maior está aí no bilionário fundo eleitoral.

Enquanto tivermos lucidez para discernir entre o bem e o mal, capacidade de nos indignar com as injustiças e coragem para denunciar o malfeito, há esperança de que somos capazes de construir um mundo melhor para as gerações futuras.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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