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Elio Migliorança

Ponto de ruptura

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Há uma curiosa pegadinha contada aos incautos, daquele que se põe a atravessar um largo rio nadando e tendo chegado ao meio conclui que não terá forças para atravessá-lo e resolve voltar. É obvio que se assim fosse, o paspalho terminaria ali sua carreira de nadador. De certa forma, a comparação é para revelar a angustia, já manifestada por muitos, do caminho que estamos trilhando, e que neste momento estamos próximos do ponto de ruptura.

Ponto de ruptura é uma expressão que traduz o momento exato em que ocorre um rompimento, interrupção ou o ponto em que não será mais possível retornar ao ponto de partida. Observando o clima e o ciclo das chuvas nos últimos anos, é perceptível a mudança no comportamento da natureza. Não existe mais a regularidade das chuvas e as estações do ano são percebidas pela data no calendário e não mais pela mudança climática.

Depois que o ser humano conquistou o espaço e nele espalhou centenas de satélites artificiais, as previsões climáticas melhoraram muito e já podemos prever com certa antecedência o comportamento climático. Dentre outras coisas que se confirmaram é que existem os chamados “rios aéreos”, correntes de umidade oriundas da Amazônia e que são responsáveis pelas chuvas no Sudeste e Sul do Brasil. Há décadas os estudiosos do assunto alertaram para o risco representado pelo desmatamento da Amazônia que poderia ser um golpe mortal na pujante agricultura desta região do Brasil.

O desmatamento na Amazônia está atingindo patamares apocalípticos e dentro de pouco tempo chegaremos ao ponto de “não volta”. O estrago terá sido tal que o processo de recomposição da floresta pode levar centenas de anos e provocar a desertificação das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Alguns depositam suas esperanças na intervenção dos países europeus através de sanções comerciais obrigando um controle maior do desmatamento. Puro engano. Os gritos que se ouvem do continente europeu são cenas teatrais que não levam a nada. Sabe por quê?

Madeiras nobres como as retiradas da Amazônia geram riqueza e empregos nos Estados Unidos e na Europa, além de enfeitar as casas dos endinheirados do Primeiro Mundo. Veja o tratamento que as carnes brasileiras recebem dos compradores daqueles países. Dos bois chipados que fornecem carne para exportação, eles controlam tudo, até a cor do cocô do animal, pois a carne brasileira não gera emprego e renda, mas gera concorrência que tira empregos e lucros dos produtores europeus e americanos. Nesta área as exigências são levadas ao extremo. Desta forma, conclui-se que para evitar ultrapassar o ponto de “não volta” da destruição do equilíbrio da natureza nós dependemos só de nós mesmos. 

Nossa região deu um louvável exemplo de engajamento e pressão na queda de braço entre os contribuintes e o governo na questão das novas concessões do pedágio. É questão de sobrevivência das próximas gerações que se faça uma mobilização urgente para estancar a destruição da floresta amazônica, e esta questão não tem uma conotação político-partidária, é uma questão de vida ou morte para a produção agropecuária.

Se nada fizermos podemos estar assinando a sentença de morte das terras mais férteis do mundo. É dali que sai o pão nosso de cada dia.  

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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