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Elio Migliorança

Síndrome do boi sonso

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Os indicadores econômicos dos últimos meses são alarmantes e os indicadores futuros sugerem uma reavaliação de todos os projetos para os próximos anos.

Nossa região sempre foi festejada pelas terras mais férteis do mundo, com clima generoso e chuvas abundantes, ao ponto de sermos vistos como celeiro nacional de proteína animal.

A vizinha Toledo tornou-se destaque por conquistar nos últimos nove anos o maior Valor Bruto de Produção (VBP) agropecuária do Paraná e agora é batizada de “a Capital da produção de alimentos”.

Mas, tem algo no ar mostrando que o clima mudou e para pior. Perdemos as duas últimas safras, uma por geada e a outra por seca. 

Os agricultores que possuíam seguro foram indenizados, mas uma nova safra de soja se aproxima e as seguradoras não sinalizam com a contratação de seguro e, pior, há rumores de que a nossa região está classificada como “área de risco”. Ou seja, as apólices vão oferecer menor garantia com elevação do preço.

Temos um governo que parece andar em círculos, sem controle da economia nacional, com péssimos resultados.

Vejo o Congresso Nacional aprovando uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) por semana, com bilhões de reais sendo destinados para os fins mais esdrúxulos e incompreensíveis, e mesmo assim cai a noite e no amanhecer do dia seguinte saio na rua e as pessoas acham tudo tão normal, que comecei a desconfiar que fui acometido da síndrome do boi sonso.

Olho para os lados e não entendo mais nada. 

O governo decretou estado de emergência, a inflação está crescendo assustadoramente, os custos de produção chegando a patamares inimagináveis, nunca antes na história deste país o óleo diesel na bomba estava mais caro que a gasolina, a energia elétrica tornou-se a despesa de maior volume no processo produtivo de proteína animal, principalmente na avicultura, mesmo que a gente seja dono da maior hidrelétrica do mundo.

Quando no Brasil começou a ser julgado o processo do mensalão, o escândalo era de R$ 470 milhões. Depois veio o petróleo, que era da casa dos R$ 2 bilhões. Mas o governo criou o orçamento secreto no valor de R$ 17 bilhões, que se fosse honesto não seria secreto. Agora aprovou uma PEC, não por acaso chamada de kamikaze, uma referência aos aviadores japoneses que se suicidavam na 2ª Guerra Mundial jogando seus aviões sobre alvos inimigos. No nosso caso, a PEC vai nos levar ao suicídio financeiro, pois criará um buraco sem fundo nas finanças do país, que não por acaso vai explodir em 2023, logo depois das eleições.

Já foi aprovada a autorização para furar o teto de gastos do governo, limite criado justamente para proteger a economia nacional, e agora o Congresso Nacional estabeleceu que o céu é o limite.

Ninguém mais lembra do assalto ao dinheiro público quando foram destinados mais de R$ 5 bilhões para o fundo partidário, e enquanto o povo entra na fila do osso, nossos políticos nadam de braçada gastando horrores e pendurando a conta para ser paga o ano que vem.

Os caminhoneiros vão receber um agrado, que tem data marcada para terminar: o final deste ano.

Há uma guerra em curso e a ameaça de uma recessão global.

Estou como o boi sonso, andando em círculos e me perguntando: afinal, qual é o projeto de país que temos?

Será que os candidatos que vêm aí podem nos esclarecer tudo isso?

Oremos e aguardemos.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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