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Fátima Baroni Tonezer

Adultização infantil e mulheres exaustas: a repetição de ciclos

calendar_month 8 de setembro de 2025
4 min de leitura

No artigo da semana passada, falamos sobre os perigos da inversão que está ocorrendo em nossa sociedade. A adultização infantil gera lacunas emocionais nos adultos, que terão dificuldade de colocar limites e assumir responsabilidades. E aí chegamos num ponto delicado da “padronização” feminina, o “treino” invisível para tornar-se atraente e desejada na prateleira do amor, como bem descreve a psicóloga, professora e pesquisadora da Universidade de Brasília(UnB) Valeska Zanello, no seu livro A Prateleira do Amor (Appris Editora, out/2022).

Valeska usa essa metáfora para explicar a desigualdade  entre homens e mulheres na busca de um relacionamento. E muitas mulheres que hoje se sentem esgotadas, sem energia e sem espaço para si mesmas, viveram, na infância, um processo silencioso e pouco falado: a adultização precoce. Quando uma criança é obrigada a assumir responsabilidades que não condizem com sua idade: cuidar de irmãos, ser o apoio emocional dos pais, silenciar necessidades em nome da harmonia familiar, ela aprende cedo demais que “amar é se anular” e que o seu valor está em servir.

A (I)LÓGICA DO PERTENCIMENTO!

Esse aprendizado se arrasta para a vida adulta. Ela aprendeu que para ser amada, além de ser disponível para cuidar dos outros, deve ser perfeita, magra e linda. A menina “bonita” não corre, não grita, não se impõe. Essa menina que foi elogiada por ser “madura demais” se torna a mulher que carrega o mundo nas costas, que raramente pede ajuda, que se sente culpada quando não dá conta de tudo. É a mulher que se desconectou de si, que não reconhece suas necessidades, que desiste de seus sonhos, não cuida de suas feridas na ânsia de atender os outros e ser amada.

Crescer numa família onde há falta de segurança, cobranças, críticas, abusos físicos, psicológicos e emocionais, além de denunciar a falta de afeto, reconhecimento, acolhimento e segurança, mantém essa criança/mulher em constante estado de hipervigilância, pois aprendeu cedo demais a sobreviver, mas não a viver. O resultado é previsível. Ela cresce sentindo-se culpada por colocar limites, acreditando que deve estar sempre disponível para salvar, acolher e sustentar.

É o que vemos em histórias de figuras públicas como Demi Lovato, com múltiplas tentativas de suicídio, Sasha Meneghel (modelo e filha da Xuxa Meneghel), Camila Mendes (atriz). Antes, casos assim estavam restritos à televisão. Hoje, a tela está no quarto, no celular, e a exposição é constante. A cobrança e a comparação, instantâneas. Quando olhamos ao nosso redor, percebemos situações semelhantes. Mas é difícil olhar para si e perceber esta realidade.

PORQUE SER FORTE NÃO DEVERIA SIGNIFICAR VIVER CANSADA!

A psicologia mostra que essa adultização mina a construção saudável da autoestima e do amor-próprio. Afinal, como acreditar que você merece cuidado se, desde cedo, aprendeu que sua função é cuidar dos outros? Como acreditar que você pode colocar limites sem sentir culpa, que você tem direito a fazer suas escolhas e que isso não é egoísmo?

O resultado dessa modelagem? Mulheres que vivem em constante estado de exaustão emocional, presas na lógica de corresponder, agradar e salvar, enquanto se esquecem de si mesmas. Reconhecer essa raiz é um passo de libertação. Não se trata de culpar a história, mas de compreender que aquele papel de criança adulta, perfeita, não precisa mais ditar sua vida hoje. Você pode, pouco a pouco, dar espaço à sua verdadeira voz, às suas necessidades e ao descanso que sempre lhe foi negado.

Você não precisa ser forte e disponível o tempo todo. Você tem direito a mostrar sua vulnerabilidade e ser respeitada por isso. Ninguém dá conta de tudo o tempo todo. Isto é propaganda enganosa. E quem mostra isso nas redes ou cobra dos outros essa postura, esconde alguma coisa, de si e dos outros. O corpo fala, as emoções denunciam, os sintomas escancaram a verdade. E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.

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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
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